00 Redes Comunitárias - síntese
01 Visão deMundo - Luiz Fernando Sarmento
02 Redes na Prática - Luiz Fernando Sarmento
03 2.000 Parceiros - Júlio Ludemir
04 Redes - Cássio Martinho
05 Redes e Capital Social - Gilberto Fugimoto
06 Redes Comunitárias - Luiz Fernando Sarmento
07 Sonho e Realidade - Luiz Fernando Sarmento
00
Redes Comunitárias
Síntese
A metodologia de redes comunitárias
contribui para a construção da auto-sutentabilidade local.
Foca nos recursos que disponíveis, não nos que faltam.
Basicamente, em roda, cada um – pessoas, representantes de instituições –
fala o que oferece e o que procura em relação a um tema ou a um território.
Depois, quem deseja troca idéias e informações com quem se identifica,
articula parcerias.
Tem dado certo em comunidades de baixa renda e também em redes culturais.
S
Informações simples para quem deseja realizar encontros de redes comunitárias
Necessidades:
Pessoas interessadas
Espaço simples, cadeiras em roda
Opcional:
Café, água
Duração prevista:
1 a 2 horas, dependendo do número de participantes
ê
Redes Comunitárias
Classificados Sociais
As Redes Comunitárias, voltadas para a prática de parcerias,
têm como base encontros comunitários que se realizam uma vez por mês
em Unidades Operacionais do Sesc Rio
ou nos locais onde atuam seus participantes.
Estes encontros facilitam formações de parcerias
entre pessoas ativas de comunidades populares, voluntários autônomos
e instituições formais e informais, públicas, privadas, não governamentais.
De modo simples e objetivo,
cada participante se apresenta e fala do que veio procurar
e do que veio oferecer:
todos têm oportunidade de falar.
E, quando cada um sabe quem é quem,
o espaço se abre para o aprofundamento de relações
e formação de parcerias.
Eventualmente são disponibilizadas para todos os presentes
listas atualizadas com dados dos participantes,
além dos Classificados Sociais - informações sobre ofertas e procuras.
l
Esta nova metodologia inclui
oportunidade de expressão individual para todos participantes.
Os encontros de Redes Comunitárias podem fazer parte do processo
de desenvolvimento integral do ser humano.
l
A metodologia oferecida pode ser adaptada, em princípio,
a quaisquer situações onde pessoas se encontram
em busca de objetivos comuns a uns ou a todos.
As oficinas de Redes Comunitárias
têm a intenção de ser espaço de compartilhamento de conhecimentos,
trocas de informações
e vivência de redes.
Isto para que cada um dos que participam
possa agregar seus próprios conhecimentos
e personalizar sua própria metodologia,
de acordo com suas necessidades e objetivos.
ê
Saiba mais:
______________________
S
Dito de outra forma:
Redes Comunitárias
Classificados Sociais
As Redes Comunitárias, voltadas para a prática de parcerias,
têm como base encontros periódicos
entre pessoas ativas, voluntários autônomos
e instituições formais e informais,
públicas, privadas, não governamentais.
A metodologia inclui oportunidades
de expressão individual para todos
e intenciona contribuir para o desenvolvimento integral para cada participante.
Saiba mais:
Ou:
S
Redes Comunitárias
Classificados Sociais
As Redes Comunitárias, voltadas para a prática de parcerias,
têm como base encontros comunitários que se realizam periodicamente
nos locais onde atuam seus participantes.
Estes encontros facilitam formações de parcerias
entre pessoas ativas de comunidades populares, voluntários autônomos
e instituições formais e informais, públicas, privadas, não governamentais.
De modo simples e objetivo,
cada participante se apresenta e fala do que veio procurar
e do que veio oferecer:
Todos têm oportunidade de falar.
E, quando cada um sabe quem é quem,
o espaço se abre para o aprofundamento de relações
e formação de parcerias.
Esta nova metodologia inclui
oportunidade de expressão individual para todos participantes.
Os encontros de Redes Comunitárias intencionam contribuir para
processos de desenvolvimento integral do ser humano.
Saiba mais:
01
Visão deMundo
Luiz Fernando Sarmento
Visão de Mundo
idéias e movimentos
Aqui, no Visão de Mundo,
um espaço para reflexões indefinidas,
não necessariamente conclusivas.
Então fica combinado
Como sabemos que somos únicos – com nossas histórias pessoais, visões de mundo, jeitos de imaginar-sentir-organizar-fazer-ser-sei lá - talvez caiba cada um editar as informações que seguem, respeitando as regras que cria, em função do que se propõe. Como quase tudo, também aqui quase tudo está fora de ordem e é incompleto em si mesmo.
Pressupomos, se concordarmos, que, em comum, buscamos resultados semelhantes e desejamos para outros – com focos em excluídos – o que desejamos para nós próprios: satisfação, emancipação.
Nesta procura, nos conectamos.
Formamos, como instrumento e meio, redes, redes de redes.
Escrever é cortar palavras, foi Drummond quem disse? Eu próprio não conheço artista – pintor, ator, poeta, prosador, cineasta,... – que considere pronto o quadro que pintou.
Assim, este texto, pela sua natureza, é incompleto. Nele, como em redes – e na vida – cabem intervenções, interações. Os desejosos que corrijam, aperfeiçoem... o caminho não é a meta?
Complexo e simples
Ao invés de ou isto ou aquilo, agora isto e aquilo. À racionalidade é acrescentado o desejo. O espaço, receptivo, se abre para os que pensam, para os que agem, para os que pensam e ativam – pensativistas - para os que sentem e mais. Participação, aqui, implica em movimento e soma, multiplicação.
Consciência, ética, comunicação, parcerias, transformações. Movimentos. Iniciativa individual, no tempo de cada um. Na aparência da doação, a realidade constante da troca. A mão que ajuda é a do coração que recebe. A procura, quando encontro, é a oferta.
Sincronicidade como possibilidade. Intuição como novo sentido. Aparentemente caótica porque incontrolável e sem hierarquias, é a rede. Conexões horizontais, transversais, multidirecionais.
Possibilita o inimaginável - componentes desvendam além da terceira dimensão, multidimensão. Complexa e simples, como o Homem. Razão e desejo e mais. É a rede.
Instrumento
Cenário para comunicações, a rede é virgem. Seus conteúdos são construídos e disponibilizados a partir da auto-inserção voluntária de cada indivíduo – pessoa física, representante ou não de instituições – que a compõe.
O que mobiliza cada participante é o desejo internalizado de compartilhar informações. E a qualidade das informações compartilhadas é função do conhecimento e da ética de quem gera.
Por sua vez, cada informação disponibilizada – se, conscientemente ou não, absorvida pelo receptor – estimula ações efetivas a favor - ou contrárias - das essências de seus conteúdos. A rede, como instrumento, é ignorante, burra. Simplificando, pode ser utilizada para o bem e para o mal. Qualidades a ela agregadas vêm dos conteúdos das informações oferecidas.
Escuto você me escuta
Muitas das metodologias tradicionais dificultam comunicações. Poucos de nós têm paciência para ouvir interessadamente palestras-monólogos, ainda mais quando monocórdicas.
A interação parece ser uma chave. Quando todos têm oportunidade de se expressar individualmente – mesmo num tempo limitado pré-combinado – cada um se sente participante. Especialmente se, ao invés de discriminações, se pratica equalização e demonstração de sincero respeito humano.
Monólogos iniciais – de cada um, incluindo todos – facilitam diálogos posteriores, básicos para construções de parcerias. E quando mais de dois conversam entre si – surpresa! - triálogos, polígolos. Desaparece a babel, comunicações se dão, emergem entendimentos. O boca em boca espontâneo acompanha os desejos.
Pressupostos
Permanecem mistérios quanto a origens primárias – se é que existem – de tudo ou de cada objeto, ação, pensamento... Como exemplo, quando vivenciadas, ausências ou abstrações de tempo e espaço mexem com visões de mundo e provocam decorrências – alterações de comportamentos e mais.
Sabemos, quando permitimos a consciência, que a razão muitas vezes funciona como defesa em relação ao sentir. Inclinam e declinam civilizações, iluminados e pensadores e cientistas têm-se dedicado a estas questões – de onde viemos, ser ou não ser, para onde vamos.
Jogo rápido: Platão, Sócrates, Aristóteles, Giordano Bruno, Shakespeare, Da Vinci, e mais recentemente Freud, Jung, Reich, Ghandi, Rajneesh, Khrisnamurti, Bergman, Fellini, Morin, Capra, Maturama. E mais próximos, Lennon, Vinícius, Jobim, Veríssimo, De Masi, Freire Costa, Caetano...
A consciência – quem vivencia, sabe – facilita mudanças. Enquanto isto, com todas nossas limitações, percebemos em nós mesmos – quando nos permitimos – que nossas ações são precedidas pelos nossos sentimentos. A emoção precede a razão.
O comportamento de cada um de nós é influenciado por nossas emoções - atuais e passadas. E conhecer e reconhecer causas de nosso comportamento atual, parece claro, facilita e estimula transformações individuais.
Livre associação
Se não me permito, a outros inibo. Só dá quem tem. Entre a intenção e o gesto, o que impede é mistério. Tantos caminhos, tantas as pessoas. Transformações sociais, somas de transformações individuais? O ser humano individual como base? Aqui o foco?
Pequenos prazeres – o arrepio, o frescor, este fogo, aquele olhar, ai-meu-deus-só-de-lembrar, a brincadeira, o insight, o descanso, o banho, a comida, encher o peito, pele macia, o afeto, solidariedade, o alívio. Pequenos prazeres, a gente esquece. Tão simples, tão perto, um gesto...
Aparente bagunça
Desorganizado internamente, quero tudo certinho, limpinho, arrumadinho. Já alguma lucidez me traz compreensão. São fluxos: o caos precede a ordem que antecede o caos. Equilíbrios diferentes.
No tantra preservo o ching – o ki? -, interrompo um fluxo e internalizo outro. Nas redes de meus pensamentos se conectam lembranças. Ausentes espaços - se fundem com meu pulsar - e ausentes tempos – futuro, passado, agora se confundem: inexistem desordem e ordem.
E de novo tudo se inverte, existe agora, existe lugar, já sou eu separado do mundo procurando me re-integrar. Tudo isto, a gente sabe, é só outro ritmo de respirar.
Mas vamos parar com isto e fazer o que de mim meu redor espera. Se divago, sonho. Se sonho... Mas o sonhar não antecede toda realização?
No quarto de brinquedos
Quem beijou, beijou. Quem não beijou, beijará jamais? Beija! Beija! Beija! Beija já! Quando você escolhe o médico, escolhe o tratamento. Se você vai o cirurgião, ele vai fazer o que? E o homeopata, o pai-de-santo, o psicanalista? E nós? Somos dos que cuidamos dos sintomas – e tome aspirina – somos dos que cuidamos das causas?
De longe se vê mais tudo. De perto se vê mais fundo. De longe, um sistema. De perto, práticas. Vamos pela aparente ordem. Eu sou você.
Close
A história pessoal a gente imagina, se não conhece: anterior à fecundação, mistério. Já na gestação, o estado emocional da mãe interfere no estar do filho.
Do ponto de vista do feto, um maremoto antecipa o parto, o que me espera do outro lado deste inconsciente paraíso? Se cesária, é ferro. Se minha mãe se entregou aos reflexos, ao invés de dor, prazer. Se recepção afetuosa, pulo pro colo, volto ao meu mundo que conheço, nestes primeiros momentos em espaço estranho.
Se recepção neurótica, me viram de cabeça pra baixo, batem na minha bunda, espetam meu pé, me enrolam em panos, me isolam no berçário, vislumbro gente do outro lado da vitrine, sinto medo e medo e em defesa me contraio. E choro e choro e meu choro não é compreendido. Quero mamãe. Um vazio dentro de mim.
Nós
Se você, neste momento, não sou eu, parabéns pra você. Mas se você é comum, como eu, prepare-se. Intercalado aos prazeres – às vezes menos ou mais – a turma do não é bem maior. Aproveite os bons momentos: serão lembranças.
Eu
Mamo. Com o olhar procuro mamãe neste momento de prazer, mas mamãe não suporta, desvia a atenção. Olho então pro teto, estrabizo, me míopo. Entre poucos sins, minha família, os vizinhos, professores, patrões, meus colegas de infância-adolescência-trabalho - em gestos, palavras - me dizem não e não. Tudo que aprenderam a não se permitir, me ensinam. Não bote a mão aí, não chore, não grite, este prazer não. Outros vazios.
Cultura pesada
Mandamentos, leis normatizam o que devo ser. Se transgrido, o castigo - se não vier agora - virá depois da morte. Tento e tento cumprir as normas. Exame de consciência, arrependimento, confissão, penitência. Volto, em estado de graça, a ser comedido.
Associo prazer a castigo.
Não me permito o amor.
Insuportável, a alegria.
Consigo um pouco seguir as leis. Fraquejo, transgrido de novo e repito o ciclo. A moral – moralismo? – toma espaço da ética original. Internalizo a repressão. Meu corpo traduz o que estou. E, guerrilheiro de mim mesmo, como uns docinhos aqui, um prazer solitário ali, construo minhas verdades.
Supro meus vazios emocionais com os objetos que agora desejo. Me engano que gosto. Farinha pouca meu feijão primeiro. E, paralelo, se eu não posso, porque eles? Meu umbigo é do meu tamanho. Nada vejo em volta além de mim. Um tanto assim, mais ou menos, sou um homem comum. Quadro pintado preto, a realidade me salva com seus tons cinzas.
Abstração
Tiro então o bode da sala. Minha vida é melhor que esta paisagem. Olho no espelho, satisfeito comigo. Minha vida, em espiral, intercala equilíbrios nos meus movimentos. Hoje melhor que ontem. Meu humor é minha referência, me qualifica. O sorriso que esboço se faz espelho em quem recebe.
Escolho quem sou. Minha vida é cada canal que escolho. Em cada momento decido o que vivo. Exercito o prazer, ganho espaços, fujo dos chatos, estimulo os frágeis. Tudo funciona como reflexo de mim. Sou responsável pelo que sou. Só posso reclamar ao espelho.
Como gente, reflexo tem de tudo. Retrata quem está bem, mal, mais ou menos. Reproduz em duas dimensões a realidade. Abstraio tudo acima. Cada um tem sua história, seu retrato, seu espelho. Abro a lente, amplio.
Olho ao redor
Montes de pessoas. Alguns passam ao meu lado. Um ou outro se sobressai. Na maioria, sérios. Uns tensos, outros calmos. Uns assim, outros assado. No chão, largados, cada vez mais dois vezes dois. Acostumo, nem vejo quando não quero. E crianças com aquele olhar e tom de voz: ei tio, me dá? Isto aqui, na vanguarda do Brasil.
Nos favelas uns sons de tiros, os silêncios que inocentam quem não fala. Quem cala, não falha. Medo. Nem em mim mesmo confio. Nos subúrbios se não igual semelhante. Legal ou ilegal, a droga muda o real. Se não droga, consumo. De tão conservador de tudo, incho, engordo. Enfezo.
Sem graça
As piadas denigrem alguém. Rio do outro, da desgraça do outro. Pegadinhas são falsas delícias. Rio de mim, não lembro que o outro sou eu. Mais que tudo da programação da TV são filmes. A maioria, violência pura. Bandido caça mocinho que caça bandido, como se em cada um de nós não residisse um tanto de cada um.
Como no cinema, me divirto com a violência. Maniqueísmo, coerente com visões de mundo limitadas. Venda e compra de produtos e serviços desnecessários movimentam a economia. Alimentam ciclos viciosos, ignorância como fonte de si própria. Aqui procuro suprir vazios que acumulei e acumulo.
Retiro agora estes óculos escuros. Caio na rede.
Luzes ao lado
Vejo, neste enorme palco, outras cenas. Que que aquele pessoal está fazendo ali? Oba! É a turma do sim. Sim ao que enleva, embevece, enobrece, engraça, estimula, acalma, acalenta, amorece. Esboço um sorriso, recebo outro de volta. Me enredo. É outro o ciclo. Virtuoso?
Práticas
Redes se formam a partir de interesses comuns.
02
Redes na Prática
informações para você começar
Luiz Fernando Sarmento
versão 101103
S
Aqui, primeiras informações sobre uma metodologia de redes comunitárias. Focada no que se tem e está ao alcance - não na falta - intenciona facilitar articulações e parcerias entre quem oferece e quem procura. Sua aplicação depende basicamente do gesto de cada um que a deseje utilizar.
