terça-feira, 23 de abril de 2024

doar traz prazer?






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Sexo: as dúvidas de meu avô permanecem, geração após geração. Na infância, sexo um mistério. Na adolescência, sexo um segredo.

doar traz prazer?



O amor será assim, uma amostra do paraíso? Gente como eu, qualquer um, em estado de alegria? O tempo vira agora, o espaço é aqui, serenidade e eu somos um só?

*

Na vida, a síntese do desejo é estarmos contentes?

*

Lembra aquela história do pescador?

Vilazinha do interior, beira de rio, o pescador adormece, o peixe morde, a vara treme.

O turista passa por ali, vê, arquiteta: vou mexer com este caipira.

Pega a vara, pesca, pesca, pesca.

Acorda o pescador, aponta o cesto cheio: olha o que você perdeu!

Inda zonzo do cochilo, o pescador: o que?

O turista: os peixes, olha o tanto.

O pescador: pra que?

O outro: pra vender, ganhar dinheiro. Fazer o que você gosta.

O pescador: mas já tô fazeno…

*

Eu me sinto assim, nesta fase que curto enquanto é. Satisfeito comigo, desejos ausentes, tento atento viver contente. Difícil agora é suportar a alegria. Tristeza era fácil, matava no peito todo dia.

*

Entre graves e agudos, este jeito de escrever. Breves anotações?

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O que sou hoje é o que construí antes, em cada ato passado. Mas vivo mesmo só o presente.

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Vestidos. Saias em casa? Serão frescas, arejarão meu corpo? Práticas, as saias? E o olhar do outro? E eu me olhar com saias? Só mudo e escondido? Se em relação a saias sou assim, como serei em relação a cada possibilidade incomum de prazer?

*

Os pecados mortais, os pecados veniais. O prazer perde espaço. Um aprendizado, estar contente agora, aqui. Já o futuro, noutro lugar: ali, é mistério, é novo. Só saberei ao experimentar.

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Relembrando Laing, o Ronald, quero agora investigar como aqui cheguei, o que faço neste mundo, porque aqui nos encontramos, quem somos. Mas, antes, treinar alegria.

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Muita coisa já esqueci, um tanto de livros que li. Algo do DNA de lá passou pro DNA de cá? Sou assim um saldo do que me entra, do que me sai. Da soma do que permanece, ora as células, ora os conhecimentos, os sentimentos, as memórias.

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Estou grávida de me tornar mais inteira. O pensamento é a linguagem, o meio é a mensagem. Estas ideias vieram de outros que não eu. Imagino flutuantes. De repente, atraídas, se tornaram insights. Agora são também minhas. Compartilhadas, permanecem

sem donos, mesmo sendo suas, minhas, deles, nossas.

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Falsa memória, lembro de encontros comigo em que eu não estava lá. Presentes só na minha escorregadia memória. De fato, talvez só desejos. Lembro de fatos imaginados. Brinco com esta memória que me supre, me torna quem não sou. Conto só pra mim.

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Separações na minha vida: as que me lembro, carrego comigo. São aparentes separações?

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O que escrevo, se já sei, é mais uma recordação do que vivi, do que não.

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Sinal de alguma saúde? Não sei onde fica meu fígado.

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Sou imaturo no que sou ignorante. Quanto mais ignoro o que sinto, mais verde sou.

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Hoje distribuímos quentinhas que Regina, Bruno e Vera produziram. Os olhares, as palavras de quem, com fome, recebia, enterneceram nossos corações. Doar traz prazer.

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Sexo: as dúvidas de meu avô permanecem, geração após geração. Na infância, sexo um mistério. Na adolescência, sexo um segredo. Na fase adulta, que faço com meu tesão por gente que não devia? Maduro, acalmo-me um tanto. Morto, ausente de libido, ausente de conflitos.


 

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