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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

068 Coronel Antônio dos Anjos poema de Cyro dos Anjos


Cyro, meu tio-avô, sobre o Antônio dos Anjos, seu pai,
meu bisavô, trisavô de meus filhos, tetravô de meus netos,
tataravô dos bisnetos..

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Coronel Antônio dos Anjos de Cyro dos Anjos (Sob a inspiração de um poema de Carlos Drummond de Andrade) Coronel Antônio dos Anjos, lustre e ufania da Guarda Nacional de Montes Claros, professor, lojista e fazendeiro, vossos quatorze filhos agora somam onze. Nieta, a de mão hábil, ao morrer ainda pintava casinhas da roça e milharais embonecando. Zezé, mano boníssimo, que professava o espiritismo e nos arranjou aquela briga com o Sr. Bispo abriu pelas próprias mãos a porta do Mistério. Depois partiu Pedro, o de bela cabeça, claro engenho, filho doutor em que púnheis tantas esperanças. Os demais continuam firmes, a pequena que nasceu paralítica chegou aos cinquenta e seis anos, e dispõe-se ainda a durar na cadeira de rodas. Contudo, o caçula dos homens com quem gostavas de conversar no caminho da fazenda quase foi embora, teve um pé na Eternidade. Mais ano menos ano segundo a lei da carne estaremos, Coronel, convosco, a ouvir vossos pitos e brabezas. E depois nos queixaremos à Mãe Lolota, a mansa, que dirá: "Sosseguem, rapazes, Antoninho é nervoso, isso não tem importância". Onde estás, industrioso como és, deves ter arranjado outra loja, outra fazenda. (Um amigo meu é fazendeiro do ar e não se tem dado mal no ramo.) De qualquer modo, Coronel, nos arrumaremos no azul e quando nos chamardes, responderemos: "Presente!" como na aula de Mestra Eponina. (Que estas maltraçadas linhas cheguem às vossas mãos por intermédio do oficioso Santo Antônio.)
Gravado por Fátima Oliveira Setúbal Rio de Janeiro Brasil Julho 2014




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