S
os ouvintes querem falar
Todos sabemos que há gente procurando e oferecendo de um tudo. Quando se encontram e se entendem, se suprem.
Quando não sabem um do outro, oportunidades desaparecem.
Início do milênio, fórum Transformações Sociais – O que Pode dar Certo, palestrantes experientes numa mesa, trezentas pessoas na platéia. Nem mesmo falas interessantes interessaram aos presentes. Em menos de uma hora, evasão, já somente sessenta ficaram.
Levamos o microfone ao público. Agarram: “o governo não presta...“. Muita gente na fila, todos querem falar. Peraí! Seja objetivo por favor:
o que você veio procurar aqui? O que você veio oferecer?
Dois minutos para cada um.
encontros
Pronto, surgiu o jeito, a metodologia.
Convidamos quem se interessasse para uma primeira conversa, juntos. Em roda, os tratos iniciais - aqui, neste momento, somos iguais em direitos e deveres. Sem palestra nem eventos, só as falas individuais... Cada um sintetiza quem-é-ou-se-representa-uma-instituição, o que procura, o que oferece. Tempo limitado, um-dois-cinco minutos, dependendo de quantos estão presentes.
Depois que todos falam, os interessados se deslocam para o café.
E, ao redor da mesa, cada um aprofunda a conversa com aqueles
por cuja oferta-procura se interessou.
Trocam informações, idéias, se conhecem. Constroem parcerias.
Base das Redes Comunitárias, os encontros são
voltados para a prática de parcerias
entre comunidades populares
e instituições privadas, públicas
e do terceiro setor.
De modo simples e objetivo,
cada representante se apresenta
e fala o que veio procurar
e o que veio oferecer.
Todos têm oportunidade de falar e ouvir.
E, quando cada um sabe quem é quem,
o espaço se abre para o aprofundamento de relações
e formação de parcerias.
Bom problema: é uma dificuldade comum
falar objetivamente o que procura, o que oferece.
informações para todos
Cada um deve escrever em três poucas linhas:
o que oferece, o que procura, nome-telefone-endereço-instituição.
E se já realizou ou está realizando alguma parceria.
Estas informações serão digitadas, impressas, multiplicadas e distribuídas a cada um presente ao próximo encontro.
Podem também ser enviadas - para os que as desejam - por e-mail
e talvez incluídas num site como Classificados Sociais.
De forma semelhante serão elaboradas e compartilhadas
Listas de Participantes – acumuladas a cada encontro.
Os Classificados Sociais e as Listas de Participantes são informações básicas, fundamentais na formação de redes: servem para facilitar contatos e intercomunicações. Tendo estas informações em mãos, depende de cada um a iniciativa de realizar parcerias.
1o recreio: e eu com isso?
Dentro do meu poder e competência, que posso fazer? Lembro Tom Jobim: Democracia é muito bom. Lá em casa praticamos todo dia.
E Cacilda Becker: Não tenho tempo a perder. Só luto a favor.
Ou Caetano Veloso: Só quero saber do que pode dar certo.
E Betinho, com a história do beija-flor levando a gotinha d’água:
é sua contribuição para apagar o incêndio.
E Edgar Morin, intervindo numa cultura secular:
ao invés de isto ou aquilo, agora isto e aquilo.
Isto e aquilo é rede.
E, só para criar um clima, Laing, direto no coração:
Mamãe me ama.
Eu me acho bom.
Eu me acho bom porque ela me ama.
Eu sou bom porque me acho bom
Eu me acho bom porque sou bom
Mamãe me ama porque sou bom.
Mão não me ama.
Eu me acho mau.
Eu me acho mau porque ela não me ama
Eu sou mau porque me acho mau
Eu me acho mau porque sou mau
Eu sou mau porque ela não me ama
Mamãe não me ama porque sou mau.
as redes
Nos encontros a gente se vê, se fala, chega perto, se conhece.
Ali vínculos se formam, relações se fortalecem. Naturalmente surgem temas de interesse comum: renda, saúde, alimentação, transporte, educação... Ou, em comum, o interesse por áreas específicas: uma comunidade, uma favela, um bairro... O que dá oportunidade para busca de soluções conjuntas: parcerias entre 2 ou mais interessados.
Na medida em que os interessados se organizam,
ficam mais próximos os acessos a recursos de pequenos, médios ou grandes portes - financeiros e outros. E os acessos a assentos em conselhos diversos, municipais, estaduais, federais
- que, por sua vez, interferem em políticas públicas.
Quem se encontra
Em princípio, pessoas e instituições interessantes e interessadas.
Do 1o setor, organismos públicos. Do 2o setor, empresas privadas.
Do 3o setor, organizações de interesse público sem fins lucrativos, formais ou informais - ongs, instituições religiosas, educacionais, de comunicação, associações, cooperativas, grupos, movimentos... Além de pessoas físicas, voluntárias individuais.
Em alguns encontros de redes comunitárias têm participado representantes de instituições voltadas para a organização comunitária – (in)formação de cidadãos, elaboração de projetos, captação de recursos e gestão de realizações.
Também - como apoio e base para o desenvolvimento integral individual e coletivo - têm participado profissionais e representantes de instituições voltadas para o conhecimento de si mesmo
e para as relações interpessoais.
As redes funcionam melhor quando, uma vez indicados problemas - procuras, só se fala objetivamente sobre soluções - ofertas.
redes de redes
As redes multiplicam de tamanho quando se articulam com outras redes. Por exemplo, quando movimentos populares já organizados voltados para o bem estar social participam igualmente dos encontros - Ação da Cidadania, Clubes de Serviço: Rotary, Lions, Elos..., Pastorais... Imagine mais...
eficiência, eficácia, efetividade
Se você chega a um encontro de redes, parabéns pela eficiência.
Se no encontro você realiza parcerias, viva sua eficácia.
E se as parcerias permanecem, dão frutos, que beleza, efetividade.
Melhor - muito mais - se, em tudo, a afetividade está presente.
Assim, aqui. Fui eficiente, vim. Eficaz quando articulo e realizo parcerias. E as parcerias se tornam efetivas quando frutificam.
Mas poderia ter sido somente eficiente na minha viagem:
fiz bem a mala, comprei a passagem, cheguei aqui.
Mas não ser eficaz porque aqui não articulei, não conversei
não criei relações e parcerias.
Nem ser efetivo,
uma vez que saísse daqui sem possibilidade de resultados.
2o recreio: vamos?
Década de sessenta, século passado, Londres.
Ao invés de eletrochoques nos diferentes,
Ronald Laing os acolhe afetuosa e psicanaliticamente.
Nasce a antipsiquiatria.
Anota, publica. Como Laços, que contém:
Era uma vez um menininho chamado de Lúcio
Querendo ficar o tempo todinho com sua mãezinha
Temendo que ela o deixasse sozinho
Quando o menininho ficou maiorzinho
Quis fica longe de sua mãezinha
Agora temendo que ela quisesse
Ficar junto dele o tempo todinho
E ficando crescido Lúcio amou Lúcia
E queria estar com Lúcia o tempo todinho
Temendo que Lúcia o deixasse sozinho
Quando Lúcio cresceu ainda mais
Não quis mais ficar todo tempo com Lúcia
Ele tinha ficado com medo
De que ela quisesse ficar todo o tempo com ele e
De que ela tivesse ficado com medo
De que ele não quisesse ficar todo o tempo com ela
Lúcio leva Lúcia a temer que ele a deixe
Porque Lúcio teme que Lúcia o deixe.
Enquanto isto aqui Nise da Silveira criava oportunidades de expressão para os aqui diferentes. Nasce o Museu do Inconsciente.
E Dragotto na Itália estimula a volta à sociedade dos manicomiados...
Cada um deles contribuiu para que todos nós, também diferentes, possamos estar hoje criando nossos próprios movimentos libertários.
planos
O que, por que, como, quando, quem, onde, quanto?
As respostas a estas perguntas são primeiros passos para a realização. Os seguintes, captação dos recursos, formação de parcerias, preparação, realização das ações.
Depois, avaliação e compartilhamento de novos saberes.
Planejamento é um salto - da intenção em direção ao gesto.
cidade de deus
Como aprendizado de desenvolvimento de territórios,
merece estudo e acompanhamento a experiência de realização do Plano para o Desenvolvimento Comunitário da Cidade de Deus.
Sua elaboração se deu a partir de informações e desejos de seus moradores, assessorados por técnicos de planejamento e relações interpessoais – que por sua vez foram disponibilizados inicialmente por empresários e ongs, logo depois, também por órgãos públicos.
Na intenção de colocá-lo em prática,
chamam a atenção alguns resultados da soma de recursos
da comunidade, do empresariado e do setor público.
Há o que deu certo, o que não deu. Deve-se considerar que tanto a elaboração quanto as realizações têm se tornado possível a partir também de comunitários organizados. E da disposição dos mais favorecidos em participar, compartilhar conhecimentos e recursos.
informações sintéticas
Os encontros de redes são considerados como fase de um processo.
A expectativa é que, na medida em que são criados
e fortalecidos vínculos entre os que participam,
sejam identificados interesses comuns – temáticos ou territoriais.
E, uma vez disponibilizados os conhecimentos necessários à organização,
estes com interesses comuns possam ter acesso
tanto a recursos nacionais e externos quanto a poderes públicos,
através de participações em comitês e conselhos
municipais, estaduais e federais.
Participam dos encontros das Redes Comunitárias
- sistemática e focadamente - parceiros institucionais com experiência
em organização comunitária e relações interpessoais.
3o recreio: filósofos
Luiz Gonzaga, no século passado, cantava:
Seu doutor não dê uma esmola
Para um homem que é são
Ou lhe mata de vergonha
Ou vicia o cidadão.
E Milton Nascimento: todo artista tem que ir onde o povo está.
E Chico Buarque: o que será que será
que dá dentro da gente à revelia?
E Gilberto Gil: se eu quiser falar com Deus...
... a alma e o corpo nus...
E Sócrates: conhece-te a ti mesmo.
Todos, em comum,
estimulam insights, sabedorias, reflexões.
redes paralelas
Enquanto muitas redes facilitam especificamente formações de parcerias, outras cuidam também de reflexões.
Assim é com o Movimento Emocional e Transformação Social.
O METS é um encontro não conclusivo, interativo, reflexivo, onde todos e cada um têm tempo e espaço para compartilhar idéias e informações. Ali se encontram quem articula desenvolvimento emocional como base para desenvolvimento humano integral.
Redes se formam a partir de interesses comuns.
Já em articulação as Redes Produtivas Populares, que reúnem instituições diretamente interessadas em trabalho e geração de renda. E, paralelamente, as Redes Produtivas Estratégicas, focadas em instituições que se propõem refletir, gerar e articular políticas públicas voltadas para o bem estar coletivo.
Associações de moradores vêm experimentando metodologias de redes, onde todos os que participam têm oportunidade de se expressar. Há tendências de expansão de redes também em órgãos e municípios administrados com participação popular.
Por outro lado, há interessados em formar Redes de Comunicação, que incluem tanto reflexões sobre meios e conteúdos quanto criação de condições para formação de agências de notícias construtivas – o que dá e o que pode dar certo –
especialmente as provenientes de instituições de interesse público sem fins lucrativos
que compõem o chamado 3o setor.
As possibilidades, aventadas, imaginadas ou desconhecidas, são muitas e variadas.
Dependem de interesses comuns e de iniciativas individuais e coletivas.
É simples: a qualquer momento novas redes podem ser formadas por quem deseje – quando se reúnem pessoas interessadas e interessantes que, democraticamente compartilham ofertas e procuras em benefício de muitos.
informações simples
Para quem deseja realizar encontros de redes comunitárias:
Necessidades:
Pessoas interessadas
Espaço simples, cadeiras em roda
Opcional:
Café, água
Duração prevista:
ê
Redes Comunitárias
Classificados Sociais
As Redes Comunitárias, voltadas para a prática de parcerias,
têm como base encontros comunitários que se realizam uma vez por mês
em Unidades Operacionais do Sesc Rio
ou nos locais onde atuam seus participantes.
Estes encontros facilitam formações de parcerias
entre pessoas ativas de comunidades populares, voluntários autônomos
e instituições formais e informais, públicas, privadas, não governamentais.
De modo simples e objetivo,
cada participante se apresenta e fala do que veio procurar
e do que veio oferecer:
todos têm oportunidade de falar.
E, quando cada um sabe quem é quem,
o espaço se abre para o aprofundamento de relações
e formação de parcerias.
Eventualmente são disponibilizadas para todos os presentes
listas atualizadas com dados dos participantes,
além dos Classificados Sociais - informações sobre ofertas e procuras.
l
Esta nova metodologia inclui
oportunidade de expressão individual para todos participantes.
Os encontros de Redes Comunitárias podem fazer parte do processo
de desenvolvimento integral do ser humano.
l
A metodologia oferecida pode ser adaptada, em princípio,
a quaisquer situações onde pessoas se encontram
em busca de objetivos comuns a uns ou a todos.
As oficinas de Redes Comunitárias
têm a intenção de ser espaço de compartilhamento de conhecimentos,
trocas de informações
e vivência de redes.
Isto para que cada um dos que participam
possa agregar seus próprios conhecimentos
e personalizar sua própria metodologia,
de acordo com suas necessidades e objetivos.
ê
formação de novas redes
Na intenção de facilitar a realização de encontros voltados para interesses coletivos, relacionamos abaixo alguns lembretes, naturalmente adaptáveis a cada realidade.
Com o sinal * os lembretes que consideramos talvez essenciais.
30 dias antes de um encontro
Estruturação
01 levantamento de parceiros potenciais para co-produção
02 Distribuição de tarefas entre os responsáveis pela produção
03 * Identificação do público desejado: pesquisa de
potenciais participantes dos encontros:
. representantes de comunidades,
instituições públicas - municipais, estaduais, federais -,
organizações não governamentais,
empresas privadas.
. exemplos:
universidades, escolas de ensino médio e primário,
creches, secretarias, ministérios, postos de saúde,
hospitais, instituições religiosas...
Bancos privados, instituições de crédito popular, CEF,
BB, FINEP, BNDES, FIA, COMLURB, Leão XIII, SESI,
SEST SENAT, SENAC, SENAI, SEBRAE, CEDAPS,
CIEDS, IBASE, ISER, Viva Rio, Rio Alimentos, Rio
Voluntários, incubadoras, conselhos municipais,
estaduais, federais, regionais ...
Pequenas, médias e grandes empresas
de transportes, comunicação, alimentação...
Associações voltadas para interesses coletivos:
as de moradores, as profissionais...
os clubes de serviço – Rotary, Lions, Elos...
Movimentos populares: Ação da Cidadania...
04 * definição de datas
05 * definição e produção de local
06 * definição de responsável/mediador do encontro
07 * definição produção dos recursos necessários para
cada encontro, inclusive de materiais – café, água –
e equipamentos, se realmente necessários.
21 dias antes do próximo encontro
01 * elaboração de convite-básico
02 * envio de convites: e-mail
envio de convites: correios
por telefone, convites
realização de convites: pessoalmente
03 pesquisa e identificação de textos especiais, estimulantes de reflexões
04 * criação e reprodução de folha de presença,
que servirá de base para atualização
da Lista de Participantes
05 * criação e reprodução de cadastro - que servirá de
base para a elaboração dos Classificados Sociais.
Deve incluir espaços para:
a) nome do participante-instituição-se-houver
b) seu email-telefone-endereço
c) o que oferece
d) o que procura
e) parcerias realizadas.
06 * reprodução da Lista de Participantes,
atualizada até o encontro anterior
07 * reprodução dos Classificados Sociais,
atualizados até o encontro anterior
08 reprodução textos especiais para distribuição
09 reprodução crachás, se tiver...
...ou produzir auto-adesivos e canetas
10 montagem de kits para distribuição
*. Classificados Sociais atualizados
*. Lista de Participantes, atualizada
. textos especiais
. Papel e lápis
11 *solução para café-água simples ou lanche
12 articulação com representante de instituição experiente
em assessorar elaboração de projetos, captação de
recursos e realização
13 articulação com representante de instituição experiente em facilitar relações interpessoais
07 dias antes do próximo encontro
reforço de convites, das formas que forem necessárias
* articulação d presenças efetivas de participantes
no dia do encontro de redes
coordenação o encontro
01 * preparação do local
02 * orientação da portaria sobre a chegada
de participantes + simples
03 * checagem do espaço, cadeiras, café-lanche, textos...
