inesperado
A vida, querida, como
o avião, como a alma, lenta e turbulenta, rápida, tépida, calma. Ou não. Isto,
nas nuvens. Cá inrriba, anjos indicam Deus por perto. Milagre, pesadão, voa
o avião. Eu, tento, num saio do chão.
Cada dia, novo como
um ovo, igual como habitual. Isto quando o tempo menos que um momento. Tudo dúvida,
passatempo, nadamos no nada. O que fica, a risada. Laço mesmo, o abraço. Mais
que fica, a gargalhada. Pica, picada. Amor que fica.
No fundo, mesmo
neste mundo, incrível, vagabundar é possível. Há que tentar,
uma Arte. Difícil é
suportar alegria todo dia.
Veja você, ser pai é
paidecer. E mãe, amãementar até morrer de amar. Amor de mãe, eternamente terno.
Céu e inferno, isto de eterno. Certo mesmo, o presente. Sente. Tente. Nunca
igual, como habitual, normal.
Temos tanto em comum.
Talvez sejamos um. Destino, desde menina. Sina. Bonjour, amour. Agora é isto a
vida, voar sem eira nem beira, brincadeira. Sinto, desaperto o cinto.
*
Jovem, tou no ar, tou no chão. O coração é um mar, a
cabeça um furacão. Alegria na minha alegria, tristeza somada à minha. Desfiladeiro,
vulcão. Paixão, mergulho, paixão.
Nem sempre, o casamento, por exemplo. Você sofre com o que sou. Eu sofro
com seu sentimento. Passamos a vida assim: acolho seu lamento, você chora por
mim. Em mim censura o que, em você, não se aventura. Passada a loucura, passada
a paixão, não sou seu pai bom nem minha a mãe pura. Loucura, tormento, suportável
tortura. Anta, jumento, capenga procura. Não lhe dou a segurança que me pede, não
me dá o colo que imploro. Um muleta do outro. De repente, bodas de ouro.
Às vezes, o que me proibo, em outros critico. Se não me permito, a outros
inibo.
Ai, ui, ai. Quero mamãe, quero papai.
*
Lembretes. Meu corpo é um convite pro meu enterro. Minha
razão, um acinte, este meu erro. Quando acordo, acorda a razão. Se adormeço, inconsciente
visão.
O que pro futuro planejo, é o que hoje desejo.
Se deixo vagar minha mente - bem, se bem devagar - esqueço, desleixo, vago
no ar.
Talvez, o que hoje falo, hoje tem um sabor. Se amanhã me
calo, amanhã outro valor. Uma decisão a cada momento. Eternas decisões
indecisas. Eterna indecisão, lamento. Nunca decisão precisa.
*
Mentiras. Olhos, ouvidos, nariz percebem uma situação. A
realidade contradiz o rádio, jornal, televisão. Que má sorte, associam o
cigarro à vida, veja a publicidade. É a morte.
Muito do que penso verdade - novela, show, ficção - vem do que me
disseram, notícias, informação.
Verdades mesmo não eram. Meio falso, meio vão. Cortinas, desvios,
quimeras. Meios d'incomunicação
*
Acredito mais na
realidade que percebo. Desconfio do que me chega pela internet, através
de quem não conheço.
E também
desconfio do que me vem através dos grandes jornais, rádios,
revistas, TVs. Misturas de ficção e realidade. Maldade.
Mesmo me sentindo mal
informado socialmente - e, assim, um tanto impotente - tenho me alegrado e
fortalecido no trato amigo com amigos, nos cuidados comigo e com quem me
relaciono e convivo. Noutro espaço, nem sei nem me acho. Já, aqui, me sinto
potente e vivo.
Luiz
Fernando Sarmento
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