falsas notícias
repetidas, repetidas, repetidas,
dão, ao falso,
vida
*
Às vezes tenho vontade de dialogar com aquela pessoa que fala na Tv. Mas ela não me ouve. Ela só fala e fala. Repete tanta coisa, que acabo acreditando no que me fala. Se não me cuido, acredito mais no que me fala a Tv do que na realidade vivo.
Com o rádio já era assim. O locutor fala, todo mundo escuta. Não há diálogo. Uma pena. Com a revista, também. Com os jornais e mais.
Tenho escutaco menos – e mais criticamente -, tanto os locutores das rádios quanto os apresentadores das tvs. E passei a me escutar mais, a mais acreditar no que sinto e vivo. Tenho sido mais feliz.
Minha realidade é variada. E varia um tanto em função do que alimento. Se fico pensando – alimentando – só desgraças, minha realidade fica desgraçada. Se me cuido e escolho o que me alimenta – pensamentos, palavras, atos – minha realidade passa a ser o que escolho.
Tudo tem sido novo, pra mim como, imagino, para cada um. Nunca vivi o que agora vivo. E, como tudo que é novo é desconhecido, volta e meia estou com medo. Tenho medo do que desconheço. Tenho medo do novo.
Quando faço algo novo é um aprendizado. Tento, tropeço, erro, retento, acerto. A novidade, agora, tem sido a minha consciência do que vivo. É que descobri, novidade pra mim, que vivo somente o que percebo do que sinto. O que não percebo, não vivo. Meus sentimentos, intuo, expressam o que vivo. Devo, então, prestar atenção a meus sentimentos, percebê-los.
Quando presto atenção a meus sentimentos, e percebo o que sinto, vem a curiosidade de saber o que causa, as origens destes sentimentos.
Surpreso, confirmo. Pequenas escolhas que faço antecedem e provocam os sentimentos que me vêm. Estes mesmos sentimentos que, só quando percebo, vivo.
Assim, se ligo o noticiário da tv e da rádio, se leio as manchetes dos jornais e revistas, sinto indignação, raiva, tristeza, impotência. É uma contradição. Às vezes, a realidade ao meu redor me alegra. Mas me entristeço, me enraiveço, me indigno quando – através daqueles jornalistas e locutores e apresentadores de rádios e tvs – fico sabendo de maldades longínquas. Muitas vezes, misturadas, realidades e ficções.
A história sobre a realidade varia, de acordo com o contador. Se duas pessoas assistem ao mesmo fato, as histórias que contarão serão diferentes. Experimente. Também a História muda com o contador.
A História do Brasil, por exemplo, é narrada pelos chamados vencedores. Os contadores contam suas versões da História. Não sei como morreram Getúlio, Juscelino, Jango, Castello Branco, Costa e Silva, Ulisses Guimarães, Tancredo, Eduardo Campos, Teori Zavaski, Marielle Franco. E não sei de outros que morreram e nem soube.
A História dos Estados Unidos, também não sei. Intuo, sinto, que quaisquer informações sobre guerras das quais eles participam me chegam através dos monólogos das tvs, rádios, revistas, jornais. E estes veículos, por exemplo, recebem informações, talvez padronizadas, das agências de notícias – internacionais, nacionais. Agências, que, por sua vez, quando relativas a invasões e guerras externas, talvez recebam informações originais de uma só fonte oficial norte-americana.
Sabemos, o soldado, como quem manda, é responsável pelo que o tiro provoca. O jornalista, como quem manda, também é responsável pelo que a falsa notícia, a fofoca provoca.
Tudo tão, digamos, simples. E, ao mesmo tempo, tão complicado. Desconfio, não confio no que estes jornais, rádios, tvs, revistas me informam. São, a meu ver, tendenciosos. Representam interesses que não são meus nem de muitas outras pessoas.
Sinto, somos, os das gerações próximas à minha, somos os últimos neuróticos. Porque, se psicopata for aquele que faz mal a si mesmo e a outros... e não se sente mal por fazer o mal – não sente culpa – nestes nossos tempos atuais, saímos de cena, nós, os neuróticos, e entram em cena os psicopatas.
Resta a esperança de um fato novo que tudo mude. Um novo Cristo, por exemplo. Ou uma invenção mais forte que o avião, que a internet, que os meios de comunicação. Ou, mistério, fato novo transcendental – uma linguagem dos sentimentos, por exemplo -, algo que provoque emoções que despertem em cada um de nós nosso amor adormecido. E nos extasie.
Lembro, a guerra, a arte da mentira, do engodo.
A paz, a arte do amor.
Luiz Fernando Sarmento
www.luizsarmento.blogspot.com
Rio de Janeiro
Brasil
2023
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