momentos
Papai, mamãe, meu irmão se foram.
Sinto, intuo, há vida depois da vida. Assim, me conforto.
*
Hoje, pra mim, já está mais fácil
me alegrar. Sei que me alegro quando
ando pela praia, aqui pertinho, pisando na água... Ou quando caminho entre as
árvores do Parque do Flamengo...
Ou quando vou às minhas terras de
origem, Salinas, Montes Claros.
Ou bebo uma água de coco, ou
observo uma criança a brincar, ou converso com amigos, ou danço um rock
sozinho, ou escolho melhor escolha, faço
o que gosto, sou o que sou, ou escrevo e escrevo e boto pra fora o sentimento
que me vem...
É que, como diz o ditado popular,
"quando a boca cala, o corpo fala. Mas quando a boca fala, o corpo fala,
sara”...
Sinto, intuo, o que vivo, meus
sentimentos decorrem de cada escolha que faço, do que leio, falo, como, bebo, ouço,
penso...
*
Tento entender o que sinto. Sei
que “quero ir ali, mas não quero sair daqui”. Desejo ampliar meu mundo, viver
intensamente o que sinto e vivo. E meus medos me ameaçam. Eterno conflito.
Imagino se instalou com aquele primeiro catecismo, quando perdi um tanto da
minha inocência.
No presente, por exemplo, como
agora, acordo sem planos. Uma amiga me chama pruma praia. Aceito. Outra me
escreve sobre suas dores. Respondo, falo das minhas e como, com elas, me
relaciono. Daqui a pouco, não sei. Esta é vida que levo, gosto.
Enquanto isto, cuido do básico,
do dia a dia. Arrumo o quarto, faço a feira, cozinho, arrumo a cozinha. E
facilito conversas em grupo, rodas de terapia. E escuto, um tanto, quem me diz
precisa ser escutado. Aprendo um tanto com alheio pranto.
Sinto falta de intimidades com outros
corpos que não o meu. Intimidade, aprendo do que vivi, vem um tanto de
afinidades.
Falo, como vê, do que sinto. Pulo
valores. Minhas dúvidas me lembram os riscos. Arrisco.
Talvez nem seja necessário
clarear o que ignoro. Só viver, atento e entregue. Tento. Mesmo bruto na minha
ignorância do futuro.
*
Outros tempos, outros momentos...
O melhor jeito de nos conhecermos, talvez seja uns dias juntos. Hoje, por
exemplo, um dia lindo. Ao anoitecer, facilito uma roda de terapia comunitária.
Emocionantes, estas rodas. Quem vem, chega na hora que quer, sai na hora que
quer. Fala, se quiser, não fala se assim quiser. Amanhã, necas de agenda.
Já, depois, momentos
intercalados, folgas e compromissos:
pela manhã devo ir, com meu
amigo-cuidador, com quem estou colaborando, a um hospital de cardiologia, neste
mergulho focado em saúde e alimentação. Dou meu testemunho, falo – pra outros,
como eu, entupidos em suas artérias – de efeitos, em mim, da alimentação
vegana, sem gorduras. Sinto, sou o que como.
À tarde, amigos aqui em casa,
recreio e conversa solta. No outro dia, cedinho, zzzummm, rodoviária, roça de
um amor.
Vejo agora, quanto movimento. Mas
leves e sem ocupar tanto tempo. Esta a
vida que tenho escolhido. Antes, não sabia. Agora, sei. Cada escolha que faço
determina a vida que vivo.
*
Parafraseio Vinicius de Moraes: o
amor é terno enquanto dura.
*
Oi menina. Bom saber de suas
redescobertas, de seu amor, de sua lida, seu destino, sua vida. Um beijo. Sugiro
conserve seus escritos, são lindos. Escrevi na cama, agora digito.
*
Estado sonado, fronteira da
noite, do dia, me alegro com sua alegria. Desejo aprender ser amado, dissolver
este medo meu de pecado, perceber seu amor, amar do meu jeito, imperfeito. Tão
bom descobrir, imagino, o que você já sabia, prazer de menino, menina. Em
simples descobertas, possibilidades de vida.
Claro, nada claro. Difuso,
incerto, o amor aberto. Um ovo, o novo. Sentimentos, compartilhamentos, como
abraços, sinto, ampliam espaços. Quem recebe, bebe, sente, repete, abre janelas
e vive.
Luiz Fernando Sarmento
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