eu era
pobre e não sabia
Quando
escrevo, me organizo. Lembro o que sinto. Expresso meu mundo. Aprendo a me
compreender, me aceitar. Facilita aceitar o outro, diferente de mim e um tanto
semelhante. Escrever é um risco. Arrisco.
*
Gosto
do ditado popular: quando a boca cala, o corpo fala, adoece. Quando a boca
fala, o corpo cala, sara.
*
Eu
era pobre e não sabia. Na minha infância, dentro de mim, não soube de faltas
até o momento em que, na cidade maior, vi a vitrine. Desejei o que não tinha. E
por muitas vezes me angustiei por não me suprir com as novas necessidades
criadas.
Demorei
meia vida para compreender que o que aparentemente possuo é que me possui. O
carro me pede manutenção, taxas, estacionamento, gasolina, óleo. O cachorro
solicita atenção, alimentação, passeios, cuidados. Minhas posses me aprisionam.
A grade que me protege é a mesma que me aprisiona.
*
Aparentes
pobrezas escondem riquezas. Lembro Adalberto de Paula Barreto, que, em relação
à Europa, fala dos favelados existenciais. Lá, riquezas aparentes escondem
pobrezas emocionais. Em muito, desconfio, favelas e europas se complementam.
Talvez aprendam uns com outros. Só questão de boa vontade, desejos e gestos.
*
Tenho medo do que
desconheço quando vivo, agora, um futuro que desejo. Tento, aprendo de qualquer
jeito, quando erro, quando acerto. Tem sido bom viver agora a vida serena que
desejo, quando suporto o prazer.
*
Ouvi dizer que
Nietzsche disse algo como “ Mentir
pro outro pode ser fácil. Difícil é mentir pra mim mesmo ”.
*
Chico Buarque lembra: a raiva, filha do medo, mãe da covardia. Eu
descubro em mim: a crítica constante ao meu jeito de ser me
ameaça. O que me ameaça, me provoca medo. Minha raiva nasce do meu medo. Meu
medo e minha raiva voltam-se para quem me incomoda. Fujo, me afasto de quem me
incomoda. Não sei, ainda, expressar raiva. Estão de dieta, em mim, tanto raiva
quanto medo, me recuso alimentá-los.
*
Só eu sinto o que sinto. Ninguém mais, além de
mim.
*
Rodopio, vou e venho. As incertezas
me montam. Certezas, mesmo, não tenho.
*
Meta de poeta: toda hora, todo dia, escolho
viver, no agora, a possível alegria.
*
Tem me facilitado a vida, a compreensão:
este meu Deus se alegra, se contagia com minha alegria.
*
Cada vez mais, constato:
pensamentos, sentimentos, falas, meus atos - de fato - decorrem de escolhas que
faço.
*
Eterna idade: às vezes, muitas, velho livro,
novidades.
*
Idade terna, eterna idade. Leveza no ser, pura beleza. Espiritualidade.
Idade terna, eterna idade. Leveza no ser, pura beleza. Espiritualidade.
*
No caminho da felicidade, vale a boa
vontade
*
A liberdade que desejo, a vida que imaginei futura, me anima vivê-la, um tanto dela, já, com o
que está ao meu alcance. Tento a toda hora. Levanto, delimito o que posso, me
limito ao que quero. E me alegro. Alimento minha alegria, dia e noite, noite e
dia. Quando estou contente, este meu caminho. Se descontente, busco prumos,
outros os rumos. Mas, mais que só eu, bom mesmo é estarmos contentes.
*
A sete
palmos, quando sob o mármore, calmo, calmo, calmo, espero, virarei árvore. Já
quando pó, eu só, sem dó, alimento a planta que me suplanta.
Luiz Fernando Sarmento
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