sábado, 8 de outubro de 2011

Desejos e Gestos - parte 03 de 13



Livres Associações

Chutando, fui a Vila Aliança umas 20, 30 vezes. Uma hora de viagem, se trânsito bom. Já nas primeiras ruas abaixávamos o vidro do carro, expondo quem dentro. Na primeira vez que fui, tudo novo pra mim, sentei na frente com quem dirigia e liguei minha câmera, direto, num plano sequência quase sem fim. Gravei o que via na frente, virava pro lado, voltava. Quando paramos o carro na porta do Centro Cultural, num átimo, freiou também um carrão potente e da janela do motorista surgiu uma mão e voz firmes: me dá a câmera! Ingênuo, recusei, fala tranquila: não vou dar meu brinquedo não. A voz, com autoridade, repetiu: me dá esta câmera!

Caiu minha ficha. Abri a porta do carro e quando levantei vi no colo dos dois homens armas potentes – fuzis, metralhadoras? Entreguei a câmera.

Justo neste intervalo surgiu Samuca e se apresentou calmamente, digno mas respeitoso, aos dois homens. A câmera e a voz voltaram pra mim: vê lá, coroa, o que está filmando!

Agradeci a compreensão. Já dentro do Centro, soube da tensão presente no bairro com uma esperada invasão inimiga.

Adoro livre associação. Quando encontro um amigo que há muito não vejo, proponho  logo: cada um de nós faz seu monólogo, o outro só escuta e anota o que deseja falar. Depois dos monólogos, diálogos. Dá certinho. Em 10, 15, 20 minutos no máximo, tomo conhecimento de tudo que me fala, num fluxo ininterrupto, anoto o que associo livremente. Agora minha vez. Aí sou ouvido. As anotações me guiam, minha história se insere na minha fala, conto tudo que desejo, nos saciamos de informações e falas e escutas.

Alegre, descubro que este processo monólogos-diálogos é uma metodologia. De vez em quando ampliamos para monólogos-triágolos, tetrálogos, polígolos quando mais gente estamos juntos. Facilita o fluxo de emoções e, surpresa, facilita a objetividade.

Quanto à objetividade, utilizo também outra metodologia, simples. Quando desejo, só ou com parceiros, realizar algo, proponho, como ponto de partida, sintetizar em 1, 2 ou 3 linhas o que nos propomos. Em seguida rabisco um quadro com 5 colunas: tarefas, responsáveis, custos, até que dia, observações. À medida em que conversamos, descobrimos e anotamos as tarefas decorrentes do que nos propomos. Definimos quem se dispõe responsável pela sua realização ou coordenação. Calculamos, limitamos os custos de cada tarefa, se existentes. E o prazo para sua finalização. Na coluna observações anotamos livremente o que consideramos necessário. Ao final, revisamos tudo e re-ordenamos de acordo com as datas. Funciona. Consigo participar paralelamente de vários projetos e movimentos. E é interessante porque imprevistos acontecem, um anda mais rápido, outro mais lento. E eu tento me adaptar à realidade e funciono de acordo com o andamento de cada um. Aliás, tem um amigo, o Sérgio Mello, que lembra bem: os planos funcionam. Difícil é o cronograma.

Vila Aliança faz, pra mim, juz ao nome. Gosto dos afetos que lá rolam. Gentileza gera gentileza, eu sei. Ali mais me aliei a outros amigos.




Realizei - só em parcerias - um tanto de vídeos,
volta e meia relacionados ao aqui escrito,



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