uma vida
incomum como qualquer um
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Envelheço
Meu corpo não responde a meu desejo. Envelheço. Ao
mesmo tempo, presto mais atenção ao que sinto, ao que sou... e tendo a me
conhecer melhor. Dentre as minhas não-qualidades, a impaciência, algum
egocentrismo, uma certa incapacidade em expressar raiva. Talvez, até – aventou
minha homeopata querida – esta não-expressão da raiva, da minha agressividade,
tenha algo a ver com meu corpo não responder a meu desejo.
Quanto a minhas qualidades, gosto muito da boa
vontade quando ela toma conta de mim. O que importa, mesmo, é a boa vontade. Quem
sente, sabe. Boa vontade.
No cotidiano, quando atento, tento aprender: escolho
o que me faz bem, e mal a ninguém. Quando consigo, me alegro. E, sinto, só
posso dar o que tenho. Devo, então, ter cuidados comigo mesmo. Assim, tenho
atentado para as pequenas escolhas de todo dia. Tipo: isto ou aquilo. Em
relação ao que como, respiro, vejo, escuto, falo, faço.
Descubro, iniciante, que estas pequenas escolhas que
faço – consciente ou não –definem o que, dali a um tempo, sentirei. Simples
assim: se ligo a televisão - verdades, meias verdades ou mentiras - sinto
raiva, medo, tristeza, impotência, indignação. Mas se desligo, não ligo, olho
ao meu redor, reconheço em outros o que tenho em mim. Se foco nos mais
próximos, vejo gente boa, com boa vontade, ética, honesta.
Se amplio meu campo de visão, vejo, também, pessoas
que vivem nas ruas, com histórias de vida, oportunidades e possibilidades
diferentes das minhas. E me vem o desejo que estejam cuidadas com boa vontade. Contorno
a minha aparente impotência, descubro que tenho alguma potência. Procuro tratar
o outro como gosto ser tratado. Em favor do mundo, da Humanidade – quando estou
com boa vontade – faço o que está ao meu alcance. Escuto, divido um tanto o que
tenho, recebo o tanto que o outro me oferece. Cresço, mesmo envelhecendo.
Pra ler no banheiro
Escrevo
meus sentimentos e desejos. Tudo, pra mim, novo. Sentir, escrever... Gosto da
linguagem dos sentimentos. Aprendo esta antiga nova língua. Sinto o que
escrevo.
Em algum
momento, estou o que sinto. Em outros tempos, ausente de mim, nem percebo o que
sinto: não vivo.
De quando
em vez, uma percepção. Uma sacada, um insight, uma compreensão... abre uma
janela, amplia minha visão, facilita meu bem viver. Assim, aprendo.
* Quanto mais
respiro, mais sinto. Quanto mais sinto, mais vivo.
* Imagino:
relaxar facilitaria partos sem dores. E toda sorte de amores.
* O amor,
enquanto dura, é terno.
* Idade, uma
bobagem. O que vale, mesmo: boa vontade.
* Viva vida. Moças escolhem homens por quem desejam
ser colhidas.
* Sou gari, garimpo. Limpo meu espírito.
* A
polícia que desejo se cuida. Trata bem, não importa a quem.
* Suas alegrias me alegram. Uma alegria saber.
* A boa
vontade facilita a vida.
* Só, talvez, precise de colo, o menino dentro do
assassino.
* Memória: em cada ruga, misteriosa história.
* A memória,
ausente. O futuro, mistério. O agora, presente.
* Estou
alerta: o que estou nos afeta.
* Quanto mais
rio do outro, mais me descubro. De mim é que rio.
Luiz
Fernando Sarmento
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