04 * recepção de participantes
* identificação individual:
preencher crachá ou auto-adesivo
05 * formação de pequenos grupos, em círculos,
para facilitar integrações iniciais
06 * formação de grande roda para iniciar a formação
de redes - com as apresentações individuais,
suas ofertas e procuras
07 * combinar tratos com todos os presentes:
ä Em roda, de forma que cada um possa ver todos
ä Somos todos iguais
ä Acolhimento a cada um que chega depois
ä Objetividade: quem sou, o que ofereço, o que procuro
ä Limitação de tempo para fala de cada um
ä pauta do encontro, esclarecimento
a fala de cada um
aprofundamento de relações durante o café
formação de parcerias agora e depois
* cadastro Classificados Sociais,
orientação sobre preenchimento e entrega
* preenchimento lista de presença (participantes)
informação sobre data, hora, local
do próximo encontro de redes
08 * distribuição de Lista de Participantes,
atualizada até o encontro passado
09 * distribuição de Classificados Sociais,
atualizados até o encontro passado
10 * distribuição de textos especiais
04 dias após o último encontro
01 * atualização de Lista de Participantes,
inclusão de dados coletados no último encontro
02 * atualização de Classificados Sociais,
inclusão de dados coletados no último encontro
03 * atualização da mala direta
04 agradecimentos
S
outras metodologias
Tenho focado atualmente com cinco metodologias. Três delas – Redes Comunitárias, Rodízio Criativo e Agências de inFormações – frutos de nossos insights e experiências. Outra, AutoHemoterapia, recuperada por Dr. Luiz Moura. E a Terapia Comunitária, criada por Dr. Adalberto de Paula Barreto.
A metodologia das Redes Comunitárias
facilita articulações de parcerias
entre quem oferece e quem procura.
É focada no tem, não na falta.
A metodologia Rodízio Criativo proporciona,
a trabalhadores, conhecerem sua instituição
e oportunidades de se desenvolverem
pessoal e profissionalmente.
A metodologia das Agências de inFormações
contribui para a diversificação de conteúdos
de meios de comunicação. Amplia fontes.
A metodologia da Autohemoterapia
possibilita a multiplicação da resistência imunológica de uma pessoa,
utilizando seu próprio sangue.
A metodologia da Terapia Comunitária
estimula solidariedades, evita adoecimentos:
“quando a boca fala, o corpo cala > sara”. WWW.abratecom.org.br
S
A aplicação de cada uma destas metodologias
depende basicamente do gesto de cada um
que a deseje utilizar.
Saiba mais:
03
2.000 Parceiros
Júlio Ludemir
Dois mil parceiros
Júlio Ludemir
Não foi à toa que o jornalista mineiro Cássio Marinho, o maior estudioso do fenômeno das redes sociais, incluiu as Redes Comunitárias do Sesc Rio de Janeiro no relatório que apresentou no ano passado ao Instituto C&A, que deu subsídios para o desenvolvimento de diretrizes e estratégias do seu Programa de Redes e Alianças. Somente a Rede do Senac São Paulo e a da Fundação Avina mereceram a mesma atenção desse homem que vem estudando as redes sociais desde que a Constituição de 1988 redesenhou as relações entre a sociedade civil e o poder público.
Os maiúsculos números obtidos pelas Redes Comunitárias do Sesc Rio de Janeiro desde que essa tecnologia social foi implantada na unidade de Ramos, em 2002, justificam plenamente o interesse de quem já estudou os resultados obtidos pelas redes em campanhas históricas como a que transformou o sociólogo Betinho em um herói nacional em meados da década de 1990 e a que culminou com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente: nada menos que 2 mil instituições dos três setores da economia usaram as reuniões mensais promovidas mensalmente em 10 unidades do Sesc para costurar parcerias envolvendo pelo menos 500 tecnologias sociais. Vale lembrar que 300 dessas instituições atuam no Complexo do Alemão, a área mais conflagrada do Rio de Janeiro.
Um calhamaço de 97 páginas com os contatos e uma síntese do que essas instituições têm para oferecer para as camadas menos favorecidas da população é um patrimônio expressivo e de muitas utilidades para os membros das comunidades e outros atores. O UNICEF, instituição da ONU responsável pela garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, por exemplo, contou com a rede já formada para convidar seus diversos membros para participar da Plataforma dos Centros Urbanos, uma iniciativa piloto que se bem sucedida pode ser implantada em escala mundial. “Nossa iniciativa usa essa metodologia participativa”, compartilha Luciana Phebo, coordenadora do escritório do UNICEF para o Rio de Janeiro e Espírito Santo. Luciana Phebo e os técnicos do UNICEF visitaram as reuniões promovidas nas unidades do município do Rio de Janeiro para convidar os membros das redes comunitárias para participarem da Plataforma. "As comunidades fazem parte das soluções dos centros urbanos. Não adianta contar apenas com parte da sociedade, por mais que seja poderosa política ou economicamente. É necessária a participação de todos para promovermos as mudanças que desejamos", afirmou Luciana nos encontros das redes comunitárias.
A Assessoria Comunitária teve também uma forte participação na construção da metodologia da Plataforma do UNICEF. Segundo Luciana, essa metodologia foi construída de forma participativa e dialogada com diferentes atores da sociedade carioca – adolescentes, líderes comunitários, organizações sociais, empresas, universidades, formadores de opinião e representantes do Governo. Segundo ela, a Assessoria Comunitária do SESC tem um acúmulo de conhecimento e prática que contribuiu em diversas fases da construção da metodologia. Em muitos momentos, os equipamentos do SESC foram palco da construção, hospedando esses diversos representantes para o diálogo. A Assessoria Comunitária atuou também como interlocutora desses momentos.
Um dos cases mais bem-sucedidos das Redes Comunitárias foi o Plano de Desenvolvimento Comunitário da Cidade de Deus, uma costura que envolveu universidades, instituições patronais, bancos públicos e organizações locais cujos rebentos mais visíveis foram a constituição de uma agência de desenvolvimento local e a construção de 618 unidades habitacionais financiadas pela Caixa Econômica Federal na área mais pobre da favela em um momento em que o tráfico de drogas travava uma sangrenta guerra com as milícias pelo controle do território. Na mesma época, a Assessoria Comunitária foi procurada pela Incubadora Afro-brasileira a fim de atrair os 1.531 candidatos com renda per capita entre R$ 250 e R$ 500 que disputaram as 450 vagas de que dispunha para investir R$ 1 milhão da Petrobrás em afro-empreendedores. “Quando anunciamos o edital nos jornais, apenas os afro-empreendedores das áreas mais privilegiadas da cidade responderam”, confessa Giovanni Harvey, o diretor da Incubadora Afro-brasileira.
A rede que conseguimos formar, que se estende de entidades patronais a universidades públicas, passando por ongs internacionais e fomentadores de projeto, também foi mobilizada para dar escala à atuação do Centro Comunitário História que eu Conto, que até dois anos atrás era uma precária biblioteca dentro de uma escola municipal invadida e no último dia 13 de setembro recebeu das mãos do prefeito Eduardo Paes uma cessão de direito por dez anos para que o único equipamento cultural do complexo Senador Camará/Vila Aliança possa continuar oferecendo oficinas de teatro, grafite e dança de salão, bem como renda para as costureiras de sua estamparia, perspectiva de vida para as famílias que participam das grandes rodas de terapia comunitária e reencontro com a história do mais antigo conjunto habitacional da América Latina, registrado pelo sofisticado equipamento audiovisual obtido junto a um de nossos parceiros. Não custa lembrar que essa rede foi suficientemente poderosa para vencer o estigma que cerca um egresso do sistema penitenciário, como foi o caso do Samuca, um ex-sequestrador que desde a nossa parceria trocou as manchetes policiais por entrevistas a Edney Silvestre e um emocionante depoimento na última novela de Manoel Carlos.
Catadores de parceria
Júlio Ludemir
Tarde nublada em São João de Meriti, uma das treze cidades da Baixada Fluminense, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Um grupo de 20 pessoas se reúne numa das salas do quarto andar do Sesc, sentando-se em cadeiras dispostas em círculo para deixá-las mais à vontade. A maioria delas se conhece de encontros anteriores promovidos ali ou em outras unidades da instituição. Vai começar mais um encontro do Redes Comunitárias, um projeto da Assessoria Comunitária que acontece mensalmente em cada uma das quatorze unidades do SESC Rio de Janeiro. Numa estimativa conservadora, 2 mil instituições dos três setores da economia usaram esses espaços para costurar parcerias envolvendo pelo menos 500 tecnologias sociais diferentes.
A assistente social Viviane Santos, que coordena o evento na unidade ao longo dos quase dois anos em que o Redes Comunitárias se tornou um oásis em meio ao deserto de serviços e equipamentos sociais de São João de Meriti, inicia os trabalhos dizendo que tem a “desagradável missão” de cortar os participantes que não respeitarem os dois minutos de que dispõem ou perderem o foco da fala. A objetividade é importante para que todos tenham oportunidade de explicar o que oferecem e o que procuram. O evento só vai terminar quando todos tiverem anunciado os produtos e serviços sobre os quais conversarão no lanche oferecido em um espaço contíguo. Os participantes também terão que atualizar o Classificados da Rede em uma folha de papel que contém a ficha de todos os que já participaram e que ficam disponíveis de forma on-line para que parcerias sejam costuradas por instituições que vão do poderoso UNICEF à despretensiosa Animação Cultural, que dá oficinas de origami em São Gonçalo. A última versão dos classificados de toda a rede carioca forma um calhamaço de 97 páginas com os contatos e uma síntese dessas instituições.
Na roda, José Carlos Fagundes, presidente da Ibrar Renal - Instituto Brasileiro de Assistência ao Deficiente Renal – contou com uma forte carga de emoção o estágio da ong que começou a desenhar nos encontros da rede de São João de Meriti, cujo próximo passo será a construção de uma clínica. Embora já tenha chegado ali com a ideia do projeto, Fagundes, como é carinhosamente chamado pelos companheiros da rede, tem plena consciência de que ele só avançou até aquele ponto graças à oficina de elaboração de projetos promovida pela gestora da rede naquela unidade, no primeiro semestre de 2009. O assunto chamou a atenção de Fagundes, que estava no meio de um processo de tratamento de hemodiálise, que duraria oito meses. Uma sequência de dois enfartos comprometeria seus rins, levando-o a fazer a seguinte promessa: “Se eu saísse dessa, eu ia ajudar para outras pessoas a não passarem o que eu passei”.
A motivação era tamanha, que Fagundes conseguiu se inserir na oficina, mesmo com as 50 vagas já preenchidas. “Ele insistiu tanto que acabou conseguindo entrar”, conta Viviane Santos, que o colocou na vaga de um desistente. Cinco dos dez voluntários da Ibrar Renal foram encontrados durante as aulas – ministradas para participantes da rede e moradores das proximidades – e nos encontros mensais que Fagundes passou a frequentar com uma fidelidade canina. Movido pelo ideal de levar informações para a prevenção das doenças renais, o grupo passou a ter uma sede numa sala alugada na praça da Matriz. “A nossa maior luta hoje é a busca de parcerias”, expõe Fagundes, que pretende levar uma das ações itinerantes da ong – que já atendeu uma média de 600 pessoas – para o espaço do próprio Sesc de São João de Meriti.
Naquela mesma manhã, a quilômetros dali, um grupo de 10 pessoas enfrentou o mau-tempo para ouvir a palestra da produtora cultural Lanuzza de Lima, representante da Mafuá Produções, sobre captação de recursos para projetos e leis de incentivo à cultura, no terceiro andar da unidade de Niterói. A palestra, como a oficina ministrada em São João de Meriti, é um desdobramento da tecnologia criada na unidade de Ramos no início desta década, que já atraiu cerca de 300 instituições solidárias com o drama das cerca de 100 mil pessoas que moram no violento Complexo do Alemão. A unidade da Tijuca, por exemplo, publica quinzenalmente um boletim de oportunidades contendo informações sobre editais, eventos e cursos para todos os participantes da sua rede. Madureira criou o “Arte de Encontrar”, um evento no próprio Sesc que reúne apresentações das oficinas ali oferecidas nos encontros mensais. A própria unidade de Ramos incrementou sua tecnologia social com um método que batizaram como Diálogos Sociais, que consiste em encontros semanais ao longo de dois meses dedicados a temáticas focadas na cidadania.
Encontros itinerantes
“Desde o ano passado acontecem encontros itinerantes”, lembrou a assistente social Denise Chiaretti, gestora da rede de Niterói, após exibir um vídeo explicativo da proposta do encontro, outra inovação dessa tecnologia já implementada em várias unidades. “Ninguém é dono da rede. O Sesc é só um facilitador”, enfatizou Chiaretti, que, buscando atender uma importante demanda nos últimos meses, fez o convite à produtora cultural Lanuzza de Lima. Integrante da ong Clínica da Alegria, Maria de Fátima Magalhães demonstrou maior interesse nas dicas sobre a Lei Rouanet e a do ICMS, bem como nas formas de inscrição por internet. A exposição de Lanuzza de Lima deixou Maria de Fátima convencida de que poderá obter os recursos de que precisa para financiar o material usado na caracterização dos palhaços que se apresentam gratuitamente nos hospitais de sua cidade, bem como o transporte dos voluntários e a compra de itens básicos de higiene e lazer doados aos pacientes. “Eu nunca fiz isso”, admitiu Maria de Fátima, que anotou tudo o que pôde. A Clínica da Alegria faz seus ensaios na unidade de Niterói. A possibilidade de inscrever seus projetos através do Salicweb, um sistema virtual criado pelo Ministério da Cultura para receber projetos culturais, também entusiasmou dona Maria Helena, que representa as associações de moradores de Boavista e São Lourenço e começou a frequentar os encontros da rede de Niterói atrás de empresários que pudessem oferecer empregos para sua comunidade. Dona Maria Helena jamais perdeu um encontro desde que a rede de Niterói foi criada, há cerca de cinco anos.
O projeto Redes Comunitárias começou de forma casual, como a maioria das parcerias formadas no coffee break, que, computando-se os gastos com os descartáveis, a própria comida e uma pessoa para cozinhá-la, custa cerca de 260 reais para cada unidade. Foi durante o seminário “Transformações sociais, o que dá certo", realizado em julho de 2002 no SESC Ramos. Apesar da qualidade de conteúdo do seminário, que reuniu trezentas das melhores cabeças envolvidas com atividades sociais no Rio de Janeiro, bastaram quarenta minutos para que o evento se esvaziasse. Preocupados, os organizadores tentaram conter a evasão abrindo o microfone para que as pessoas se expressassem. “Formou-se então uma fila próxima à mesa”, lembra Luiz Fernando Sarmento, então gerente adjunto da unidade Ramos. “Mas as pessoas usaram o microfone de modo catártico, fazendo longos discursos contra o governo. Sugerimos então que elas dissessem o que estavam procurando e o que tinham a oferecer.”
A metodologia do projeto Redes Comunitárias foi praticamente definida nesse dia: ofertas feitas de modo conciso e objetivo em uma roda aconchegante, seguidas de um lanche para aprofundar relações e da distribuição de uma lista de presença xerocada, para que as pessoas possam se procurar fora do Sesc. Viu-se então que essa tecnologia social ia ao encontro do desejo da instituição de se inserir cada vez mais nas áreas mais pobres da cidade, onde mora maioria dos comerciários. “Uma pesquisa nos revelou que a renda média do comerciário é de três salários mínimos mensais”, diz Gilberto Fugimoto, assessor de Projetos Comunitários. “Este é o nosso público alvo.”
O sociólogo Alan Brum Pinheiro, um carioca nascido e criado no Complexo do Alemão que por isso mesmo acompanhava de perto as atividades no Sesc Ramos, foi um dos quatro participantes do encontro marcado para um mês depois do seminário. Exasperou-se com a lentidão com que esse ovo de Colombo foi colocado em pé, em um processo de construção em que os recém-chegados sempre voltavam com novos parceiros. No entanto, pescaria nas Redes Comunitárias a turma mais efetiva do curso oferecido para gestores e empreendedores sociais provenientes de comunidade de baixa renda, que se espalhou do Rio de Janeiro para Fortaleza e Belém. Também foi lá que conheceu Mário Bands, que se tornaria coordenador artístico do Raízes em Movimento, rede de ongs que atuam no Alemão e cujos parceiros vão da Petrobrás à União Europeia, passando pelo IPEA e pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro. “A rede me permitiu aprimorar os aspectos que envolvem mobilização, o que é muito difícil por questões históricas”, avalia o sociólogo do Alemão.
