domingo, 14 de janeiro de 2018

alimentar alegrias - uma vida incomum como qualquer um 33

    



uma vida incomum como qualquer um 33

alimentar alegrias


Volta e meia meu corpo me avisa pr’eu me cuidar. Bom menino, quando escuto meu corpo, relaxo sem culpa. Meu corpo é, às vezes, uma mãe...

Tenho me sentido no limbo. Sabe o que é limbo? No catecismo, quando perdi minha inocência, aprendi que o limbo é aquele lugar pra onde vão os anjinhos, as crianças que morrem sem batismo. Lá, do que entendo, é vazio, é um nada. Meu limbo atual é este não saber quem sou, onde estou, de onde vim, pr’onde vou, que desejo. Como não sei, permaneço...

Minhas realidades pouco a pouco se enevoam... e eu gosto. Não sei descrevê-las, tudo um tanto difuso. Sigo a intuição, quase o impulso, mesmo sabendo que não sei. Tá vendo? - brincadeira - imagino além de mim, outros. Os objetos têm perdido antigos sentidos de suprirem vazios.

Saem os objetos, ficam os vazios, pelo menos não me engano. E o melhor, tenho me sentido melhor. Paralelo, o pique corporal diminui, os desejos, a ansiedade também. Serei o santo que desejei ser quando perdi a inocência no catecismo?

Pois é, sinto que a vida é o que sinto. Volta e meia me pergunto o que está ao meu alcance... e me surpreendo com o que posso fazer por mim mesmo.

Esta foi mais uma vez em que perdi outra inocência: se não cuido de mim, quem cuidará? Quando tento olhar com os olhos de quem me cuidou ou cuida, minha mãe por exemplo, desconfio que o outro - ela - viveu tantas questões pessoais que não conseguiu resolver... Quando assim, sinto compaixão por ela, me permito compaixão por mim mesmo. Se minha mãe foi não-perfeita - nem meu pai, meus modelos - como poderei eu ser?

Aí então me pergunto: o que está ao meu alcance fazer por mim? Viver contente? Rio, rio, rio... e não sei por que. Acho que estou no caminho certo.

Tudo muito novo, pra mim, isso de alimentar alegria. Rio de mim? E se rio do outro, no fundo rio de mim?

Pra ler no banheiro

Li ontem um trecho de Freud que fala de mim, de você, sem nos conhecer.

Que prazer! Boas novas, isto de ler sem fazer provas.

Devo guardar como lembrança: dentro do incêndio, só vejo chamas. Se fora, esperanças. O que desejo, a vista alcança.

No fundo, se confuso, complico, confundo, conflito, confronto.

De repente, me pego em pleno apego ao meu ego.

Em cada caminho que faço, construo, omisso e em atos, cantinhos, buracos, regatos. Lá no fundo, sei o que me faz mal, o que me faz bem.

Em cada alegria, vivo. Em cada tristeza, morro. Ao meu lado vivo, peço socorro. Enfim, sou remédio de mim. Agora sei, sou um homem incomum, como cada um.

Escolho que morro a cada vez que me mato num ato que faço. Escolho que vivo, e consigo, a cada cuidado que tenho comigo.

Quando agitado, namoro, me acalmo.

Racionalizo tudo. A emoção emerge e prevalece.

Movimento, se se institucionaliza, deixa de ser movimento. Paralisa.

Movimento paralisa, se se hierarquiza.

Tão bom, não ter prazos. Nem pressões, nem atrasos.

Qualquer emoção, minha rotina vira exceção.

Luiz Fernando Sarmento








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