uma vida incomum como qualquer um 21
imagine
Um espaço onde, em
roda, se encontrem moradores de comunidades populares menos favorecidas, além
de pessoas e instituições interessadas no bem-bom de todos. Naquele momento, um
de cada vez se apresenta e sinteticamente diz o que oferece, o que procura.
Quando todos sabem o
que cada um procura e o que cada um oferece, a roda se desfaz. E, naturalmente,
cada um se aproxima daqueles com quem se identifica, em busca de mais
informações e construção de parcerias.
Imagine ainda que
estas ofertas e procuras declaradas em cada encontro sejam escritas e
distribuídas, para que outras pessoas, mesmo se não estiveram presentes, possam
participar.
Imagine também que
você possa compartilhar conhecimentos que você adquiriu no correr da vida. Por
exemplo, como voluntário, ensinando o que sabe a quem procura por este saber.
Ou que aquele objeto - que você guarda e não é mais útil para você - possa ser
utilizado por outros. Um carrinho de bebê, um cobertor, um móvel, uma
ferramenta.
Imagine que você
possa entrar na roda, estando lá ou, incógnito, via internet.
Redes
Base das Redes
Comunitárias, os encontros presenciais são voltados para a prática de parcerias
entre quem deseje. Moradores – a grande maioria de comunidades populares – e
pessoas ligadas a instituições privadas, públicas e do terceiro setor, além de
profissionais autônomos e voluntários. E curiosos.
De modo simples e
objetivo, cada um dos presentes, representantes de instituições e de
comunidades, se apresenta e fala do que veio procurar e do que veio oferecer.
Todos têm oportunidade de falar e de ouvir. E, quando cada um sabe quem é quem,
o espaço se abre para o aprofundamento de relações e formação de parcerias.
Para facilitar
articulações entre todos, cada um recebe – impressa ou virtualmente – uma
relação atualizada de participantes, com endereços, telefones, e-mails. E os
Classificados Sociais, que descrevem sinteticamente o que é oferecido, o que é
procurado. A cada novo encontro, estas listas são acrescidas, atualizadas,
compartilhadas.
Só
O passado volta e
meia presente. Dia destes... Acordei com este sentimento que traduzo solitude.
Sou responsável pelas minhas atitudes. Como naquele símbolo das olimpíadas, o
desenho que imagino de relações ideais se compõe de círculos parcialmente
superpostos, cada círculo representando uma pessoa. Os interesses comuns são
representados pelas áreas comuns. As áreas externas aos entrelaçamentos
correspondem aos interesses específicos de cada um. Ali sou só, ali vive minha solitude.
Quando respeito meus
interesses específicos, fica mais simples respeitar os dos outros. Mas quando não
me respeito, lá vem raiva, culpa, contenção, tristeza. E pra evitar estes
sentimentos tão chatos, me afasto, acabo por evitar contatos mais profundos. Aí
é solidão.
A compaixão que mereço vem de quem procura olhar com meus olhos. E vice
versa. Sinto assim quando experimento o olhar do outro. Contraditoriamente, ou
não, em busca de crescimento, quando necessário ofereço ao próximo a crueza do
que percebo. Na verdade, desconfio, só exponho incômodos a quem de alguma forma
me interessa. Se não – inconsciente? – a indiferença e o esquecimento
prevalecem.
Entre os efeitos de
minhas neuroses está um tanto a impaciência, às vezes a indelicadeza. Pero,
mineiramente, aprendo evitar confrontos. Tenho constância no respeito a tratos.
E, tentando enfrentar culpas apreendidas em minha infância, experimento cada
vez mais suportar prazeres. E pra evitar obstáculos, contorno montanhas.
Um passo atrás, dois
à frente, quase um bolero, estes tempos. Se consciente e forte, escolho o que
pode dar certo.
Volta e meia, quando
em conflito, acordo à noite, suo, sofro. Não gosto. Prefiro viver com quem me identifico,
troco. Isto significa critérios, valoração. São escolhas.
Luiz
Fernando Sarmento
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