A unidade de Ramos também atraiu a ex-presidente da associação dos moradores do Itararé Zilda Barreto, que nos primórdios das Redes Comunitárias se via às voltas com o problema de autoimagem decorrente da opção que foi forçada a fazer depois que o marido teve roubada a Kombi que garantia o sustento dos seus três filhos e mergulhou num processo depressivo. “Só resolvi ser catadora de lixo para não decepcionar meu filho Esdras”, lembra a hoje líder de uma comunidade de 21 catadores que atuam em um armazém abandonado pela fabricante de cervejas Skol no auge da guerra do Complexo do Alemão, na primeira metade da década de 1990.
Rede de catadores
Foi na rede de Ramos que a mulher que abraçou a atividade ao conseguir comprar um frango e um bujão de gás para cozinhá-lo depois de algumas horas catando o lixo dos vizinhos, soube do congresso de reciclagem que reuniria 1.200 pessoas na UERJ e a inseriria no movimento nacional de catadores, com várias viagens a São Paulo e a Brasília para discutir a importância social e ecológica da atividade que exerce. “Foi na UERJ que conheci o pessoal da Charitas, que me deu a prensa, a balança digital e os bags onde a gente armazena os itens selecionados”, conta Dona Zilda, que conseguiu aumentar o preço de suas mercadorias depois de aplicar o conceito de rede para as cooperativas de catadores. Depois de um período afastada da rede, deve visitá-la no próximo mês para pedir que algum dono de restaurante convide o grupo de mulheres que lidera para um almoço de confraternização no próximo dia 5 de dezembro, dia nacional do catador.
Um dos marcos dessa construção foi a palestra do jornalista mineiro Cássio Martinho em julho de 2004, no auditório do Sesc Nogueira. O fundador e articulador da Rede Mineira do Terceiro Setor deixou impressionadas as cerca de cem pessoas para as quais apresentou o conceito, as práticas, os tipos e os desafios apresentados pelas redes que revolucionaram as relações entre a sociedade civil e os governos a partir da campanha da Ação da Cidadania que transformaria o sociólogo mineiro Betinho num herói nacional depois da criação de cerca de 3 mil comitês contra a fome espalhados por todo o território nacional. Com o aporte teórico fornecido pelo autor de “Redes – uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organização”, a Assessoria de Projetos Comunitários ampliou as possibilidades do projeto Redes Comunitárias.
O jornalista mineiro usou expressões como “relações horizontais”, “conectividade” e “cooperação” para mostrar como a organização de agentes autônomos com um objetivo consensual pode trazer força política e econômica para projetos temáticos ou territoriais que isoladamente seriam inócuos. Para Cássio Martinho, o melhor exemplo do poder de uma rede é a das ongs que tentam salvar a Mata Atlântica. Além da impossibilidade de se vigiar isoladamente os remanescentes da floresta por todo o Brasil, as ongs surgidas no âmbito da Eco-92, outro marco na história das redes brasileiras, ganharam escala quando puderam acompanhar e influenciar políticas públicas. Outro exemplo citado pelo jornalista foi o da Rede Gira Rua, que reuniu as ongs e os órgãos públicos que trabalham com crianças e adolescentes com trajetória de rua em Belo Horizonte para mudar a paisagem social da capital mineira. “A rede potencializa talentos e processos pela interconexão entre os atores”, afirmou Cássio Martinho.
A rede Gira Rua é uma rede tão temática quanto a dos afro-empreendedores que o militante do movimento negro Giovanni Harvey identificou nas Redes Comunitárias do Sesc, em outubro de 2004. Harvey tinha conseguido um patrocínio de cerca de R$ 1 milhão da Petrobrás e tinha a legitimidade de quase dez anos militando no movimento negro, mas só superou a dificuldade para localizar o público alvo do projeto Incubadora Afro-brasileira quando passou a frequentar a rede, de que ouvira falar por intermédio da também militante do movimento negro Elza Pacatuba. O público desejado, cuja renda per capita oscila entre R$ 250 e R$ 500, praticamente se confundia com o comerciário padrão. “Quando anunciamos o edital nos jornais, apenas os afro-empreendedores das áreas mais privilegiadas da cidade responderam”, confessa o diretor da Incubadora Afro-brasileira.
Harvey percorreu a rede para atrair os 1.531 candidatos que participaram do processo de seleção para as 450 vagas oferecidas nas três edições da incubadora, preenchidas em sua maioria por mulheres entre 34 a 55 anos, ensino médio completo e chefes de família. Quando o então prefeito Lindberg Farias convidou sua ong para administrar a Incubadora de Empreendimentos Populares, um projeto de R$ 1,4 milhão que atende 450 pessoas, Harvey começou a divulgar o processo de seleção na unidade de Nova Iguaçu do Sesc. Mais uma vez, não se arrependeu com a parceria feita com a instituição. “De maneira geral, há grande dificuldade de acesso às populações de baixa renda”, afirma Luiz Fernando Sarmento. “A rede do Sesc é uma oportunidade para projetos que desejam atuar nessas comunidades.”
É verdade que Harvey se sente incomodado com o que chama de “mundo do escambo”, no qual as ongs precisam usar o vago conceito de “elevação da auto-estima” para justificar a ausência de resultados concretos na qualidade de vida do público contemplado pelos programas sociais. Mas ele concorda com a tese da socióloga Moema de Polli, cujo estudo sobre os negros que venceram os filtros de acesso às universidades públicas determinaram a inserção de Harvey nas redes dos movimentos sociais. “Todos os casos estudados pela socióloga estavam incluídos em redes sociais que deram sustentação ao acesso à universidade.”
Plano de desenvolvimento comunitário
O Comitê Comunitário de Cidade de Deus trilhou caminhos distintos aos da Incubadora Afro-brasileira, ainda que os resultados obtidos a partir de sua entrada na rede tenham sido igualmente expressivos. Como sugere o nome do comitê, a rede formada em torno dele era territorial, não temática. Também diferentemente da história protagonizada pela incubadora de negócios sociais, a Cidade de Deus tinha as bases e uma grande vontade política, mas não o projeto. O comitê, que abriga onze das cerca de quarenta instituições que atuam na Cidade de Deus, foi formado sob o impacto do filme baseado no romance de Paulo Lins. Um ano depois, seus líderes estavam participando de um seminário no Sesc Nogueira, juntamente com representantes de entidades empresariais, órgãos governamentais e ongs dedicadas à redução das desigualdades socioeconômicas do Rio de Janeiro. Saíram de lá com o Plano para o Desenvolvimento Comunitário em Cidade de Deus , cujas propostas iam muito além da questão da violência. “Se cada ação é individual, gera rivalidade”, afirma Cleonice Dias, integrante da Comissão de Habitação do comitê, que convidou integrantes da rede formada pelo Sesc para discutir a UPP Social que está em processo de implantação na Cidade de Deus.
A arrojada e bem-sucedida experiência social da Cidade de Deus, cujos rebentos mais visíveis foram a constituição de uma agência de desenvolvimento local com verbas do Finep e principalmente a conclusão de 618 unidades habitacionais financiadas pela Caixa Econômica Federal, é um norte para o projeto Redes Comunitárias. E não foi à toa que alguns dos atores que participaram daquela cena voltaram a se reunir na cena criada pela Assessoria Comunitária no Centro Cultural História que eu Conto, único equipamento cultural da Vila Aliança, o mais antigo conjunto habitacional da América Latina. Criado pelo ex-sequestrador Samuca, o História que eu Conto funciona no prédio abandonado pelas professoras da então Escola Municipal Austregésilo de Athayde depois de um histórico tiroteio travado do alto de um helicóptero por policiais com os bandidos que traficavam drogas em suas imediações.
Samuca foi apresentado ao Sesc por um conselheiro da instituição, que conheceu em um vôo para a Europa. Nesta época, Samuca tinha para oferecer à comunidade uma biblioteca precária e a mesma vontade de dar certo que aplicara à carreira musical abraçada depois de sete anos na cadeia, razão daquela viagem intercontinental. O ápice das mudanças promovidas ao longo dos dois anos de relação com o Sesc se deu no domingo 13 de setembro de 2010, com a visita do Prefeito Eduardo Paes para assinar uma cessão de direito por dez anos aos gestores do centro cultural, onde atualmente funcionam uma sofisticada ilha de edição, um ponto de cultura, um grupo de teatro, outro de dança de salão, oficinas de hip-hop e aulas de língua para 250 pessoas do complexo Vila Aliança-Senador Camará, além de gerar 14 empregos diretos. “Pessoas de baixa renda fazem festa com pouquíssimos recursos”, afirma Luiz Fernando Sarmento.
A turma do Centro Cultural História que eu Conto está exportando suas tecnologias sociais para as comunidades que o Sesc ajudou a reunir no Grupo de Articulação Local da Plataforma dos Centros Urbanos do UNICEF na Zona Oeste da cidade.
Redes Comunitárias é tema de tese de mestrado na COPPE
Uma tese de mestrado está sendo defendida na COPPE / UFRJ com o título “Trabalho Cooperativo em Redes Sociais” pela pesquisadora Camila Santo através da Linha de Pesquisa Gestão de Iniciativas Sociais na Engenharia de Produção.
As redes comunitárias do Sesc Rio são analisadas no estudo de caso da monografia que desenvolve modelo de análise dos aspectos culturais de redes sociais. O trabalho indaga porque algumas redes são mais cooperativas do que outras?
As redes comunitárias foram muito úteis para descobrir a valorização das relações humanas e ressaltar o papel da afetividade contribuindo para maior colaboração no trabalho em redes, ressalta Camila. Descobri que autonomia não promovida por redes, mas o aprendizado e a gestão do conhecimento são construídas ao longo do processo, revela.
Uma conclusão surpreendente é que as redes têm potencial de gerar resultados muito maior do que se julgava a princípio, inclusive econômicos. O trabalho está sendo defendido com apoio dos laboratórios de Trabalho e Formação e de Inovação e Mudanças Organizacionais da Engenharia de Produção da COPPE / UFRJ.
04
Redes
Cássio Martinho
Transcrição de palestra realizada no Fórum Idéias – 2004
Edição de Roberto Pontes
Pretendo apresentar simples e concisamente o conceito de rede, as práticas de trabalho em rede e propor desafios que esta experiência apresenta.
Rede não é coisa muito visível. Ela existe, perpassando espaços e tempos, mas não se apresenta facilmente à vista destreinada. Mais do que fato concreto ela é algo do mundo das idéias. Precisa ser conceituada para ser percebida e para se tornar objeto de trabalho teórico, de conceituação e de reflexão, para, enfim, emergir como um dado da realidade. Implica, prioritariamente, treinamento do olhar, da perspectiva e dos modos de ver, para que possamos compreender sua natureza.
Gosto de afirmar que redes estão em todos os lugares – aqui, lá fora. Nós, porém, não as havíamos percebido. Ultimamente, as teorias da complexidade, o pensamento sistêmico e, mesmo, a emergência de infra-estrutura tecnológica, como a Internet, nos permitiu, cidadãos do século XXI, vislumbrar isso que tece as relações sociais, pessoais e as organizações, que chamamos de rede.
Euclides Mansell, teórico da socioeconomia solidária, demonstra bem a dinâmica de rede. Ela é articulação entre diversas unidades que, mediante certas ligações, vão trocando elementos de qualquer natureza entre si – informações, recursos, bens etc. –, fortalecendo-se, reciprocamente. Esses elementos podem se multiplicar em novas unidades, que fortalecerão todo o conjunto e, ao mesmo tempo, serão fortalecidas por ele. É processo em contínua expansão que fortalece seus membros.
Proponho, inicialmente, conceito sucinto para rede: padrão de organização constituído, necessariamente, de agentes autônomos que, interligados, cooperam entre si. Eles são os elementos da rede.
Rede é um padrão de organização que produz ou é em si uma certa ordem. Ela é conjunto de pessoas (físicas e jurídicas) autônomas que, em nome de algo superior, um objetivo consensual, realizam trabalho coletivo, cooperando entre si. Isso dá forma à idéia de rede.
É importante destacarmos que nela a ordem é horizontal, portanto, não comporta coexistência com hierarquia. A base conceitual de rede se funda na contraposição à hierarquia. Este é o aspecto mais desafiante.
A rede é meio de interligar elementos diferentes. Essa interligação não é gratuita, nem suficiente para que ela se constitua. A interligação entre indivíduos não garante a existência da rede. É preciso que a interligação ocorra de forma específica: horizontalmente.
Existem variados tipos de rede, se entendida como processo de organização de indivíduos, de entidades ou daqueles que querem trabalhar em conjunto e estabelecem proposta específica para isso.
Com efeito, tal proposta se organiza em torno de um tema, daí, o surgimento das redes temáticas como, por exemplo, meio ambiente, e um subtema – educação ambiental ; ou trabalho e renda e subtemas desse conjunto – socioeconomia solidária, cooperativa popular etc.; ou, ainda, em torno de um território – o Morro do Alemão, uma cidade, um estado, uma bacia hidrográfica etc.
No Brasil, há redes estadualmente constituídas, como a Rede Mineira do Terceiro Setor que reúne ONGs com base num território – Minas Gerais.
Pode haver combinações: redes baseadas em território e em recorte temático. A Rede de Educadores Ambientais de São Carlos, em São Paulo, por exemplo, constitui-se num conjunto de educadores ambientais que partilham o mesmo tema e o mesmo território.
Redes podem ser organizacionais, se agruparem instituições. Se reunirem organizações e pessoas, elas são mais ou menos formais. Há redes que adquiriram personalidade jurídica própria no Brasil, mas noventa e cinco por cento das redes brasileiras ainda são informais. E obtêm resultados.
Toda rede é rede de informação. Se um conjunto de pessoas se une para realizar um trabalho, haverá, necessariamente, intercâmbio de informações. 18.Geralmente, redes se constituem para trocar ou buscar informação e, especialmente, para distribuí-la – esta é sua grande propriedade. Elas também servem para identificar oportunidades, ocultas aos processos tradicionais, para captar recursos, para organizar ações e empreendimentos, para atuar sobre políticas públicas, como a Rede Brasileira de Educação Ambiental que atua politicamente sobre educação ambiental junto ao governo e à sociedade. Ela é sujeito político, capaz de representar o setor junto aos Ministérios da Educação e do Meio Ambiente, por exemplo.
Existem, também, redes de informação que são operativas. Realizam trabalhos concretos sobre uma temática ou sobre um território. Por isso vão trocar informações, valendo-se de todos os meios – internet, cartas, telefones, fax e encontros presenciais –, e realizam ações específicas: eventos, passeatas, mobilizações, projetos de capacitação ou, até mesmo, constituição de mercado para a troca de bens e serviços. A rede operativa, portanto, é um tipo de rede que produz ações e empreendimentos.
A Rede Brasileira de Educação Ambiental é movimento informal e não instituição. Mas, é considerada pelo Governo Federal como interlocutora da sociedade, quando o assunto é Educação Ambiental.
Criam-se redes para promover ou advogar causas e interesses comuns. Elas se prestam muito bem para promover o desenvolvimento de territórios, induzindo processos de articulação internas propícios para criar ambiência favorável aos seus fins.
Por meio delas desenvolvem-se também pesquisas e estudos. O melhor exemplo são as redes de pesquisa científica: nelas cientistas e pesquisadores se unem, até internacionalmente, para discutir temas, produzir inovação e buscar pleno conhecimento. A troca é intensa e a comunidade científica já sabe como produzir conhecimento em rede.
A idéia de rede compreende interlocução política, pratica ações de vigilância e de acompanhamento das políticas sobre um tema ou um território. A rede de ONGs da Mata Atlântica é sua mais completa tradução.
Seria impossível a qualquer entidade ambientalista envolvida com a preservação da Mata Atlântica vigiar seus remanescentes por todo o Brasil, pois se estendem do Sul ao Nordeste do país. Em casos como o da Mata Atlântica, a saída é estabelecer articulação entre ONGs que, juntas, exerçam vigilância sobre o território ou acompanhem políticas públicas relacionadas ao tema. A rede de ONGs da Mata Atlântica é, hoje, sua principal defensora e, quando se trata de questões pertinentes a ela, interlocutora dos governos e da sociedade. Houve necessidade de ganhar escala para acompanhar de perto o problema. Isso só se tornou possível na medida em que as entidades se constituíram em rede.
