segunda-feira, 20 de maio de 2024

117 riqueza relativa




117


Compreendo bem este lamento. Também demoro um tempo pra mudar meu próprio comportamento.


riqueza relativa



Vivo em equilíbrio dinâmico. Quando mexo em algo do meu sistema, meu sistema se adapta e se reequilibra de outro jeito. Se mudo o ritmo da respiração – e presto atenção – percebo novidades em pensamentos, em sentimentos, no funcionamento do meu corpo, na minha visão de mundo.


Também quando mexo na minha postura. Ou mexo na minha alimentação, nas minhas palavras, nas minhas atenções, nas minhas companhias.


Respiração é o primeiro e o último sinal de vida. Ao nascer, aspiro pela primeira vez. Ao morrer, expiro pela última vez. Entre meu primeiro aspiro e meu último expiro, vivo.


Vivo enquanto respiro, me emociono em função do que respiro, do ritmo, da frequência, da intensidade com que respiro. Ajo em função dos meus sentimentos, consciente ou não. Inconsciências afloram, atos falhos me lembram quem também sou.


Se bem que duvido. Talvez eu já vivo desde minha inseminação. Ou antes.


*

A riqueza é relativa. Ouço aqui uma música que me provoca sentimentos antigos, misto de banzo, nostalgia, leve alegria. Ninguém, neste momento, sente o sentimento que agora sinto. Rico de sentimento, eu, neste momento.


A riqueza é relativa. Lá no meio do mato, a moça colhe o fruto que leva a forma, a cor, o cheiro, o gosto, a essência. O bem-estar, a alegria, sentimentos despertam e só a moça sente. Ninguém, neste momento, sente o sentimento que, agora, aquela moça sente. Rica, ela, neste momento.


Se riqueza é estar contente – em cada um é diferente – a riqueza é relativa. Alegria, quando me enche – quando me supre – nada mais desejo, meus desejos ficam ausentes. Vejo o mundo de outro jeito. A alegria que percebo em mim, percebo lá fora. Alegrias, aqui. Alegrias, lá. Vejo ali o que sinto aqui.


*

Quanto mais me conheço, cresço. Uma aventura, esta, de experimentar em mim mesmo. Volta e meia, me arrisco. Acompanho minha respiração, fujo, volto, tento saber como respiro. Fujo, venho, pouco a pouco aprendo. Se corro, faço um esforço, já percebo, outro meu jeito de respirar.


Experimento, amplio. Inspiro, expiro. Experimento, ouço uma música e canto junto. Experimento – boto fora a raiva – me ajoelho, bato forte no travesseiro. Atento, em cada um destes momentos, ao que me vem ao pensamento.


Também atento a meus sentimentos. Tudo isto um mundo novo. Descubro o que já está em mim. Outra realidade se abre. Confirmo, só vivo – mesmo – o que percebo do que sinto.


*

Ao pio sofrimento da dor, prefiro o arrepio do amor.


*

Algumas respostas estão nas perguntas. Algumas perguntas já trazem respostas.


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Não consigo responder: o acúmulo, pra quê?


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Não-pessoa sou eu, quando passo e nem me veem. Não-pessoa é o outro, invisível aos meus olhos.


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Sou muito novo pra ser velho.


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Admito, outra gente sente diferente do que sinto.


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Sou conservador. Conservo o que me faz bem.


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Antes de ser ou não ser, em cada momento, estar ou não estar.


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Recreio: a massagem é a mensagem.

Bobeira, a massagem nasceu da coceira.


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Se estou bem e faço mal a ninguém, que mal que tem…


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Procuro em mim o que ofereço, o que procuro, no que me toca neste mundo.


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Minha fortuna, meu infortúnio. Meu prisioneiro, minha prisão. O que possuo me possui.


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Gentileza gera gentileza. E, quando não gera, é que o outro inda não sabe da beleza. Ou não aprendi, ainda, me comunicar com ele.


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Quem se conhece jamais se esquece.


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Quando quero trazer a criança que sou pra perto de mim, faço com a boca assim: brrruuummmm, brruuummmmm, brrruuurmmmm…


*

Quando quero trazer o adolescente que sou pra perto de mim, bamboleio os quadris, fecho os olhos e beijo.


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Irresponsabilidade, saber e não ser.


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Escolha de todo dia, escolha de toda hora, alegria em viver, agora.


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Como diz o cancioneiro popular, a cada passo que dou o mundo muda de lugar.


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Talvez o desejo pelo dinheiro, pelo poder, nasça da ausência, da carência de afetos.

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Todo afeto, do bom, um sucesso.


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Compreendo bem este lamento. Também demoro um tempo pra mudar meu próprio comportamento.


 

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