segunda-feira, 13 de maio de 2024

124 sem pé nem cabeça





124


Sorte de quem cai a ficha, tem o insight, compreende emocionalmente a falta que sente, antes inconsciente.


sem pé nem cabeça



Ignorante, me sinto, me limito, na comunicação, às linguagens que reconheço, à fala, ao gesto, ao tom, ao olhar, ao toque, ao cheiro… Tanta comunicação recebo e não percebo.


Sinto, imagino o que vai além, um só sentir, presente aqui, presente ali. Já sei, já sabemos. Neste terno agora, agora eterno, mais que mágico, ausência de tempo, ausências de espaço, de razão e lógica.


Estas comunidades desejadas, aqui, aí, em cada lugar que cada um de nós está, sinto, estão na hora de desabrochar.


Fulano não tem sabido responder esta pergunta. Não tem aposentadoria, se mantém como operário pra toda obra. Faz bem o que aprendeu na vida. Tem sessenta e poucos, sente-se cada vez mais frágil, toma remédios.


Sonhemos, irmã. Um beijo.


Esta, a vida que desejo agora. Não sei se no futuro desejarei o mesmo. Mas construo agora o que agora desejo.


Juntos, somos mais fortes, comunidade fortalece. Agora posso viajar, pousar aqui e ali, enquanto ainda me movimento.


Anoto. Pesquisar quem está nesta mesma procura, comunidades já existentes, experiências que estão sendo vividas, comunidades com gente de todas as idades, participação em movimentos coletivos independentes, redes de apoio, redes comunitárias…


Talvez alguém se lembre, em algum momento, em algum lugar tenha sido assim. Pra desmamar o bebê, a mãe – imagino, sofrida como ela só – passava borra de café ou pimenta no próprio seio. O bebê levava o choque, eternamente marcado. Desmamava. Ficava aquele vazio dentro de si.


A indiferença, o mal-estar, a violência, outros vazios criados no cotidiano do amor ausente. Hoje, como ontem. Agora, como antes.


Inconsciente, o bebê cresce, passa o resto da vida a tentar suprir esta falta que não sabe de onde vem. O poder, o dinheiro como tapa-buraco. E a frustração constante, a permanência do vazio, o inferno em vida.


Sorte de quem cai a ficha, tem o insight, compreende emocionalmente a falta que sente, antes inconsciente.


Como a ostra – arranhada, se fecha, cria a pérola – talvez o talento de um se relacione com o arranhão na alma que, antes, sofreu.


*

Zecaolha no espelho, se traduz. Tenho gostado e muito viver. O corpo tem funcionado bem, me estimula bem dele cuidar e tenho cuidado. Escolhas, eita aprendizado o tal do escolher… Acertou, um espetáculo, hoje, olhar no espelho. Vida boa, esta escolhida.


Zeca não é normal. Aliás, nem sei direito o que é normal, Zeca fala para si mesmo. Sabe, aquilo que sei e nem sei que sei, intuição? Dr. Fritz tinha me dito – e àquela multidão de aflitos – “Acredite em você mesmo!”.


Agora – diferente de antes, de depois – tenho estado meio assim, intuitivo, acreditando em mim. Inclusive quando me identifico com o que outro expressa e me toca. O que me toca, fica. E o que me compõe, em movimento, em outros momentos, comporá outros mistérios. Sinto, intuo ou viajo.


Zeca e eu, como eu e o mundo, nos misturamos em nossas semelhanças. Vou no que me vem. Agora, o que me vem à cabeça, sigo o coração. Lembrei, como há pouco, da fama. Nos sete minutos que vivi com, sofri a decepção de eu não ser o que penso ser, de eu não ser o que o outro pensa que sou. Do outro não ser o que penso é. Espelho puro, isto de eu ver no outro o que desejo ou tenho em mim. E vice-versa.


Obá. Falei de fama pelas identificações que a fama implica. Imagino, quem, triste, canta música triste, triste está. Se a tristeza faz sucesso e fama traz, seu porque talvez esteja nas semelhanças entre fã e famoso. Difícil serem supridas projeções e desejos que a fama alimenta.


*

Temos tanto em comum. Talvez sejamos um, fã e famoso.


*

Talvez seja possível. O gato, como aqueles seres, em outros mundos, se comunicam pelos sentimentos. Nada é falado, dito, tudo é compreendido. Por outro lado, parece, prisão, física, emocional, espiritual, limita fronteiras, interrompe o crescimento do ser. Aqui, escrevo do que não sei.







 

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