segunda-feira, 1 de abril de 2024

158 pausa



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Sinto medo dos seus medos. Pressinto que, por medo, atacam, atiram.


pausa



Hoje. Ou ontem, amanhã, o tempo se dilui em minha memória frágil. Meu sofrimento hoje é alguma tristeza difusa, talvez profunda atrás deste meu fazer vídeo, fazer livro, fazer encontros de terapia, fazer, fazer.


Talvez esta irritação na garganta expresse o incômodo que sinto e do qual não me aproximo. Se a vida, o mundo, é um palco enorme, em cada espaço algo acontece. Como atos de teatros. Aqui e ali um nascimento, uma morte, uma dança, tiroteio, um canto, um olhar, um desvio, choro, sorriso, arrepio, descanso, tensão, medo, uma criação, destruição, solidão, um conforto, desconsideração, solidariedade.


Quando sou o ator, tenho escolhido neste palco o bem-estar que suporto. Quando espectador, uma vez visto, internalizo, não releio notícias, desgraças.

Minha referência tem sido meu humor. Se bem humorado, é por aqui. Se mal-humorado, não. Tenho cuidado de me compreender. Já sei que meu gosto pelo outro passa pelo meu gostar de mim.


Em casa, nenhum remédio. Nem comprimido, além da Maravilha Curativa que cicatriza, nenhum. Muito de vez em quando, como estes últimos dias, um sinal. Como esta irritação de garganta, um início de catarro, remelas ao acordar. Talvez meu corpo expresse algum sentimento contido. Desconfio de tristeza. Há alguns dias, a maior parte de mim não deseja se encontrar com ela.


Simples assim. Homens hipnotizados passam agora correndo na rua em frente ao meu apartamento. É o Bope. Cantam firmes, uníssonos. Dentre os versos escuto …É a vontade de matar… Escolheram, cultivam a morte como meio.


Pra deles me defender, tento entendê-los, olhar com seus olhares. Sinto medo dos seus medos. Pressinto que, por medo, atacam, atiram. Suas ações nascem das pressões que internalizaram – as ordens, os castigos, suas missões – e do medo de sofrerem. E ainda ganham salários, medalhas, prêmios e parabéns.


São, somos, sou o mesmo guerreiro de ontem e de hoje. Têm, temos, tenho um tanto da idade da pedra. Repetem, repetimos, repito os bárbaros, domino mundos e perco guerras no interior de mim mesmo. São, somos, sou semelhante a soldados hunos, persas, egípcios, romanos, mongóis, espanhóis, ingleses, alemães, americanos, israelenses.


Seus, nossos, meus medos têm raízes em minha infância, são reforçados na adolescência, enrijecidos agora adulto. Seus, nossos, meus horizontes são curtos. Imagino a atenção constante, o inimigo em cada lugar, cada desconhecido uma possível vingança.


Quando matam, matamos, mato o outro, mato um tanto de mim. E não percebem, não percebemos, percebo. Como quando elevam, elevamos, elevo o outro, a mim elevo.


Parafraseio Laing. Alguém me ama, me acho bom. Alguém não me ama, me acho mau. E lembro Lennon, all we need is love. Love is all we need. Empírico, sei, quem apanha em casa é quem mais briga na rua. Tudo começa em casa: Winnicott tinha razão?


Escrevi o texto acima há poucos anos, antes de 2012. Abaixo, agora, um tanto do que percebi do mundo.


Horizontes. Lá na frente, como me vejo? Fecho os olhos, me sinto adolescente. Abro, a imagem me choca, um velho. Quem é este homem maduro, enrugado? Sei que agora não me reconheço ao espelho.


Pra ler no banheiro

 

Não me importa o que me falta, se o que tenho me supre.

*

Empatia: me alegro com sua alegria.

*

Estou, entre amigos, à vontade como se só comigo: me acho, me entrego, gozo e relaxo.

*

De novo, um menino a escolher meu destino.

*

Gente, não minto, nem meu espelho mente, só vejo o que sinto.

*

Ai, um abraço, que faço? Dou o primeiro passo?

*

Se desconfio, controlo.

*

Não é que eu não tenha tempo pro prazer. É que escolho outras coisas pra fazer.







 

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