Grupo de atores também se vale de redes para construir coletivamente metodologias e formas de ação e abordagem em relação a certo tema ou problema. Cursos, eventos, busca conjunta de recursos e oferecimentos de bens e serviços podem ser feitos em rede.
Em Belo Horizonte, para desenvolverem metodologia única para abordagem da situação da criança e do adolescente com trajetória de rua, constituiu-se a rede Gira Rua. Ela tornou parceiros o Governo do Estado, a Prefeitura e as ONGs que evitaram, assim, muitos problemas decorrentes de atendimentos distintos ou conflitantes. O resultado foi satisfatório e não suscitou confrontos.
O mais importante é conhecer os significados e os resultados das ações desenvolvidas em rede. Por que queremos tanto trabalhar em rede? Qual a razão dessa novidade? Hoje é moda; tudo virou rede. O tempo todo trabalhamos em rede. Mas eu e o Gilberto, lado a lado, trabalhamos em rede? Não , nós colaboramos, simplesmente. Trabalhar em rede é algo mais do que o trabalho colaborativo, em si. Qualquer equipe trabalha de forma colaborativa. Isso não significa que se trabalhe em rede, pois há elementos importantes para definir a questão.
E por que trabalhar em rede? Que benefícios traz? Hierarquia também funciona? Funciona. Outras estruturas organizacionais funcionam? Claro que sim. Então por que essa opção pela estrutura reticular de organização?
Primeiramente, por questão de economia, compartilhando-se recursos ganha-se em escala. O que seria impossível individualmente, torna-se possível, com a cooperação entre atores. Por isso citei a rede de ONGs da Mata Atlântica – uma instituição, sozinha, não conseguiria fazer o que a rede faz. A rede é estrutura favorável para promover, facilitar e aumentar o acesso de indivíduos e de organizações a recursos escassos, a informações, a bens e a serviços. Quando ocorrem combinações, trocas e colaboração entre participantes, tudo se torna mais acessível.
Contrariamente, a organização hierárquica tende a bloquear acessos, pois é estruturada para gerir o acesso aos recursos, às informações, aos bens e aos serviços. Nela, só quem está no topo da pirâmide pode acessar todos os recursos. A hierarquia impõe limites claros e restringe a livre movimentação dos participantes da estrutura organizacional, esta é uma das características mais importantes. Num sistema hierarquizado quem está no topo detém o poder. Isto não acontece na rede.
Geralmente, pela trama de interconexões existentes na rede o acesso é mais fácil. Num processo em rede as pessoas e/ou as instituições têm mais condições de alcançarem seus objetivos do que se estivessem num processo hierárquico.
Outro importante aspecto vinculado ao advento da Internet, é a perspectiva de maior sustentabilidade para os processos que a rede proporciona. Por que a Internet vem à mente agora? Quando o Departamento de Defesa dos Estados Unidos descentralizou o sistema de defesa, distribuindo seus computadores por vários pontos do país, pensava-se que isto evitaria que uma bomba russa destruísse a Central do Sistema o que desativaria o Sistema. Disseminados pelo território, a despeito do número de bombas despejadas, o Sistema se manteria sustentável, graças à descentralização.
A capacidade de a rede potencializar talentos e processos é mais importante do que tudo isso. Pela interconexão entre os atores e por não haver um poder comandando tudo, ela acrescenta poder a quem a integra, potencializando cada participante dos processos.
O pressuposto básico da rede é que a união de esforços individuais criará conjunto mais forte do que a mera soma dos esforços individuais, ocorrendo sinergia. À medida que os atores trocam informação e compartilham capacidades, a rede se torna mais poderosa e os processos fluem melhor por ela.
Há constituição de rede também relacionada com as estruturas hierárquicas piramidais tradicionais. A hierarquia funciona. Mas a que preço? Muitas vezes, matando talentos e reprimindo brilhos individuais que estejam fora do círculo do poder. Conflitos na ordem hierárquica geralmente resultam disso. Entretanto, o processo criativo ocorre melhor em ambientes com liberdade de expressão, de opinião e de comportamento, uma vez que a hierarquia tende a abafar o talento individual, considerado excentricidade.
Ao contrário, se estivermos fora da ordem hierárquica e inseridos numa rede, compartilharemos com mais facilidade dos talentos e brilhos, e os resultados fluem. Além de potencializar seus participantes, a rede é mais produtiva, realiza mais inovação e apresenta resultados inusitados e insuspeitados.
A rede permite maior capacidade de inovação do que a ordem hierárquica. Não é à toa que empresas e instituições, geralmente, piramidais, criam, para inovar, comissões, grupos, equipes interdisciplinares, transversais aos organogramas. Este procedimento revela a impossibilidade de o esquema hierárquico dar conta da inovação que pulsa e transcende a estrutura do organograma.
A Alcoa, uma das maiores produtoras de alumínio do mundo, na hora de inovar, embora possuindo diretoria, superintendências e gerências, monta equipes-líderes, cujo coordenador não é o diretor, é o peão; não é o gerente da área administrativa, é o subordinado que, na equipe de inovação, tem ascendência sobre ele. As empresas, portanto, reconhecem a capacidade de inovar dos processos colaborativos horizontais.
A existência de rede pressupõe condicionantes, sem os quais não existe. Primeiro, implica diversidade de participação, ou seja, baseia-se na diferença, na troca entre eles, o que aumenta a qualidade do processo.
Se a rede é um conjunto de elementos autônomos e co-operantes, deve haver um mínimo de acordo entre eles. Logo, a rede se baseia em pactos. Os atores têm de pactuar. Isto só se dá, havendo objetivo comum. As pessoas cooperam para superar algum desafio, ou para atingir objetivo comum que não atingiriam sozinhos. O elemento principal no processo colaborativo em rede é a coesão, cuja base é a comunicação.
Na rede não há uma liderança, mas muitas, o que pode provocar conflitos. Entretanto, isso é típico de sua natureza, a horizontalidade, que se estabelece pelo fato de as pessoas se encontrarem no mesmo nível, sem subordinação. A horizontalidade, aspecto importante para se compreender a idéia de rede, se contrapõe à verticalidade, configurada pela subordinação. Assim, não se atua em rede no sistema hierarquizado, em que as pessoas estão em diferentes níveis decisórios, ainda que ele comporte conectividade e trabalho colaborativo.
Devemos evitar a falsa idéia de que tudo, hoje, é rede. É importante precisar o conceito. Dele nos valemos para entender a realidade. Rede pressupõe ocorrência de processos colaborativos em plano, sem subordinação.
Para finalizar, tratemos de outro elemento necessário nos processos de rede: a coordenação. Esta é objeção comum do público nas minhas palestras sobre rede.
Critico a hierarquia e afirmo que a rede é não-hierárquica. As críticas fundamentam-se na premissa de que é preciso haver coordenação e gestão nos processos. A coordenação é necessária, mas nem sempre implica hierarquia. A capacidade de operar sem hierarquia é, portanto, a principal propriedade organizacional das redes.
Para não me acusarem de intransigência com a hierarquia, convoco em meu socorro Fritjof Capra , na obra A Teia da Vida. Ele demonstra muito bem nesse livro e em As Conexões Ocultas – seu principal estudo – como os sistemas vivos são organizados em redes horizontais.
Capra afirma: “desde que os sistemas vivos, em todos os níveis – células, animais, vegetais, ecossistemas e o planeta Terra – são redes, devemos visualizar a vida como sistemas vivos, interagindo à maneira de redes com outros sistemas vivos (...) a teia da vida consiste em redes dentro de redes”.
Como tendemos a ordenar os conjuntos uns dentro dos outros, de forma hierárquica, colocamos os maiores acima dos menores, como numa pirâmide. Capra considera isso interpretação humana, pois na natureza não há acima ou abaixo, não há hierarquias, apenas redes dentro de redes.
Os sistemas vivos possuem, de fato, padrão organizacional semelhante ao das redes. Comparemos os neurônios de homem, de coelho e de gato. A estrutura morfológica deles foi construída para articulação. Logo, é estrutura desenhada para fazer redes. As redes neurais, imensa teia articulada e complexa, como todos sabem, possibilita a produção das emoções, dos pensamentos, das idéias e dos sentimentos.
As imagens das redes neurais demonstram como os dendritos e os axônios, entrelaçados, formam redes. Pesquisas recentes comprovaram que a ocorrência de redes não se dá apenas no cérebro. As redes neurais e a comunicação entre elas estão disseminadas por todo o corpo humano. Nossos olhos movimentam-se antes do estímulo visual chegar ao cérebro, ou seja, a retina “pensa” antes mesmo da chegada do impulso. Essa imagem é das que mais gosto, principalmente porque demonstra como as proteínas de uma estrutura viva se organizam e trocam informações, como numa rede.
Pergunto-me: onde está o comandante desse processo? Cadê o gabinete do presidente das proteínas, com assessores que tudo controlam? Graças à intercomunicação entre pequeninas partículas de vida, as células fazem o que fazem. É pela interação entre células que os corpos e os organismos fazem o que fazem. Da mesma forma, é pela complexa intercomunicação entre os vários organismos que os ecossistemas são o que são, se adaptam, às vezes morrem e às vezes dão a volta por cima. Em virtude dessa interconexão a ordem se estabelece.
Essa é a lição que Capra nos traz em A Teia da Vida. A ordem é uma emergência a partir dos processos de intercomunicação entre agentes que são autônomos. A ordem não está dada, não está na cabeça de um ser pensante que desenhou todo o processo. O desenho aparece pela interação.
Gosto de citar o exemplo das formigas. A imagem que temos do formigueiro é a de que a colônia é controlada por um animal superior – a formiga-rainha, que nada faz, exceto pôr ovos. Steven Jonhson, no livro Emergência, estuda a dinâmica de redes em formigas, em cidades e em softwares.As formigas constroem cemitérios para as que morrem, o mais distante possível das colônias. Outros resíduos sólidos do formigueiro também são depositados longe do centro da colônia, pois nem os animais gostam de viver em meio ao lixo. Elas depositam o lixo o mais distante possível do cemitério. As distâncias entre o centro da colônia e o depósito de lixo, e deles entre si são idênticas. Portanto, o centro da colônia, o depósito de lixo e o cemitério ficam eqüidistantes.
Como isso é possível? Onde está a planta baixa do formigueiro? Como as formigas mediram o espaço? Como o planejaram? Elas não planejam, pelo menos como entendemos isso. Não há ninguém num gabinete, ciente da situação, dos desafios e dos problemas, para encontrar solução. Não há gabinete ou prancheta no formigueiro. O que há é a interação – contatos entre as formigas.
A estrutura de serviços do formigueiro apresenta imagem corresponde à das redes de computadores. O mapa da Internet possui desenho semelhante ao das células, que lembra bastante a rede celular de proteínas, que, por fim, se assemelha ao desenho da vida social. Estudo das relações sociais numa pequena comunidade da Austrália, mostrou que as interações entre indivíduos formam um diagrama tridimensional.
Desse emaranhado de relações, das interconexão entre elementos autônomos emergem ordens, sem que seja preciso um comando central. A rede é organograma diferente da pirâmide. São organogramas absolutamente distintos e assim devem ser considerados.
Acredito que a dificuldade que temos ao pensar e ao operar em redes é a compreensão da natureza desse processo. Temos cultura política e organizacional voltada para instituições. Reparem que o mesmo aparato visual e conceitual que me torna capaz de observar a platéia e de enxergar o SESC Rio também pode me fazer ver não apenas o SESC Rio, mas percebê-lo como teia de relacionamentos. Daí a dificuldade de superarmos o olhar institucional que temos sobre processos organizacionais. Encaremos como dinâmica colaborativa e sem foco no institucional.
Posso olhar para todos aqui e ver uma instituição, da mesma forma que posso olhar e ver um conjunto de pessoas que colabora, independentemente dessa casca, dessa camada de significado, que se chama SESC Rio.
Ponto importantíssimo na nossa compreensão sobre rede é entender que ela é muito mais processo não-institucional de organização do que entidade. Fritjof Capra estabelece diferenciação entre estrutura projetada e estrutura emergente. Para elucidar esse conceito de rede, explicarei de outra forma.
Existe um caso em que isso foi apresentado de forma evidente. Conheci o projeto A Rede Mineira no Terceiro Setor e dele participei. Projetamos um organograma para ele em que havia Conselho de Gestão, Secretaria Executiva, e entidades animadoras por segmento temático. Avaliado o desenvolvimento do processo, constatou-se completa transformação do organograma. Não havia Secretaria Executiva, Conselho de Gestão ou entidades animadoras. Existia, sim, um conjunto de entidades e de pessoas que trabalhavam colaborativamente. Projetamos a estrutura, mas na prática o organograma configurou-se diferente. Participei da primeira fase do projeto. Desenhei o organograma anterior. Mas, ao avaliar como os processos ocorriam, verifiquei que a primeira estrutura não correspondia à realidade.
Outro bom exemplo é a Rede Brasileira de Educação Ambiental, com doze anos de funcionamento. Seu organograma compreendia conjunto de entidades, formando a facilitação nacional da rede; outro conjunto nos estados, configurava os elos regionais; e duas entidades ocupavam a Secretaria Executiva. Com os anos o organograma nacional, na prática, desapareceu, e a Rede Brasileira de Educação Ambiental morreu.
Avaliando o que aconteceu, vimos que o antigo organograma cedera lugar a outro, fruto da interação entre redes estaduais. Efetivamente, a rede não acabara, transformara seu organograma e sua natureza. A rede deixara de ser sujeito nacional para se constituir em interconexão entre sujeitos estaduais. Hoje, ela continua a existir. Havia um organograma fictício,o projetado, e outro surgido da dinâmica da rede, da interconexão.
Chegamos ao final da nossa conversa. Uma rede se baseia na conectividade, na interligação entre os elementos. Mas a ordem na rede – como no caso das formigas – só aparece do processo de interação. Não há uma forma organizacional prévia. A organização se constrói à medida que os atores se interconectam. A conectividade, portanto, é essa capacidade de fazer interligações, de construir elos entre os elementos. Essas interligações são muito mais relevantes do que a mera existência de cada componente da rede.
Temos aqui projetados três diagramas. É possível perceber que cada um ganha dimensão e qualidade diferentes à proporção que agrega mais relações, representadas pelas linhas. Os pontos – que representam os elementos que compõem a rede – importam menos. Realmente importantes são as relações que os elementos mantêm entre si. Temos, então, o mesmo conjunto de elementos com 14, com 37 e com 91 relações. Nesse sentido, a rede do terceiro diagrama é muito mais densa e coesa.
Neste auditório, somos 150 pessoas. A despeito da quantidade, a tessitura dos relacionamentos pode ser rarefeita. Caso seja densa, teremos muito maior capacidade operacional, de realizar e de inovar. A conectividade não é elemento capaz de organizar o processo, mas também de produzir resultado nele. A dinâmica da conectividade é pouco controlável. Fazer conexão é fazer contato, manter relação. Estabelecida, ela acaba por levar a outras conexões. Conhecemos bem como se processa uma rede de amizades: um amigo apresenta outro amigo e, assim, sucessivamente. Quando um amigo se conecta a outro, estende a conexão a outro conjunto de amigos. Esse processo dinâmico e não-linear constrói complexidade difícil de controlar. O processo se multiplica e cresce sempre.
Apresento exemplos de dinâmicas informais e não-institucionais de rede, que vivenciei. Não havia instituição ou hierarquia envolvidas. Nem organograma, mas processo, fluxo. Sirvo-me deles para demonstrar de que forma podemos mudar o foco, a maneira de olhar, para perceber as dinâmicas que ocorrem invisível e transversalmente nos organogramas da instituição.
Começarei pelo exemplo da despedida. Um parente morreu. Esse foi o fato. Alguém recebeu a informação da morte e a passou adiante. Os demais parentes tiveram de colaborar, de achar soluções não-hierárquicas, para enterrá-lo. O fato provocador acabou gerando movimento de cooperação no grupo, que levou à modificação do fato. Unidas, as pessoas conseguiram sepultar o parente, despedir-se dele adequadamente, sem haver “coordenador de enterro” ou “chefe de velório”. Como a morte e o sepultamento foram em cidades diferentes, a mobilização para o enterro envolveu vôos e deslocamentos de pessoas. Foi complicado, mas ocorreu de forma tranqüila, sem conflitos. O objetivo foi atingido. Que ordem é essa? É a organização sem comando central, de desenho horizontal.
