sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Mamãe, bordados








Esparsas memórias

Alegria em mamãe, recreio mesmo, era uma boa leitura, uma conversa amiga, uma serenata, uma mesa farta.  Assunto não faltava, prazer em receber. A sala de visitas se abria, os de fora, os de casa se instalavam... e lá vinham casos quase sem fim. Se pedidos, conselhos.

Vagas lembranças, um livro que escreveria... A letra de mamãe era inconfundível. Firme, fluente, pra cima expandida.

Mergulhei nas origens da grande família ao ler Menina do Sobrado, de Cyro dos Anjos, irmão do seu pai, Zezé. Reconheci um tanto do seu tempo no Jornal de Serra Verde, de Waldemar Versiani, também tio. Seu irmão, Rui, desvendou um tanto da árvore genealógica: descreveu as raízes e ramificações da família.

Início do século XX, Montes Claros tinha lá seus três mil habitantes quando o patriarca de então, Antônio dos Anjos, avô de mamãe, presidiu a câmara, administrou a cidade, função de prefeito.

Enorme, a grande família. Eram catorze os irmãos de mamãe. Difuso hoje, contar os tios. E os primos antigos, os novos primos... Uma rede familiar que imagino clã. Mistura de Anjos, Versiani, Veloso. E, história que se perde, talvez parentes próximos, afins, os Fróes, os Durães...

Mamãe era a matriarca. À frente do tempo, lúcida, em casa, seus filhos, deveres e direitos semelhantes. Sua a última palavra, quando não a primeira, única. Ouvia, refletia, decidia.


Espalhou, durante a vida, conhecimentos, sentimentos, palavras, obras, sabedorias. Emoção certa era ficar perto de mamãe. Quem a conheceu, sentiu sua vitalidade, animação. Não se permitiu escrever o livro que aventou... Suas lembranças se vão com o tempo.






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