sexta-feira, 12 de abril de 2024

149 riscos




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Quando mexo, cutuco meu corpo, mexo em minha memória afetiva e desperto lembranças e emoções a elas associadas.


riscos



Arrisco e respondo rápido a perguntas que me faz, por email, uma estudante de psicologia:


a. Porque escolheu este campo da psicologia para atuar?

Sou um curioso, não sou profissional do ramo, não atuo como psicólogo. Leio sem ter que fazer provas. Adoro insights. Atos falhos me alertam. Queira ou não, acredito, todo homem navega em áreas psis quando interfere em emoções, nas suas próprias e nas de outrem.


b. Quais as dificuldades encontradas?

Em mim, minhas próprias resistências, meu conforto arraigado. Volta e meia, ausências de consciência.


c. Como é realizado seu trabalho neste local?

Gosto de ouvir, gosto de facilitar. Rodas de conversas, com base na metodologia das Terapias Comunitárias – que não são psicoterapias. Isto do lado, digamos, subjetivo. Do lado objetivo, através da metodologia das Redes Comunitárias.


d. Quais as diferenças da atuação em sua área da teoria para a prática?

Quando penso, elaboro, escrevo, considero meu mundo, minhas regras, minha cultura,

minhas referências. Quando em comunidades, inclusive as menos favorecidas, o mundo é outro, são outras as regras, culturas, referências.


e. No seu ponto de vista a psicoterapia corporal pode ser um tipo de psicanálise?

Falo do que pouco sei, quase nada sei, tanto não sei. São, digamos, métodos que se complementam. Aprendi com Wilhelm Reich – e em mim, pela prática de usufruidor da terapia reichiana – que, como todos?, carrego minha história de vida no meu corpo. Quando mexo, cutuco meu corpo, mexo em minha memória afetiva e desperto lembranças e emoções a elas associadas. Entendimentos, acredito psicanalíticos, me facilitam a compreensão emocional do que vivo.


f. O que você acha da Psicoterapia Corporal em grupo?

Quando percebo no outro experiências, questões semelhantes às minhas, aprendo que minhas questões não são só minhas, não estou só nestes mistérios. Gente encontrando com gente é pura humanidade.

*

Quando Glauber falou “Nonatinho, treme a câmera, treme a câmera…”, compreendi que também eu poderia filmar, gravar. O jeito era linguagem, o que seria errado poderia ser o certo.


Zequinha Borges, um amigo, anos depois, foi direto quando eu, inseguro, lhe pedi mais uma vez para registrar em vídeo o que eu desejava: “Porra, Luiz. Vai à luta, filma você, arrisca.”.


Arrisquei, errei, tropecei, acertei. E assim vou, neste equilíbrio em risco.

*

A palavra enfezado vem de onde? Cheio de fezes, enfezado, raivoso?

*

Ações, imagino, funcionam assim. Acionistas, fazemos uma vaquinha pra investir num negócio. Somos, juntos, donos do negócio. Qualquer lucro que o negócio der, vem pros donos das ações. Mesmo que o negócio seja lá nos confins do mundo e vivamos aqui, no coração do que nomeamos civilização.


Muitas vezes o fim do mundo é aqui. E os acionistas estão lá, nos primeiros mundos. Parte do nosso trabalho compõe o lucro de acionistas que não conhecemos. É justo?




obs: 

a foto, 

tirei de  parte de um grafite, numa parede, em Botafogo, há muito, não sei o autor do desenho, da pintura.







 

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