Outro exemplo: alguém precisa de transfusão de sangue ou morrerá. Como ocorre o processo? Por rede: uma pessoa fala de outra que necessita de sangue tipo X, e que, para doá-lo, é preciso contatar certa pessoa. A informação passa de conexão a conexão, circula até encontrar pessoas com o mesmo tipo sangüíneo e predispostas a doá-lo. O processo se concretizou por interação, sem comando central. Cada um executou a ação pertinente em prol do objetivo comum: coleta de sangue para a transfusão.
Um outro exemplo aconteceu numa rede de educação ambiental e constituiu experiência muito interessante, porque já existia mobilização de rede, em nível nacional, dedicada à questão. O Ministro da Educação Cristóvão Buarque extinguiu a Secretaria de Educação Ambiental e demitiu o coordenador. Muitos se mobilizaram contra isso, mandaram mensagens eletrônicas ao ministro, pedindo a permanência do coordenador e da Secretaria. Todos da rede se comunicaram e encaminharam mensagens. O ministro reviu a decisão, mantendo a Secretaria e o coordenador. Sucesso total em rede.
Outro exemplo. A polícia deteve um menino que portava maconha. Era filho do caseiro do sítio do parente de alguém... Comunicaram a prisão a duas pessoas. Esta informação poderia simplesmente percorrer toda a rede. Mas um sujeito, ao saber da notícia, não só passou-a adiante como indicou que era preciso ajudar o menino. O enfoque da notícia mudou totalmente, e sua dinâmica se transformou. As pessoas foram se intercomunicando, agora com a informação nova. A notícia ganhou outra dimensão e a rede atuou de forma diferente. A novidade surgiu do processo de intercomunicação entre os sujeitos.
O processo retornou, foi recursivo, e a informação se renovou. O objetivo foi repactuado e uma pessoa, a qual o menino não conhecia – porque ignorava praticamente todos os componentes da rede, envolvidos em seu processo de liberdade – tirou-o da cadeia. Sem entrarmos no mérito da questão, o fato é que essa pessoa ligou para o delegado e conseguiu a liberdade do menino. Em síntese, a rede absorveu uma informação, reconstruiu-a, repensou seu objetivo e realizou ação que não estava predeterminada. O objetivo surgiu no processo. E o menino, que sequer sabia o nome de quem o salvou, foi libertado. Na realidade, entretanto, não foi salvo pela moça que ligou para o delegado, mas pela dinâmica de rede que ali se constituiu.
Acredito que, ao pensarmos em como fomentar e/ou gerenciar processos de rede, devemos observar os elementos do exemplo anterior. O primeiro aspecto é que fatos geradores sempre estão, naturalmente, na origem de dinâmicas colaborativas.
Logo, se quisermos construir e fomentar redes, precisamos criar fatos geradores. De modo geral, esses fatos já trazem em si o objetivo.
Outro elemento fundamental é o livre fluxo de informação. Havendo possibilidade de a informação fluir livremente, há chance de emergir ordem e, conseqüentemente, de emergir novidade. Foi o que ocorreu no referido exemplo.
Como base nesse processo, já se havia instalado ambiente favorável de conectividade, em que as pessoas se conheciam. Caso contrário, não haveria sangue para o necessitado nem a libertação do menino. Porque havia conectividade, pôde haver resultado conseqüente no processo. Precisamos incentivar a conectividade, caso pensemos trabalhar em rede.
A conectividade, por si só, não é suficiente. Estamos aqui conectados, mas nem por isso há trabalho em rede. Se não houver conectividade, não haverá qualquer tipo de trabalho. Assim, mais do que fomentar a ambiência de conectividade, é preciso se instaurar ambiência que favoreça à cooperação. No caso da doação de sangue, por exemplo, não havia predisposição entre as pessoas para cooperar. Só emergiu a predisposição a partir do momento em que houve um fato gerador, um objetivo e uma necessidade. Havendo a informação clara de que há necessidade, as pessoas se dispõem a cooperar.
É importante que a informação tenha em si elemento capaz de gerar a cooperação. Exemplo: fulano foi preso. “E eu com isso?”, poderíamos questionar. Foi preso? Coitado... Alguém teve, porém, a idéia de acrescentar outro elemento à informação. Fulano foi preso, precisamos libertá-lo. A informação que circulou livremente pelo ambiente de conectividade trouxe consigo elementos capazes de produzir vontade de cooperar. Por isso, a informação deve ser relevante, clara e completa. Em decorrência de tudo isso, teremos a ação humana deliberada.
O mais significativo, no último processo, foi a existência do fato gerador e de livre fluxo de informação. A ação coletiva não estava predeterminada. Surgiu à medida que houve interconexão. Redes, nesse sentido, são muito mais do que conjunto de articulações que se façam e se definam como tal. Redes são uma dinâmica de trabalho colaborativo emergente, que pode ou não surgir, que pode surgir e morrer. Portanto, mais do que pensarmos redes à maneira institucional, seria melhor pensarmos nelas como relâmpagos de colaboração que surgem em determinados grupos.
Deixo, agora, tudo o que expus à reflexão de vocês.
05
Redes e Capital Social
Gilberto Fugimoto
REDES
Há uma tradição histórica em acreditar que a organização social – de pequenos grupos a nações – “naturalmente” necessita ser hierárquica. Desde os primórdios da organização humana há senhores, chefes, caciques, faraós, reis, imperadores prevalecendo sobre servos, vassalos, escravos, súditos em tribos, vilas, cidades, reinos.
Adotar novos paradigmas de organização horizontal implica exercitar o raciocínio em bases distintas da tradição cultural das civilizações. Entretanto, redes sociais podem ser entendidas como a forma de expressão mais básica de organização humana, que se expressa nas relações pessoais que cada um de nós desenvolve.
Mas se Redes Sociais pode ser associado a um fenômeno tão antigo quanto a organização humana, como explicar a novidade do conceito? Por que o súbito interesse nesta nova abordagem organizacional?
Enfrentar os desafios sociais da atualidade requer uma visão sistêmica que permita considerar as diferentes forças e vetores que interagem na realidade. Uma concepção cartesiana tende a simplificar a teia de possibilidades e relações que envolvem os grupos sociais.
Articulação em redes – sociais, comunitárias – representa um esforço de comunicação, uma confiança no coletivo; uma aposta radical na democracia que se expressa nas relações cotidianas.
Redes Sociais tornam-se instrumentos que permitem incluir a diversidade e a participação coletiva dos atores sociais. Além disso elas podem ser encaradas não só como instrumentos, como também indicadores de um fenômeno social mais amplo – o capital social.
Capital Social
As conexões que os indivíduos estabelecem em uma comunidade através de redes – sociais ou comunitárias – podem produzir um ambiente de confiança mútua que pode agir em benefício coletivo.
Redes, normas e confiança são elementos essenciais na definição de capital social. Confiança facilita cooperação; quanto maior a confiança entre pessoas de uma comunidade, maior a probabilidade de cooperação entre elas. Embora haja muitas normas de comportamento que contribuam para formar capital social, a cooperação é de longe a mais importante. Sua difusão proporciona um ambiente de trocas mútuas.
Poderíamos então definir Capital Social como uma estrutura social que facilita ações de cooperação entre atores sociais. Sua definição no entanto não é tangível como capital físico ou humano, uma vez que ele se expressa nas relações entre as pessoas. Em resumo o conceito enfatiza a quantidade e qualidade de conexões entre indivíduos numa comunidade e como elas influenciam o funcionamento desta.
Políticas governamentais apresentam respostas mais efetivas em sociedades com Capital Social desenvolvido. Considera-se que normas, confiança e redes sociais – formadoras de capital social – contribuem para melhorar a educação, reduzir a pobreza, inibir o crime, incentivar o desenvolvimento econômico.
Capital Social e Lazer
A falta de cidadãos participando em suas comunidades vem sendo objeto de exame recente. Além de afetar os relacionamentos pessoais e de vizinhança, esta falta de participação comunitária é citada como a principal razão para o declínio do envolvimento social que contribui para o desenvolvimento de comunidades.
Nota-se que uma queda significativa do nível de participação em movimentos sociais e no capital social é atribuída à privatização do tempo de lazer do trabalhador proporcionada principalmente pela televisão. Sem oportunidade de interagir com outros fora de seu espaço familiar, as redes sociais são perdidas, diminuindo a cooperação e a participação social.
Este aspecto parece ser especialmente significativo para uma instituição como o SESC, que há quase 60 anos se propõe promover o lazer como instrumento e indicador da qualidade de vida do trabalhador e de sua comunidade.
Redes Globais, Redes Locais
As questões acima nos remetem a reflexões mais amplas sobre os caminhos da sociedade contemporânea. A globalização e a tecnologia em excesso contribuirão para diminuir o senso de comunidade e pertencimento ao local? Ou novas identidades comunitárias serão forjadas na luta e na resistência à onda global?
Ou ainda ambas hipóteses serão válidas? Sendo assim, de que forma esses fluxos planetários de capital, insumos e informação, que tecem uma nova teia global, contribuem para tecer (ou desfazer) redes locais?
Conclusão
Buscar caminhos para a transformação social através da participação coletiva e a criação de um ambiente de confiança e participação em redes comunitárias, pode parecer óbvio. Seria, não fossem os enormes muros erguidos pelo homem nas conexões consigo mesmo e o próximo.
Rio, setembro 2005
06
Redes Comunitárias
Luiz Fernando Sarmento
Aqui, dando continuidade ao texto Visão de Mundo,
tento sistematizar o que vislumbro como Redes Comunitárias.
tento sistematizar o que vislumbro como Redes Comunitárias.
Mesmo sendo um texto pessoal,
nele estão inseridas idéias e informações que tenho internalizado.
Como tudo, ou quase, um risco.
Redes Humanitárias Comunitárias
Interesses comuns fazem com que um se comunique com outro que se comunica com outro que se comunica com todos que se comunicam com cada um e todos. Cada um agora tem acesso a outro e a todos.
É a rede. É instrumento, é meio, é base para relacionamentos. Facilita comunicações, acessos a informações. Pressupõe autonomia, não hierarquia. A iniciativa é individual. O compartilhamento é coletivo. A interação é decorrência.
Seus conteúdos indicam seus efeitos.
Como na natureza, a semente indica a árvore, o fruto.
Redes de Redes
Quando um que faz parte de uma rede se comunica com outro que faz parte de outra rede, dá partida para um sistema de redes. Rede + rede não é soma, é multiplicação de possibilidades de intercomunicações.
Síntese
O conteúdo da rede é sua essência.
A essência da rede é seu conteúdo.
Objetivos
As Redes Comunitárias são aqui instrumentos para o desenvolvimento sustentável integral - emocional, físico, econômico - de cada um e de todos, especialmente os hoje excluídos.
Para isto, aqui e atualmente, redes comunitárias procuram facilitar conhecimentos mútuos, trocas de informações, parcerias e soluções.
Espaços
Como outras redes, as Comunitárias são dinâmicas: agora diferentes de antes e depois. Variam virtual e fisicamente. Alguns encontros presenciais facilitam a sua formação.
Hoje, há espaços para reflexões não conclusivas: os Livre Pensar Social, os Movimentos Emocionais e Transformações Sociais. Há espaços propícios a parcerias e realizações: os Encontros Comunitários. Em todos, estímulos à criação e fortalecimento de vínculos.
Chega Mais
Suavidade. Singeleza. O diferencial está no acolhimento. E, naturalmente, quem cuida de si mesmo poderá ter melhores condições de cuidar de outros. Só dá quem tem. Só dá de si se tem em si.
Acolher aqui significa facilitar, em cada ato, em cada passo, a inclusão, o compartilhamento de informações e ações. Criar oportunidades para que cada um e todos se expressem, respeitados os limites, especialmente dos focos e dos tempos. Ética como princípio.
Desejos
Vejo o que nunca vi, desejo o novo. Necessidades - físicas, afetivas, financeiras e mais - são volta e meia despertadas. Especialmente se o desejante sente falta e não sabe de que, de quem. Tende então a substituir o que deseja - mas não sabe - por objetos que por um tempo poderão suprir o vazio.
O que não sabe - mas provoca em si desejos substitutivos atuais - pode, como exemplos, estar relacionado, lá atrás, com um parto difícil, um desmame precoce, ausências de afeto, falta de comida e recursos... Ou com sofrimentos de violências físicas, emocionais mais recentes. Desejos substitutivos não excluem puros desejos.
Desejos não supridos ampliam vazios. Muitos dos desejos não emergem, desaparecem quando o desejante está emocionalmente suprido. Sócrates, parece, tinha razão: conhece-te a ti mesmo.
Mercado Social
Na feira – no teatro, restaurante, livraria, banco, hospital... - uns oferecem, outros procuram. Ali se encontram e interagem, se satisfazem. Neste momento agora, em algum lugar, alguém, alguéns devem estar à procura de pessoas com características semelhantes às nossas, à procura de afetos, objetos e serviços que dispomos. Não sabem que existimos, não sabemos quem são.
Em comunidades, populações inteiras desejam se suprir de necessidades básicas - comida, casa, condução, luz, esgoto, trabalho, conhecimentos, insights, afetos > cultura...
Umas se suprem de um tudo ou de um tanto, trabalham, se alimentam, divertem-se, se desenvolvem econômica e emocionalmente. Outras, quase nada, falta um quase tudo. Querem trabalho, não têm. Têm fome, também. Minguam. Sofrem violência, implodem, explodem.
Uns não sabem dos outros. Ou sabem, mas não conhecem como chegar perto, se relacionar, interagir. Alguns nem entre si se conhecem.
Os que têm se sentem ameaçados, se protegem, se fecham, atacam. Ou não: quando se encontram, juntos criam soluções, compartilham. Comunidades, pessoas e instituições oferecem recursos que dispõem – os mais diversos, financeiros ou não - a outras que procuram.
Encontros
A Rede Comunitária se forma, se amplia nos encontros. Como instrumento, o principal objetivo da rede é o desenvolvimento integral do indivíduo e da coletividade. Em integral leia-se emocional, econômico, cultural e mais.
Os modos como os encontros se dão, já, em si, adotam práticas de inclusão, simplicidade, eficiência, eficácia, efetividade. A metodologia é dinâmica, comporta criatividade e adaptações às realidades locais.
Cada encontro contribui para o processo de organização e emancipação social. Um cuida do pensar livremente o social, sem intenções conclusivas. Abre janelas e ao mesmo tempo propicia vínculos entre os representantes de instituições. Outro se foca no desenvolvimento emocional como base para o desenvolvimento humano, comunitário, social. Outros facilitam integrações e práticas de parcerias.
As redes formadas em cada encontro se inter-relacionam. Ampliam-se como redes de redes. E se multiplicam quando interligadas a outras redes internas e externas às instituições que as promovem, ao bairro-comunidade, ao Rio, à América Latina, ao mundo. Incontroláveis, incomensuráveis. Parece brincadeira e não deixa de ser.
Livre Pensar Social
Articuladores, apoiadores e realizadores de projetos comunitários - sem compromisso conclusivo ou deliberativo - compartilham idéias, informações e reflexões focadas em desenvolvimento humano e social.
Sua dinâmica contempla breves falas de um ou dois convidados - sobre temas de sua especialidade - cabendo aos demais um espaço democrático de participação, diálogo, debate.
Para facilitar intercâmbios, o número de participantes é limitado e a metodologia inclui equalização das instituições presentes, cadeiras em roda e curtos tempos de falas focadas no compartilhamento de informações entre os presentes.
Na prática, além das possibilidades de absorção de novos conhecimentos e ampliações de visões, estes encontros fortalecem vínculos entre representantes das instituições participantes –e facilitam micro e macroparcerias.
METS
Movimento Emocional e Transformação Social: este encontro procura congregar profissionais - que consideram desenvolvimento emocional como base para desenvolvimento humano e social - e representantes de instituições públicas, privadas e do 3º setor que atuam direta ou indiretamente junto a populações excluídas e que se interessam ou poderão se interessar por intervenções similares.
Também aqui, é limitado o número de participantes e a metodologia é semelhante à do Livre Pensar Social. É um encontro não conclusivo, interativo, reflexivo, onde todos e cada um têm tempo e espaço para compartilhar idéias e informações.
Encontros Comunitários
São mini-fóruns mensais voltados para a facilitação e realização prática de parcerias entre realizadores de projetos sociais, representantes de comunidades, instituições privadas, públicas e do terceiro setor.
Um a um, cada participante se apresenta e fala do que veio procurar e do que veio oferecer. Todos têm oportunidade de falar. E, quando cada um sabe quem é quem, o espaço se abre para o aprofundamento de relações e formação de parcerias.
