segunda-feira, 22 de abril de 2024

146 fofocas




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No meu dia-a-dia, a morte é também uma escolha, a cada escolha que faço?


fofocas



Robert A. Monroe, em Viagens Fora do Corpo, ensina passos pra viajar, nos vermos de fora. Tentei. No meio do caminho, me deu um medão danado. Não fui.

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Quando solto um pum alto, ai que vergonha. É que, sem querer, relaxei. Estava à vontade.

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Relaxo? Se divago, sonho. Se sonho, antecedo a realização?

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Que faço pra atrapalhar minha própria vida?

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Repito o mesmo drama do ano passado. Fui ao Boitatá, bloco bom, praça XV. Cheguei, pulei, dancei, brinquei, procurei minha carteira, cadê? Fui à delegacia de polícia, bem atendido, fiz o registro de ocorrência. Furto? Outras pessoas, mesma hora, mesma delegacia, situações semelhantes: furto. Agora me preparo pra contatar CEF, CPF, Detran, carteiras de identidade e motorista, cartão do Sesc, cartão da AMIL, cartão do Metrô, cartão do ônibus.


Toda vez que tropeço numa pedra, reclamava. Hoje reclamo da pedra, mas, antes, de mim: não prestei atenção. Sei agora, sabia antes, não devo levar meus principais documentos prum lugar com riscos de perda, de furto. Penitência: procedimentos necessários para comunicar a cada órgão público correspondente aos documentos perdidos, furtados. Mas, eu em casa, domingo de carnaval, o telefone toca.


Eta mundo bom. O círculo virtuoso toma assento. Sem a carteira que ontem perdi – furtaram? No mesmo dia tomei providências relativas a alguns documentos e hoje me preparei para cuidar dos outros. Trim, trim trimmmmm… E, da mesma vez que no ano passado… Alô! Encontrei sua carteira!


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Lembrei do que entendi do filme Dúvida. Uma freira faz comentários sobre a vida sexual de um padre. O boato se espalha. Cai a ficha, a freira procura o padre, pede perdão. O padre: perdoo. Mas antes, pegue um travesseiro com penas, chegue na janela ali do décimo antar, solte as penas ao vento, depois recolha pena por pena…


Pronto, eu teria que tentar recolher as penas que espalhe, desmentindo fofocas que por desventura eu tenha criado, retransmitido, mesmo, aparentemente, sem querer. Mas, desconfio de mim, sem querer, querendo?


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Reforcei minha visão de mundo. O mundo tá ruim e tá bom, vicioso e virtuoso, depende um tanto do meu olhar, como do olhar de cada um…


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Labirinto. Tristezas se aproximam. Tudo um tanto embaralhado. O primeiro pensamento é fuga. Perdido nestas emoções, procuro, procuro, não encontro responsáveis fora de mim. Sem limites entre mim e o mundo. Telefono a cada outro, escuto impaciente, não ouço o que desejo. Se não sei pr’onde ir, não vou? Respiro, me acalmo.


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Antes, como base, valorizo a afetividade. Mas… Gera trabalho para outros – terá dificuldade em sua autonomia futura? – a criança que não aprendeu ajudar na manutenção da casa: lavar pratos, roupas, arrumar cama e mesa, varrer, ir à feira, ao supermercado, à padaria, ao banco, fazer um café, encher o filtro, limpar a geladeira, cozinhar…


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Um amigo, conversa livre, saca: amor e medo, afetos básicos. Bate no meu peito, direto à compreensão. Mais próximo do início da minha vida, o fio de meada: amor e medo. Antes, inda mistério.

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Domino mundos e perco guerras no interior de mim mesmo.

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Tudo me leva a crer que o mundo será o mesmo sem mim.

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Olho no espelho e não reconheço o velhinho. Sou eu.

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No meu dia-a-dia, a morte é também uma escolha, a cada escolha que faço?





 

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