sábado, 11 de maio de 2024

126 redes e outros mundos




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Nelas não há hierarquia, dependem da atuação individual, a partir do seu próprio desejo e dedicação. Se há hierarquia, não são redes, são cadeias.


redes e outros mundos



Outro dia. O que eu não percebia, pra mim, nem existia. Parece coisa de doido, isto de conversar com plantas, pedras, animais. A gata da namorada fala comigo. Às vezes, com o olhar, outras com um miar, um roçar. Gosta de mim e eu sei porque sinto, mesmo sem entender direito esta difusa ligação que nos aproxima.


Também sutil tem sido minha percepção das plantas. Quando me animo, teatralizo, procuro conversa. Nossa língua comum, descubro, é a dos sentimentos. E, no meu corpo, arrepios são sinais do que sinto.


Há muito tempo, cheguei a brincar com isto. Uns grãos de feijão num pedaço de algodão, outros grãos noutro algodão. Umedeci os dois. Diariamente, sobrepunha minha mão sobre um, emitia amorosos sentimentos. Sobre o outro, ignorava, indiferente, ou emitia sentimentos odiosos. Passado um tempo, lá estava a diferença. Amor e ódio interferiam em seus crescimentos.


Releio, como se nunca antes tivesse lido, “A Vida Secreta das Plantas”, de Peter Tompkins e Christopher Bird. Publicado no século passado, desvenda resultados de pesquisas e experiências com plantas – na Europa, Estados Unidos e União Soviética. Surpresa atrás de surpresa, outro mundo se descortina.


Tenho, agora, a intuição que os minerais vivem, pulsam. Água, terra, pedra, ar. Quem sabe, se atento, eu, de novo, me surpreenda, outro mundo se mostre.


Tantos mundos, paralelos ao que hoje me limito. Animais, vegetais, minerais e mais. Talvez, todos estes mundos sejam um só, antes não percebia. Talvez, eu mesmo seja um pedaço deste todo e carregue, em mim, um tanto de cada mistério que compõe o todo.


Sei, sinto, as plantas se comunicam entre si, formam redes. Lá estão as raízes a se entrelaçar, a trocarem informações e mais. Não só assim. Também, talvez, animais se comuniquem entre si, como os humanos. Outras línguas, as línguas das vacas, dos insetos, das aves, das amebas, sei lá. Outras redes. Redes das plantas, redes dos animais. E as águas, se adaptam ao que as contêm, se afluem, se misturam, rolam suas pedras, ora gelo, ora gel, ora pasta, ora gás.


Os espíritos, puro mistério, me atraem. Se me entrego, amplio minha respiração, vêm as sensações, sinto o que não sentia, percebo o que não percebia. Cada vez mais, acredito, me permito e vivo. Tudo muito delicado, este aprendizado. Tatibitate, bê-á-bá.


Pelo jeito, o universo, em redes, vive se comunicando.


*

Fecho os olhos e respondo a mim mesmo: o que aqui procuro? O que aqui ofereço? Imagino agora que posso expressar para todos: o que procuro e o que ofereço. Se este canal de comunicação se estabelece entre eu e outros – tendo cada um de nós esta liberdade de comunicação – estaremos em rede.


Sei, imagino que todos sabemos, conhecimento é poder. E compartilhar conhecimento é compartilhar poder.


Aprendi, rede é um esforço individual e coletivo de comunicação, um compartilhamento de informações. Na rede, ausência de hierarquia, presença de iniciativa espontânea de quem participa. Eu praticava redes e não sabia.


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Há tempos, pratiquei redes e escrevi sobre. Redes fazem parte de um processo que pode chegar a transformações individuais e coletivas. Comunicações entre pessoas possibilitam criação de relações, vínculos, confianças, descobertas de interesse comuns – temáticos, territoriais… E trocas, construções de parcerias, realizações de objetivos comuns. Assim se formam capitais sociais.


Trabalhos sociais e comunitários dependem diretamente da participação coletiva, de cada um. Redes espontâneas, por exemplo: uma criança nasce, a tia telefona pra prima, que telefona pra avó, que fala pros netos, que espalham pros amigos… A rede nasce, cumpre sua função, desaparece. E reaparece quando necessária. Muitos agora sabem que a criança nasceu.


São inúmeros os tipos de redes: presenciais, virtuais, fomentadas, redes de redes. Redes são diferentes de cadeias. Redes pressupõem espontaneidade, ausência de hierarquia. Cadeias, não: têm gente que manda em gente. Cadeia de lojas, por exemplo, várias lojas sob o mesmo comando. Redes, por outro lado, são compostas por pessoas que agem de acordo com seus próprios desejos, dedicação, possibilidades, iniciativas, sem hierarquias, sem comandos.


Redes, quando se somam, se multiplicam. Multiplicam de tamanho quando se articulam com outras redes. Por exemplo, quando se comunicam entre si – movidos por interesse comuns – setores públicos, setores privados, movimentos populares.


Facilita a formação de redes presenciais a ausência de discriminação de raça, crença, facção, partido político, ideologia, gênero, sexo… Também um espaço neutro, onde cada participante se sinta à vontade, seja evangélico, espírita, católico, budista, maometano, taoista, ateu, agnóstico, inesperado… Ou negro, branco, mulato, amarelo, albino, pobre, rico, remediado, democrata, liberal, socialista, anarquista, hétero, homo, bi, poli, pan, binário, não-binário e +.


Do que sei, as redes só bem funcionam se há boa vontade, boa intenção. Redes são democráticas. Das que participei, o ambiente afetuoso, o interesse comum facilitava comunicações e vínculos. Nelas não há hierarquia, dependem da atuação individual, a partir do seu próprio desejo e dedicação. Se há hierarquia, não são redes, são cadeias.


Expansões da rede são estimuladas quando disponibilizadas informações básicas – lista de participantes, com telefones, e-mails… – tanto durante os encontros quanto logo depois, virtualmente, pela internet. Mais ainda, se também distribuídos para cada um e para todos os classificados sociais, que são descrições das ofertas e procuras que aconteceram durante os encontros. Os Classificados Sociais e as Listas de Participantes servem para facilitar contatos e intercomunicações.


Tendo estas informações em mãos, depende de cada um a iniciativa de contatar e articular parcerias. E, naturalmente – base para relações humanas saudáveis – vínculos afetivos fortalecem redes.


Práticas de redes podem ser vistas. Registramos, em vídeo, encontros de redes em comunidades populares. Um bom exemplo é o Redes Comunitárias - Vila Aliança – Inteligência Coletiva .


Estão no youtube e no www.luizsarmento.blogspot.com

 

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