Assim as Redes Comunitárias têm se expandido.
Encontros Comunitários: Metodologia
Nestes encontros, cada um, no máximo de um minuto,
se apresenta e fala do que procura, do que oferece.
Depois de todos se apresentarem,
conversas individuais aprofundam re-conhecimentos,
na busca de concretização de parcerias.
Tem dado certo.
Todos têm a oferecer. Seja o espaço, seja a facilitação de acesso à comunidade. Ou o contato com públicos locais ou os conhecimentos e energia do lider informal. Ou ainda o trabalho voluntário, eventualmente recursos, experiência, know-how, vagas - remuneradas ou não - para estágios ou serviços...
Ao mesmo tempo, todos procuram parceiros.
No mini-fórum, um exercício da democratização de oportunidades,
de qualificação e equalização dos participantes.
Cada um, aqui, tem algo a oferecer ou procura por algo.
Nestes momentos, somos iguais.
E são muitos e os mais diversos os atores sociais que participam das Redes. Lideranças e empreendedores comunitários, representantes de instituições informais e formais - públicas, privadas e do terceiro setor.
Metodologia, detalhes
Para facilitar intercomunicações e realizações, são disponibilizadas Listas de Participantes (disponíveis, se solicitadas), com contatos-telefones e/ou e-mails - de todos que participaram até o encontro anterior.
E, complementando informações, os Classificados Sociais (disponíveis, se solicitadas), onde instituições expõem o que procuram, o que oferecem e relatam parcerias realizadas.
Começa na hora marcada. Com quem esteja presente, em respeito aos que já chegaram. Na sala grande, cadeiras em roda. Na medida em que novos chegam, os participantes iniciais cedem espaços, se ajeitam para acolhê-los. A roda aumenta.
De início, informa-se a pauta. E o método: cada participante terá um tempo - 1 minuto, 2 minutos - para falar seu nome-telefone-contato, que grupo-instituição-comunidade representa, o que veio oferecer, o que veio procurar. E, fechando esta fase de mútuas apresentações, brincadeira interativa, jogo cooperativo.
Jogo Cooperativo, exemplo
Tipo: uma – imaginária ou real – bola de soprar para cada um.
Todos são convidados a se levantar, a caminhar dentro da roda,
sempre levando consigo sua bola-que-representa-seu-projeto comunitário.
Sugere-se que cada um procure – por exemplo – alguém com sapatos claros. Encontrou? Encoste seu pé no dele, dela.
Encostou, parou, pés colados.
Agora - permaneça colado - veja ao redor quem tem camisa-blusa mais clara.
Coloque a mão esquerda no ombro desta pessoa.
Sempre cuidando de seu projeto, representado pela sua bola.
Ainda sem sair do lugar,
a mão direita no ombro de quem esteja com saia
ou calça comprida escura
ou - invente, experimente -
no ombro de quem assovie o mais bonito.
Neste caso, é sugerido antes
que cada um capriche um assovio.
Situação de empatia armada, o aviso.
Olhos fechados, quando contarmos até três,
no três é jogar a bola-projeto para cima.
E cada um e todos tentaremos mantê-los no alto.
Um... dois... três.
E, fala de fechamento:
as bolas que estourarem
são os projetos que dão certo.
Plum-plá-plact-zum... integração.
Metodologia, mais detalhes
Segunda fase:
Agora, ao lado, mesa com frutas-suco-refresco-biscoito-café-água.
Cada um troca idéias-informações com quem tenha interesse comum.
Apresentações feitas, informações trocadas, encontros marcados,
parcerias articuladas, boca-a-boca a rede se amplia.
Animação de Rede
A primeira fase de um encontro comunitário é de apresentação de cada um a todos. Uma segunda fase, ao redor da mesa com alimentos, é a possibilidade de conversas individuais livres: cada um procura aquele ou aqueles por quem se interessou e, aí, aprofunda a troca de informações e recursos, articula parcerias.
Cada encontro comunitário pressupõe a existência de um moderador.
Algumas ações são reais e simbólicas:
começar na hora significa respeitar os que já chegaram.
Formar uma roda do tamanho dos que chegaram significa que todo novo chegante poderá ser acolhido como quem nos visita em casa: puxa uma cadeira, se inclui.
Alimentos saudáveis no lanche significam cuidar da vida.
Distribuição de Listas de Participantes e Classificados Sociais significa compartilhamento de informações básicas e fortalecimento de possibilidades de intercomunicações e, em decorrência, parcerias e realizações.
Distribuição de textos simples que geram reflexões - eventualmente insights - ampliam visões de mundo, possibilitam transformações de comportamentos.
Enviar convites - virtuais e físicos - com antecedência de 30 dias significa: agende-se. De novo, com antecedência de 7 dias, um reforço: desejamos mesmo sua presença.
Telefonar na semana anterior ao encontro para aqueles que não dispõem de e-mails significa incluir os que não têm e-mails.
Algumas regras devem ser esclarecidas de início:
cada participante, logo na entrada, deve preencher uma identificação – nome pessoal, instituição que representa. Durante o encontro, deve expor no corpo este adesivo ou crachá. Facilita encontros.
Logo no início, a cada um é entregue
lista atualizada com informações
- instituição, contato, telefone e e-mail -
relativa a todos que têm participado dos encontros
realizados anteriormente. E datas-horários-locais previstos
para encontros comunitários dos meses subsequentes.
Também atualizados e distribuidos os
Classificados Sociais,
impressos que reproduzem informações relativas
ao que é oferecido e procurado por cada instituição,
além de parcerias já realizadas ou em andamento.
Outras informações poderão ser oferecidas por cada participante: cartões, folhetos, revistas, informativos.
Na primeira fase cada um terá um tempo - 1, 2, 3, mais minutos? - para se expressar. Neste momento deverá manter o foco do encontro - informar nome, instituição que representa e, objetivamente, o que veio procurar, o que veio oferecer.
Eventualmente uma ampulheta, manobrada pelo próprio falador da vez, lembra a ele ou ela do limite de tempo. Ou esta lembrança é estimulada por uma bola grande, colorida, que passa de mão em mão e permanece com quem fala durante sua fala. Pronto. Bola para frente.
O mediador tem aqui a função de, afetiva e efetivamente, orientar, cuidar do timing.
Aqui cabem todos, independente de título, sexo, raça, cor, tamanho, crenças, credos. Assim não cabem aqui falas político-religiosas partidárias.
Solicita-se: só ofereça o que tem condições de oferecer e cumprir. Só procure o que necessita.
Se muitos os participantes do encontro, somente um fala por cada instituição. Se excessivo o número de participantes, bom problema. Merece criatividade em soluções.
Cada um - se deseja divulgar suas informações - deve preencher um formulário com nome, instituição, telefone, e-mail, endereço. E mais o que procura, o que oferece, as parcerias já realizadas ou em andamento.
Estes dados comporão uma Lista de Participantes e os Classificados Sociais - que serão multiplicados e distribuídos, em papel ou por e-mails, para todos os participantes do próximo encontro e para quem mais o desejar. O objetivo é facilitar intercomunicações e parceria.
Futuro, logologo
Os objetivos - desenvolvimento integral individual e coletivo > aliados à metodologia simples, afetiva, eficiente, inclusiva, interativa - estimulam iniciativas de expansão das Redes Comunitárias.
Somos muitos - pessoas, instituições informais e formais - tanto os que desejam se suprir quanto os que desejam contribuir com suprimentos.
Na medida em que nos encontremos, tomemos conhecimento dos desejos mútuos, nos conheçamos e criemos relações de confiança, aumentam as possibilidades de realizarmos complementações e parcerias.
Instituições financeiras fortes, braços operacionais públicos e empresas privadas com visão social têm tido dificuldade em identificar e acessar instituições formais ou informais potencialmente usufruidoras do que oferecem.
Metodologias tradicionais - uns poucos falam, muitos escutam - podem não cumprir satisfatoriamente suas intenções de integrar participantes, gerar intercomunicações, interações, realizações. Naturalmente instituições vivas tenderão a adotar metodologias que supram seus objetivos.
Por outro lado, encontros em rede com metodologias e objetivos similares à aqui descrita têm se expandido no Grande Rio.
Acreditamos que, em sua busca de inclusão e expansão de ações parceiras, comunidades de todo o Brasil e da América Latina - e de quaisquer nações com recursos sub-aproveitados - tenderão naturalmente a também adotar soluções tão simples como os compartilhamentos individuais e coletivos de excessos. Também o que é bom se espalha.
07
Sonho e Realidade
Luiz Fernando Sarmento
redes comunitárias
próximos passos
versão 11
Síntese
Aqui cuidamos do desenvolvimento integral
individual e coletivo.
Agregamos inovação tecnológica social e, ao mesmo tempo - junto a comunidades populares empobrecidas - a utilizamos na prática, nos transformamos.
Consideramos a construção coletiva de conhecimentos, mútua, por todos os que participam do processo.
Mais do que um projeto, são movimentos.
Seus resultados dependem da iniciativa de cada um
que se proponha participar.
Aberto
Este é um texto aberto.
Um tanto do relatado já acontece. Outros quantos
são caminhos aventados. Escrito e re-escrito como fruto de conversas com parceiros, é um pouco utoprática:
sonhamos, refletimos, caminhamos.
É idéia e é prática.
Assim, é um texto alterável em função de realidades concretas e potenciais. Temos atualizado nova versão deste texto a cada vez que um e outro
- que se permite imaginar, experimentar - contribui.
Aqui, muitas vezes, idéias ainda fragmentadas,
como legos. Quebra-cabeças à procura de montagem.
São variadas as fontes das idéias aqui escritas.
Imagine
pessoas interessantes e interessadas - moradoras de comunidades populares empobrecidas - se encontrando. Ali se apresentam e trocam informações, conhecimentos... e recursos.
Imagine que destes encontros participam outras pessoas e instituições interessadas, pelos mais diversos motivos, no bem estar coletivo. Instituições públicas, privadas, do 3º setor.
Imagine que nos momentos dos encontros nos colocamos iguais. E que este espaço neutro está aberto a todos que se interessem, independente de raça, credo, cor, partido...
Ali seres diferentes, mas iguais em direitos e responsabilidades, oferecem, um de cada vez, o que desejam e podem oferecer. E procuram o que suas comunidades e instituições necessitam.
Encontros transparentes onde cada um dá e recebe força para um e de outro, de e para todos.
Imagine
que estas ofertas e procuras declaradas em cada encontro sejam escritas e distribuídas entre os presentes.
A realidade mostra:
muito do que é procurado por moradores de comunidades populares empobrecidas... pode ser oferecido por moradores de outros locais, por instituições privadas, públicas, de interesse coletivo. Estas procuras e estas ofertas muitas e muitas vezes não se encontram. Imagine se o que procura encontra o que oferece...
Estes encontros
existem e são realizados de um jeito simples e com resultados.
E quem vai uma vez, convida outro, que convida outros...
Em todo lugar
Muito de comum existe entre moradores de comunidades populares empobrecidas do Rio de Janeiro
- Grota, Morro dos Macacos, do Alemão, do Encontro, do Adeus, do Juramento, do Amor, da Baiana, do Urubu, do Estado, dos Prazeres. E Vidigal, Vigário Geral, Cidade de Deus, Fazenda Palmeiras, Chapadão...
Maré, Lixão, Borel, Rocinha, Manguinhos, Itararé, Rio das Pedras, Parque Everest, Parque Real, Parque Roquete Pinto. Vila Cruzeiro, Vila do João, Vila Proletária, Fragoso, Parada de Lucas, Acari, Arará... -,
... entre moradores de comunidades de outras pequenas, médias e grandes cidades
- Recife, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Resende, Belém, Goiânia, Friburgo, Ribeirão Preto, Macapá, Curitiba, Brasília, Campo Grande, Campos, Campinas...
Fortaleza, Montes Claros, Salinas, Bocaiúva, Salvador, a sua, a minha, a nossa... -
... e também entre os que moram em comunidades semelhantes, no mundo todo:
Aqui, ali e acolá questões locais se tornam universais.
Primeiros passos
Das redes comunitárias participam moradores de comunidades populares e empobrecidas, profissionais autônomos, voluntários, representantes de empresas, de serviços públicos, de organizações não governamentais.
Na medida em que se encontram, têm oportunidades de se conhecerem e expressar o que procuram, o que oferecem. Parcerias são articuladas e, realizadas, relações de confiança são construídas.
Recordamos, em resumo, a metodologia:
Base das Redes Comunitárias,
os encontros são voltados para a prática de parcerias entre comunidades populares
e instituições privadas, públicas e do terceiro setor,
além de profissionais autônomos voluntários.
De modo simples e objetivo,
cada um dos presentes,
representantes de instituições e de comunidades,
se apresenta
e fala do que veio procurar e do que veio oferecer.
Todos têm oportunidade de falar e de ouvir.
E, quando cada um sabe quem é quem,
o espaço se abre para o aprofundamento de relações
e formação de parcerias.
Para facilitar articulações entre todos, cada um recebe – impressa ou virtualmente – uma relação atualizada de participantes, com endereços, telefones, e-mails. E os Classificados Sociais, que descrevem sinteticamente o que é oferecido, o que é procurado.
Imagine
que estas mesmas informações sejam visíveis através de um site específico de Classificados Sociais. Onde possam ser incluídos todos aqueles que não participam presencialmente dos encontros comunitários – mas que desejam compartilhar o que têm para oferecer: recursos físicos, financeiros, de conhecimento e outros.
Enquanto isto...
Além dos encontros normais - no processo de formação de redes comunitárias e de capitais sociais - são realizadas oficinas de redes voltadas especificamente para moradores de comunidades populares empobrecidas que buscam soluções para suas populações, para sua região, para seu território.
Estas oficinas têm o propósito de facilitar a integração de lideranças, sua intercomunicação e, principalmente, a produção conjunta - mútua - de conhecimentos e metodologias.
E ainda, por meio de trocas de informações e experiências, realizam-se imersões em redes - encontros aprofundados de gestores de redes comunitárias com instituições parceiras - focadas no aperfeiçoamento de metodologias de articulação de redes sociais.
Em algumas comunidades
Na construção de novas realidades,
então combinamos assim:
cuido, com você, um tanto de você,
você, comigo, um tanto de mim.
Ao invés de você ou eu,
agora eu e você e outros. Nós.
Mais do que soma, multiplicação.
Parece simples.
E é.
Razão, emoção
Sabemos que nem sempre é assim. Em nossas histórias de vida, momentos difíceis nos marcam. Na tentativa de evitar sofrimentos semelhantes, muitas vezes defesas pessoais são armadas, sentimentos negativos se instalam. Com o medo, a desconfiança do outro, vem o isolamento. “Não me aproximo para não sofrer.”
O emocional sempre presente.
Repetidamente, aparentes objetos de desejo têm a função de substituir outros desejos. Algo como um vazio se estabelece quando estes desejos originais, mais profundos, não são supridos.
Ninguém melhor que cada pessoa para estar consciente dos seus próprios vazios. E, consciente, escolher seus caminhos, qualificar sua vida.
Sentir, perceber, pensar, agir.
Caminhos
Um clima de confiança facilita entendimentos. Quando descobertos objetivos comuns, se formam eventuais parcerias entre dois ou mais participantes. Com vivências e tempo, os vínculos se estreitam. O ambiente se torna propício a relações duradouras. A organização comunitária se torna viável.
Comunitários se fortalecem quando se organizam. Organizados, aumentam as possibilidades de realização de desejos individuais e coletivos.
Imagine um palco. Ali atores – pessoas, instituições – desejam e oferecem. Há recursos: financeiros, físicos, de serviços. Gente, equipamentos, imóveis, estruturas, conhecimentos estão disponíveis. Oferta e procura.
Tempo
Trabalhar para o presente. No processo de transformações individuais e sociais - quando o objetivo é alegria no viver - parece ser possível cuidar de vivenciar no presente um tanto do futuro desejado.
Em relação às redes comunitárias lembramos os primeiros movimentos - encontros das redes propiciam aproximações individuais e coletivas - e aventamos os próximos passos.
Individualmente, num segundo momento, é interessante caírem fichas, surgirem insights, tomar consciência, esclarecer-se internamente.
O que é público, o que é privado. O que me permito, o que a outros inibo. O que está em meu poder de realização, o que depende de outros. O que cabe a mim, o que cabe ao outro.
Sentir, sacar, refletir, agir com ética.
