sábado, 5 de maio de 2018

momentos - uma vida incomum como qualquer um 49






momentos


Papai, mamãe, meu irmão se foram. Sinto, intuo, há vida depois da vida. Assim, me conforto.

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Hoje, pra mim, já está mais fácil me alegrar.  Sei que me alegro quando ando pela praia, aqui pertinho, pisando na água... Ou quando caminho entre as árvores do Parque do Flamengo...

Ou quando vou às minhas terras de origem, Salinas, Montes Claros.

Ou bebo uma água de coco, ou observo uma criança a brincar, ou converso com amigos, ou danço um rock sozinho, ou escolho  melhor escolha, faço o que gosto, sou o que sou, ou escrevo e escrevo e boto pra fora o sentimento que me vem...

É que, como diz o ditado popular, "quando a boca cala, o corpo fala. Mas quando a boca fala, o corpo fala, sara”...

Sinto, intuo, o que vivo, meus sentimentos decorrem de cada escolha que faço, do que leio, falo, como, bebo, ouço, penso...

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Tento entender o que sinto. Sei que “quero ir ali, mas não quero sair daqui”. Desejo ampliar meu mundo, viver intensamente o que sinto e vivo. E meus medos me ameaçam. Eterno conflito. Imagino se instalou com aquele primeiro catecismo, quando perdi um tanto da minha inocência.

No presente, por exemplo, como agora, acordo sem planos. Uma amiga me chama pruma praia. Aceito. Outra me escreve sobre suas dores. Respondo, falo das minhas e como, com elas, me relaciono. Daqui a pouco, não sei. Esta é vida que levo, gosto.

Enquanto isto, cuido do básico, do dia a dia. Arrumo o quarto, faço a feira, cozinho, arrumo a cozinha. E facilito conversas em grupo, rodas de terapia. E escuto, um tanto, quem me diz precisa ser escutado. Aprendo um tanto com alheio pranto.

Sinto falta de intimidades com outros corpos que não o meu. Intimidade, aprendo do que vivi, vem um tanto de afinidades.

Falo, como vê, do que sinto. Pulo valores. Minhas dúvidas me lembram os riscos. Arrisco.

Talvez nem seja necessário clarear o que ignoro. Só viver, atento e entregue. Tento. Mesmo bruto na minha ignorância do futuro.

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Outros tempos, outros momentos... O melhor jeito de nos conhecermos, talvez seja uns dias juntos. Hoje, por exemplo, um dia lindo. Ao anoitecer, facilito uma roda de terapia comunitária. Emocionantes, estas rodas. Quem vem, chega na hora que quer, sai na hora que quer. Fala, se quiser, não fala se assim quiser. Amanhã, necas de agenda.

Já, depois, momentos intercalados, folgas e compromissos:
pela manhã devo ir, com meu amigo-cuidador, com quem estou colaborando, a um hospital de cardiologia, neste mergulho focado em saúde e alimentação. Dou meu testemunho, falo – pra outros, como eu, entupidos em suas artérias – de efeitos, em mim, da alimentação vegana, sem gorduras. Sinto, sou o que como.

À tarde, amigos aqui em casa, recreio e conversa solta. No outro dia, cedinho, zzzummm, rodoviária, roça de um amor.

Vejo agora, quanto movimento. Mas leves e sem ocupar  tanto tempo. Esta a vida que tenho escolhido. Antes, não sabia. Agora, sei. Cada escolha que faço determina a vida que vivo.

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Parafraseio Vinicius de Moraes: o amor é terno enquanto dura.

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Oi menina. Bom saber de suas redescobertas, de seu amor, de sua lida, seu destino, sua vida. Um beijo. Sugiro conserve seus escritos, são lindos. Escrevi na cama, agora digito.

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Estado sonado, fronteira da noite, do dia, me alegro com sua alegria. Desejo aprender ser amado, dissolver este medo meu de pecado, perceber seu amor, amar do meu jeito, imperfeito. Tão bom descobrir, imagino, o que você já sabia, prazer de menino, menina. Em simples descobertas, possibilidades de vida.

Claro, nada claro. Difuso, incerto, o amor aberto. Um ovo, o novo. Sentimentos, compartilhamentos, como abraços, sinto, ampliam espaços. Quem recebe, bebe, sente, repete, abre janelas e vive.


Luiz Fernando Sarmento











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