uma vida
incomum como qualquer um 33
alimentar alegrias
Volta e meia meu corpo me avisa pr’eu me
cuidar. Bom menino, quando escuto meu corpo, relaxo sem culpa. Meu corpo é, às vezes,
uma mãe...
Tenho me sentido no limbo. Sabe o que é limbo? No
catecismo, quando perdi minha inocência, aprendi que o limbo é aquele lugar pra
onde vão os anjinhos, as crianças que morrem sem batismo. Lá, do que entendo, é
vazio, é um nada. Meu limbo atual é este não saber quem sou, onde estou, de
onde vim, pr’onde vou, que desejo. Como não sei, permaneço...
Minhas realidades pouco a pouco se enevoam... e
eu gosto. Não sei descrevê-las, tudo um tanto difuso. Sigo a intuição, quase o
impulso, mesmo sabendo que não sei. Tá vendo? - brincadeira - imagino além de
mim, outros. Os objetos têm perdido antigos sentidos de suprirem vazios.
Saem os objetos, ficam os vazios, pelo menos
não me engano. E o melhor, tenho me sentido melhor. Paralelo, o pique corporal
diminui, os desejos, a ansiedade também. Serei o santo que desejei ser quando
perdi a inocência no catecismo?
Pois é, sinto que a vida é o que sinto. Volta e
meia me pergunto o que está ao meu alcance... e me surpreendo com o que posso
fazer por mim mesmo.
Esta foi mais uma vez em que perdi outra
inocência: se não cuido de mim, quem cuidará? Quando tento olhar com os olhos
de quem me cuidou ou cuida, minha mãe por exemplo, desconfio que o outro - ela
- viveu tantas questões pessoais que não conseguiu resolver... Quando assim,
sinto compaixão por ela, me permito compaixão por mim mesmo. Se minha mãe foi
não-perfeita - nem meu pai, meus modelos - como poderei eu ser?
Aí então me pergunto: o que está ao meu alcance
fazer por mim? Viver contente? Rio, rio, rio... e não sei por que. Acho que estou
no caminho certo.
Tudo muito novo, pra mim, isso de alimentar alegria.
Rio de mim? E se rio do outro, no fundo rio de mim?
Pra ler no banheiro
Li ontem um trecho de Freud que fala
de mim, de você, sem nos conhecer.
Que prazer! Boas novas, isto de ler sem fazer provas.
Devo guardar
como lembrança: dentro do
incêndio, só vejo chamas. Se fora, esperanças. O que desejo, a vista alcança.
No
fundo, se confuso, complico, confundo, conflito, confronto.
De repente, me pego em pleno apego ao meu ego.
Em cada caminho que faço, construo,
omisso e em atos, cantinhos, buracos, regatos. Lá no fundo, sei o que me faz
mal, o que me faz bem.
Em cada alegria, vivo. Em cada
tristeza, morro. Ao meu lado vivo, peço socorro. Enfim, sou remédio de mim.
Agora sei, sou um homem incomum, como cada um.
Escolho que morro a cada vez que me
mato num ato que faço. Escolho que vivo, e consigo, a cada cuidado que tenho
comigo.
Quando agitado, namoro, me acalmo.
Racionalizo tudo. A emoção emerge e
prevalece.
Movimento, se se institucionaliza,
deixa de ser movimento. Paralisa.
Movimento
paralisa, se se hierarquiza.
Tão
bom, não ter prazos. Nem pressões, nem atrasos.
Qualquer
emoção, minha rotina vira exceção.
Luiz
Fernando Sarmento
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