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Escolho que vivo, e consigo,
a cada cuidado que tenho comigo.
parto, de novo
Obá. Tenho me sentido tão bem. Levanto, arrumo a cama, tomo limão em água morna.
Pouco depois, furo um coco, bato com abacate, mamão, beterraba, banana ou cenoura… e aquela bucha do limão antes espremido.
Quando vem vontade, tempo depois, um cafezinho.
Pro almoço, vario o verde cru. Tem arroz, feijão, inhame ou mandioca ou baroa ou cenoura quase todo dia, além de algum vegetal inesperado.
Tudo cozido na água, como o alho, a cebola n’água refogados. Sal, só o pra acentuar os gostos. O açafrão dá cor. Os temperos mais variados.
Vez em quando, noutras horas, mexerica, caqui, banana, alguma fruta da estação.
Isto, meus alimentos. Acrescento todo dia algum movimento. Descubro a dança aleatória.
Boto
o headphone, ligo o bluetooth, seleciono no spotify uns rocks que
gosto… e deixo meu corpo balançar, algum reflexo chegar.
Experimento botar pesos nas mãos.
Umas sete músicas – uns 30 minutos – minha respiração se amplia, meu sangue circula diferente, reflexos despertam, o ritmo se instala, a mente obnubila, um murmúrio quase aaahhhnnn, quase todo me entrego.
Cientista de mim mesmo, quando a cabeça esquenta, caio debaixo da ducha fria… e esqueço de tudo, só sinto da água o frio… até o prazer do alívio, da quentura do sol, da maciez da toalha, do presente do agora.
Estou que gosto. Meus 73 viram 20, meio adolescência que inda sinto.
*
Já o que abaixo escrevo, sugiro ler no banheiro, se no banheiro reflete.
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Em cada caminho que faço, construo, omisso e em atos, cantinhos, buracos, regatos. Lá no fundo, sei o que me faz mal, o que me faz bem.
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Em cada alegria, vivo. Em cada tristeza, morro. Ao meu lado vivo, peço socorro. Enfim, sou remédio de mim.
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Agora sei, sou um homem incomum, como cada um.
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Escolho que morro a cada vez que me mato num ato que faço. Escolho que vivo, e consigo, a cada cuidado que tenho comigo.
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Movimento, se se institucionaliza, deixa de ser movimento. Paralisa.
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Racionalizo tudo. A emoção emerge e prevalece.
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Quando agitado, namoro, me acalmo.
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Movimento paralisa, se se hierarquiza.
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Tão bom, não ter prazos. Nem pressões, nem atrasos.
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Qualquer emoção, minha rotina vira exceção.
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Que má sorte, associam o supérfluo à vida. Veja a publicidade, é a morte.
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Parto de novo, agora no escuro. Volto a ser ovo do meu próprio futuro. Sensação de carinho, os sons quase mudos, negrume, morninho, esqueço de tudo.
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Se assim nos carnavais, como então nos futebóis? O jogo como prazer, o prazer no ato do fato. Quanto a vencer, talvez, agora sua vez.
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Desconfio, controlo. Controlo, se não confio.
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Reflito
a esmo. Na multidão dos aflitos, acredito em mim mesmo.
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O que me proíbo, em outros critico. Se não me permito, a outros inibo.
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Olhos, ouvidos, nariz percebem uma situação. A realidade contradiz o rádio, o jornal, revista, televisão.
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Uma amiga me ensina: como posso dizer sim a algo que não está em mim?
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Um amigo simplifica: complexidade – isto e aquilo, em vez de isto ou aquilo.
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Melhor me escuto quando em silêncio.
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Em mim, alguns mortos, vivos. E alguns vivos, mortos.
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Mesmo velho, tudo novo. Nunca vivi o que agora vivo.
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Ah! Quanto tantra, juventude sem idade. As alegrias são tantas, são tantas as novidades.
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A morte, uma bolha. Como a sorte de escolha que faço, desatento, a cada momento.
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Se cuido das causas, os sintomas se vão.
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