terça-feira, 30 de abril de 2024

137 sexo





 

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Na rua, o desconhecido, o inesperado. A ligação do sexo ao xingamento. O sexo sujado estava nos nomes quase sujos dos órgãos.


sexo



Meu preconceito nasce da minha ignorância.

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Desde que me lembro como gente, o sexo presente. As proibições devem ter começado ainda cedo, imagino – era comum, era da cultura, era normal. Repressão naturalizada. A lembrança mais antiga, naquele banheiro, duas crianças, talvez sete ou oito anos, trocavam descobertas, tipo exames dos corpos, de toques, de procuras de funções. Pura inocência, uma era eu.


Adolescente curioso li “Vida sexual de solteiros e casados”, de João Mohana, padre e médico. Vagas lembranças, desconfiei – como pode uma pessoa com voto de castidade, sem experiência viva, ensinar sobre o assunto?


Mas, mais tarde, já homem-feito, lavei a alma com o “Combate sexual da juventude”, de Wilhelm Reich. Adeus pecado, adeus culpa, viva o prazer.


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Você gosta de você, meu bem? Gosto. Goste mesmo, você é muito gostável. Confesso, eu só gosto de você porque gosto de mim.


Estou que pareço aquele filósofo contemporâneo que gosto. Gosto tanto de ler o que escrevo, de sentir o que sinto quando faço o que gosto. E, neste momento, me amando tanto deste jeito, tanto gostando de mim, faço bem compartilhar o que me faz bem.


E me pego egoísta. Um tanto porque sinto: quanto melhor o mundo, melhor pra mim. Acaba que me pego sendo o mundo. Eu sou o mundo, pulso seu pulso, inspiro, expiro, me misturo ao que sou.


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São vagas as lembranças. Nestas névoas, lembro do “fecha as pernas, menina“, do “tira a mão daí, menino”. Conhecer o próprio corpo, brincar com sensações corporais não eram permitidas.


Na rua, o desconhecido, o inesperado. A ligação do sexo ao xingamento. O sexo sujado estava nos nomes quase sujos dos órgãos.


Nisto tudo, o passado, presente. Deixo, um tanto, o passado de lado quando, mais leve, aprendo o mundo de novo.


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O ambiente calmo me acalma. Faço calmo meu ambiente. Sou responsável, um tanto, pelo que estou.


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Nasci numa família com mentes relativamente abertas. Aprendi do que junto vivi e vivo. Cada um amoroso do seu jeito. Predominou, predomina o amor. Não me lembro de ali em casa, na infância, ter sido proibido explicitamente de algo em relação ao sexo. Explícito somente o fato de não falarmos sobre sexo. Falo por mim, melhor assim. Sou grato por ter sido, do jeito que foi, permeado de afetividade. São boas as lembranças da infância, lá em casa.


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Não fui neto, não tive avó, avô por perto. Agora, não sei, ainda, ser avô. Devo aprender, se quiser me querer.


Mas, também, tudo é novo. É o que sinto. Tudo que faço, que vivo, nunca vivi igual. Semelhante, sim. Às vezes, uma sensação “dejavú”, como aquele sentir “já passei por aqui”.







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