Isto - conhecer-se, um tanto, a si mesmo - contorna barreiras que habitualmente impedem aproximações do outro. Este segundo passo se refere então ao desenvolvimento emocional, ao conhecimento subjetivo.
Neste caminho que se confunde com a meta - onde o prazer cada vez mais está no caminhar - o passo seguinte cuida da organização comunitária em si, do conhecimento objetivo.
A realidade determina a ordem dos passos.
Ao mesmo tempo, são sujeitos e objetos de transformação todos os que participam do processo de organização comunitária. Todos aprendem nesta construção. Os representantes das comunidades populares, os gestores de rede, os parceiros institucionais e individuais, os alunos-mestres-alunos, os mobilizadores.
Aprender fazendo
Imagine que, dentre aqueles que participam dos encontros de rede, alguns identificam desejos, objetivos comuns. Sejam relacionados a um tema – por exemplo, geração de renda para jovens e adultos. Sejam relacionados a um território – por exemplo, um conjunto de comunidades, um complexo.
Foquemos. São compartilhadas informações sobre organização comunitária entre os que propõem desenvolver trabalho coletivo. Paralelamente, é também disponibilizado apoio ao desenvolvimento emocional do grupo, como contribuição para sua integração.
Aqui consideramos disponíveis os recursos estruturantes. Os parceiros mobilizadores já se articularam e contam com o necessário para, por sua vez, trocar informações com os comunitários.
A um parceiro cabe produzir os encontros comunitários, a base das redes. Em espaços neutros, digamos assim, onde diferentes podem se encontrar - independentemente de raça, credo, cor, partido...
A outro ou a outros cabem realizar os aprendizados mútuos, pragmáticos, para o desenvolvimento integral - emocional, cultural, econômico, social - do território.
Juntos os parceiros originais articulam entre si - e com novos parceiros - para que aconteça todo o processo de organização comunitária. Constroem coletivamente novas tecnologias sociais.
As informações são compartilhadas pelos que participam do processo e as formações e capacitações são mútuas. Aqui incluídos os comunitários, os gestores de rede, os parceiros, todos.
Quem está empobrecido e consegue sobreviver com recursos mínimos tem muito a ensinar da sua vivência. Quem não está empobrecido e consegue estudar, ler, viajar, ampliar seus conhecimentos técnicos e práticos tem também o que compartilhar.
Ensinar sendo
As informações compartilhadas incluem os conhecimentos básicos necessários ao levantamento de dados para um diagnóstico e para a elaboração de um plano de desenvolvimento territorial. Também a apresentação de outros atores, especialmente representantes de fontes de recursos – financeiros e todos.
No compartilhamento, a prática vem junto com os conhecimentos básicos. O levantamento de dados e o diagnóstico são realizados principalmente pelos comunitários, em consenso com os parceiros reais e potenciais.
O plano
Montado em consenso, o levantamento de dados abrange a descoberta da história local, a colheita de informações qualitativas e quantitativas sobre a população - educação, renda, meio ambiente, saúde, lazer, comunicação, condições de moradia.
E mais: o desenho da sua organização social, a identificação dos principais problemas. O que existe, o que se deseja, as iniciativas em andamento, as iniciativas previstas, o que precisa ser feito, quando, quem e como poderá contribuir.
O aprender vem junto com o fazer. O fazer junto e o compartilhamento de informações terá como frutos os resultados do levantamento, o mapeamento, a demarcação do território, a definição de indicadores sociais-econômicos-culturais-emocionais, o diagnóstico.
E mais: a elaboração de um plano, a apresentação em fórum aos comunitários do território, as adaptações e buscas de consenso, as perspectivas de implantação.
Encontro de si consigo mesmo, o desejado equilíbrio emocional - base necessária ao desenvolvimento integral individual e coletivo - é cuidado em cada fase, em cada encontro de um com o outro.
Juntos e ao mesmo tempo, em cada um e no conjunto, se desenvolvem, o emocional, o econômico, o cultural, o social.
Recursos
O capital básico de uma comunidade é sua organização. Este é o Capital Social. A organização da comunidade facilita o acesso a recursos.
Recursos no sentido amplo, individuais e institucionais: financeiros, físicos, de conhecimento, de serviços... Tantas fontes que nem sabemos.
O processo de aprendizagem mútua inclui, além da definição das necessidades, pesquisa de fontes de recursos. E articulação: aproximação com as fontes, negociação, busca de consenso. Sabemos que recursos são limitados e seus destinos priorizados.
De um lado, como fontes financeiras, recursos públicos: bancos, instituições de desenvolvimento econômico e social, fundos de financiamento, isenções fiscais... De outro, recursos privados que visem lucros sociais. Fontes nacionais e externas - internacionais, transnacionais.
Há também, como recursos, os não financeiros - voluntários, serviços, imóveis, equipamentos... Provenientes de todos os setores.
Implantação
Numa visão abrangente, a implantação se inicia quando as primeiras e simples parcerias acontecem. Aqui, já tendo o plano de desenvolvimento como referência, o processo de realização se dá agora em função da disponibilidade dos recursos.
A realidade nos surpreende enquanto planejamos. Volta e meia entram em cena outras oportunidades. Ao mesmo tempo, questões diferentes procuram soluções.
A mudança de realidade acontece já na implantação, quando se utiliza mão de obra local, tanto a qualificada quanto a que está sendo capacitada.
Nas construções de novas realidades, a implantação exige atenção, atualizações, adaptações. Cada comemoração pode ser o início do próximo passo.
Políticas públicas
Há espaços em setores públicos para representações da sociedade civil organizada. Como exemplo, conselhos municipais, estaduais, federais prevêem participação popular. Outros lugares, institucionais ou não, estão disponíveis... e vagos ou acessíveis.
Ali se definem políticas públicas, se constroem orçamentos, se cuida ora da micro ora da macroeconomia, se articulam prioridades. A sociedade civil organizada tanto pode ter acesso a estes espaços quanto a recursos em outros.
Hoje algumas instituições representativas da sociedade civil já participam de espaços no poder público. Por outro lado, recursos públicos, financeiros ou não - em instituições públicas e privadas - estão disponíveis para aqueles da sociedade civil que se organizem para acessá-los.
Bons Problemas
Outros passos
Aqui novas perspectivas.
Alguns vazios originais supridos, são outros os desejos.
A vida continua, agora noutros patamares. Alimentação, moradia, trabalho, transporte, saúde, educação, lazer... questões básicas resolvidas ou encaminhadas, surgem novas questões. Melhores problemas.
A imagem é de ondas, em espirais. Num crescente sobe desce constante, novos níveis sócio-econômico-emocionais são alcançados. À medida em que os desejos estruturais são supridos, a cultura individual e coletiva se transforma.
Quando atentos, cada um, a tendência é a simplificação dos desejos. No processo de implantação, o desenvolvimento integral.
Tanto quanto o mundo externo, o interno. O consciente, o inconsciente. Outras realidades. Quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Viagens interiores. Além da nossa imaginação...
Centro do meu universo
Dentro de cada um de nós também funcionam redes, independentes de nosso conhecimento. Sem saber por que e como, livres associações indicam outros caminhos. Uma palavra, uma imagem, um som, um não-sei-o-que dão partidas em idéias, estimulam ações, provocam alterações de comportamento.
Assim os planos funcionam. São modificados de acordo com a realidade e ações e não ações de cada de cada um e de todos. Nada é como antes. O retrato de hoje traduz só este momento.
Desatentos, nos perdemos. Atentos, acompanhamos os processos, contribuímos, participamos. O que hoje se planeja é o que hoje se deseja. A tese de hoje se mistura com a antítese de amanhã e forma uma síntese. Que por sua vez é naquele momento a nova tese, que se mistura...
Acredite se quiser
Aqui um espaço reservado para o que acontece ao mesmo tempo que se pratica o antes imaginado. Inovações, documentação do processo e comunicação do movimento. As idéias ainda fragmentadas, como legos, quebra-cabeças à procura de montagem. Os caos que antecedem ordenações.
Nada além de passar os olhos e reter o que naturalmente escolher nossos princípios:
novas metodologias, inversão de visões – por exemplo, invés de formar para o mercado, criar mercados a partir das potencialidades e dos desejos individuais - vivências, expansão de redes, visibilidade de oferta e procura social.
Formações, autoformações, transformações, oficinas de rede, encontros de gestores e parceiros, encontros com voluntários, com instituições, imersões, articulações.
Meios e transparência de comunicação - boca a boca, site, classificados sociais, cds, dvds, programas de tv e rádio, textos.
Criação, integração, produção, distribuição, veiculação, ramificação. Inclusão de parceiros via virtual, acesso a outras classes sociais, tempos e lugares.
Agência de informações, sistema de comunicação. Distribuição, veiculação, compartilhamento do que dá certo e interessa ao público.
Na prática
construção de redes. E redes de redes.
Integração de setores internos e externos: encontros com voluntários, encontros com empresas, encontros com instituições públicas e de interesse público, encontros com instituições comunitárias. Interação, encontros entre todos.
Na praia
Podemos pensar o mundo. Em comum, nele todo, formas de vida. As conhecidas, reino animal, vegetal. As - talvez despercebidas - minerais. As misteriosas, espirituais e mais.
Olhando de longe, tomando distância, um ser só, a Terra. Cada vida com sua função, mesmo que desconhecida.
O macro e o micro parecidos. Uma parte representa o todo. O micro é o macro pequeno. O macro é o micro grandão. A Terra é um mundo. O grão, o homem, outros. A Terra é menor que o micro em relação ao Universo. E também a Terra tem cá sua função. Equilíbrios dinâmicos.
Rápido, muito rápido o pensamento atravessa o Universo, vai lá no fundo do grão. Viajo sem sair de mim. E olha que, até agora, só razão. Limitada pela imaginação que cada um se permite.
Portas para outros universos, as emoções, os sentimentos, as sensações. Se respiro fundo, tudo muda. Minha percepção muda o mundo, mudo eu. Pulso, contraio, expando, origino ondas. Eu comigo mesmo.
Porém, se desatento, me desconheço. Pra mim nada disto existe. Percebo como de fora o que me é de dentro. A pedra se torna responsável pelo meu tropeço. O outro é responsável pelo que sou.
O sonho é sonho enquanto não realizado. Sonhamos, escrevemos, conversamos, re-escrevemos, articulamos, nos integramos, realizamos. O sonho se faz realidade.
Sonhamos e realizamos se nos permitimos. Escrevemos na tentativa de esclarecer, ordenar o aparente caos dos sonhos. Os que se identificam, acrescentam seus próprios sonhos, suas vontades, seus recursos. A soma dos jeitos e feitos, nos tempos de cada um. Do pensamento ao fazimento. Movimentos.
Resumo
passo a passo
1º passo
encontros comunitários,
construção de redes,
formação de parcerias
O Sesc Rio promove mensalmente, em várias unidades operacionais - Banco Rio de Alimentos, Engenho de Dentro, Friburgo, Madureira, Niterói, Nova Iguaçu, Ramos, São Gonçalo, São João de Meriti, Tijuca... - encontros presenciais comunitários,
bases das redes comunitárias.
A metodologia adotada facilita a participação de todos e de cada um dos presentes. E a realização de parcerias.
Esta mesma metodologia pode ser – e eventualmente vem sendo - adotada em outros encontros focados em transformações pessoais e sociais.
Dentro e fora do Brasil.
2º passo
recursos estruturantes
para compartilhamento mútuo de informações
Recursos básicos são necessários para suprir custos específicos relativos à aprendizagem conjunta dos que participam dos desenvolvimentos comunitários integrais aqui aventados. Como beneficiadas, instituições experientes, potencialmente parceiras.
Há, no mercado social, recursos disponíveis, especialmente quando, como aqui, se trata de novas tecnologias sociais.
3º passo
cuidados com o conhecimento subjetivo,
desenvolvimento emocional
Relações de confiança podem ser consideradas como essenciais à formação do Capital Social – que por sua vez é a base para o desenvolvimento comunitário.
Ao mesmo tempo, cada vez mais se percebe o equilíbrio emocional como base para o desenvolvimento integral individual e coletivo.
Existem hoje, em atuação dentro e fora das redes comunitárias, instituições e profissionais voltados para estes aspectos do desenvolvimento individual e coletivo.
Além destas experiências específicas, o Sesc Rio – em paralelo às redes comunitárias – criou, com parceiros, o METS, Movimento Emocional e Transformação Social, um espaço de experimentação em desenvolvimento emocional.
4º passo
cuidados com o conhecimento objetivo,
instrumentação para o desenvolvimento comunitário,
organização comunitária,
planejamento
Hoje são várias as instituições do terceiro setor que se dedicam à organização comunitária, em diversos níveis, no interior e nas capitais, em alguns estados brasileiros. Umas cuidam de desenvolvimentos temáticos, outras de territoriais.
Nestes casos, cuidam do desenvolvimento econômico-cultural-social. Não temos conhecimento de cuidados paralelos com o desenvolvimento emocional.
Em muitas delas, profissionais oriundos de comunidades populares contribuem com sua experiência comunitária - nasceram, viveram lá - aliada aos seus conhecimentos acadêmicos atuais.
5º passo
recursos para a realização do plano
Além das públicas – CEF, FINEP, BNDES, Petrobrás, Fundação Banco do Brasil... – fontes privadas de recursos, nacionais e exteriores, estão acessíveis a programas e projetos de interesse coletivo. Ainda mais quando outros parceiros significativos contribuem com seus recursos nos primeiros passos dos empreendimentos.
No Livre Pensar Social - espaço de reflexão promovido pelo Sesc Rio - instituições articuladoras de organização social têm trocado informações sobre planejamentos e financiamentos sociais. A utilização de parte dos recursos disponíveis é confirmada por projetos realizados ou em realização.
6º passo
implantação
É um processo que já se inicia nas primeiras parcerias realizadas a partir dos encontros comunitários. Dinâmica, a implantação toma corpo quando dispõe de novos recursos e quando os comunitários participam do processo com seus conhecimentos, competências e mão-de-obra. Realidades individuais e coletivas se transformam com a contrapartida das rendas.
7º passo
participação no poder público
representação como sociedade civil
Em todas as esferas do poder público - municipal, estadual, federal - hoje há espaços em setores para representações da sociedade civil organizada.
Outros passos
em aberto
O bem estar de comunidades populares empobrecidas interfere beneficamente em toda a sociedade.
Se considerado nesta cesta o aprendizado mútuo do equilíbrio emocional, estas comunidades, somando aos nossos os seus próprios esforços - e assim suprindo suas necessidades básicas - criam oportunidades inesperadas.
Imagine
Já no ventre, talvez antes dele, o básico individual e coletivo satisfeito: que mais cada um de nós necessitará? E se o suficiente impera, que faremos com nossos tempos, de nossas vidas?
Rio de Janeiro, março de 2006
Veja também os textos
Visão de Mundo,
Reflexões Sobre o Homem Novo
e Redes Comunitárias
Salvo engano
Não tenho tempo para lutar contra. Só luto a favor.
Cacilda Becker
Democracia é muito bom.
Lá em casa a gente pratica todo dia.
Tom Jobim
O tempo não para.
Cazuza
Tudo passa.
Danuza Leão
A mente se move e se move e o chi a segue.
Dito chinês
Por princípios, eu luto.
Dionino Colaneri
Relações de confiança são base
para formação do Capital Social.
Gilberto Fugimoto
Conhecimento se origina da experimentação.
Lou Marinoff
Uma verdade científica não triunfa porque se consiga convencer a seus opositores e fazer que vejam as coisas com clareza,
mas sim porque os opositores acabam por morrer e surge
uma nova geração que se familiariza com a nova verdade.
Max Planck
Nunca diga às pessoas como fazer as coisas.
Diga-lhes o que deve ser feito e elas surpreenderão você
com sua engenhosidade.George Patton
Qualquer um pode zangar-se - isto é fácil.
Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa - não é fácil.
Aristóteles
Primeiro fazemos nossos hábitos,
depois nossos hábitos nos fazem.John Dryden
Faça o que pode, com o que tem, onde estiver.
Roosevelt
Roosevelt
Gostaria que todos os que estivessem em minha posição fizessem a mesma coisa?
(em relação à ação que se deve fazer)
Kant
Não vemos as coisas como elas são.
Nós as vemos como nós somos.
Anais Nin
Os planos funcionam.
O problema é o cronograma.
Autor não lembrado
O sonho não deve se limitar ao orçamento.
Bruno Villas Boas
Só quero saber do que pode dar certo.
Caetano Veloso
Conhecimento é poder.
Francis Bacon