quinta-feira, 16 de maio de 2024

121 autocompaixão



121


O saber vem da experiência. Quando sei, acredito. Quando sei, tenho fé. Tenho fé no que sei, experimentei. Fé, filha da sabedoria.


autocompaixão



Carrego em mim o que vivi e vivo. Incomum, como qualquer um, vivo e vivi sentimentos só meus. Cada sentimento está na minha memória e vem à tona inesperadamente. Mistério – uma imagem, um som, uma brisa, uma sensação, um cheiro, um sentido… – algo me desperta um sentimento.


Sentimentos me facilitam sensações. Sensações me facilitam sentimentos.


*

Memória consciente não tenho de cada sentimento que vivo e vivi. Também não tenho memória de mim no útero. Nem memória de antes. Quando, imagino, talvez, minha essência – alma, consciência – se espalhasse, viajasse pelo universo.


O que me traz para hoje, para este tempo-espaço, aqui-agora? Este vislumbre de seres – de mim diferentes – mais, agora, confio existentes.


Seres vegetais. Aquela planta que se transforma em mim quando dela me alimento. Seres minerais. Esta água que me lava e carrega esta tensão que em mim estava. Seres animais. Esta vaca que agora passa, este cachorro, gato, piaba, passarinho, muriçoca, sapo. E outros seres mais, vislumbrados, impalpáveis, etéreos, desapercebidos.


*

Quando a alegria, mais que me supre, transborda, a alegria se espalha. Mistérios da vida, isto impalpável, só sentido, intuído. Mexo no mundo quando mexo em mim. Quem sente, sabe. O saber vem da experiência. Quando sei, acredito. Quando sei, tenho fé. Tenho fé no que sei, experimentei. Fé, filha da sabedoria.


Nestes mistérios todos, aqueles diferentes de mim. Se mal me conheço, menos conheço outros. Nem sei se sei mesmo. Talvez só pense que sei. Escrevo, então, o que me vem, mesmo em dúvida do ser e não ser, do saber e não saber, do real e do irreal.


Sou, imagino, fruto do que me construí. Cada vivência, cada sentimento, cada momento vivido – uns mais, outros menos – está em minha memória, consciente e inconsciente. Estas memórias cutucam-despertam-orientam o que hoje estou.


Da infância, variadas memórias. Hoje, mais que memória, imaginação. Lembro de momentos que me marcaram. Os exemplos me educaram, repeti, repito o que aprendi. Hoje, uma alegria por quase qualquer motivo. Quase nada – agora, nada – me faz falta. Tenho me cuidado afetivamente, fisicamente. Em alguns momentos me movimento, brinco com o ar que me entra e sai, me alimento de vegetais, cultivo leves sentimentos.


Meus sentimentos, descubro, muito têm a ver com escolhas que faço. Se ligo a tv, se ligo o rádio, se navego em ondas estranhas, me afloram, por vezes, sentimentos que não gosto – medo, raiva, tristeza, estranheza. Já navegar em leves ondas tem me trazido leveza. Assim, também, outras escolhas interferem em meus sentimentos. Tudo, um tanto, interfere. Eu me sinto sistêmico, dinamicamente equilibrado, como qualquer um de nós, como quase tudo, se não tudo. Cada qual no seu equilíbrio, único, diferente de cada um.


Realizei, no sonho, meu desejo. Freud explica. Quando, antes de dormir, como algo salgado e, ao dormir, o sonho de beber água me chega... o sonho realiza o meu desejo, bebo água no sonho. Acordado, no entanto, permanece minha sede.


Desconfio de mim. Expresso raivas em meus pesadelos. Meus pesadelos realizam meus desejos, ao expressar raivas inconscientemente contidas quando acordado.


Desde a infância, fugi de brigas, de conflitos, de confrontos. Aprendi, aprendo me adaptar à realidade, ao que é. Desvio daqui, caminho ali, escolho dentre o que me é possível. Em casa, mais fui cuidado, amado, respeitado, orientado. Acredito, como Winnicott, tudo começa em casa. Depois, fora de casa, bem me serviu o que lá aprendi. Tropeçando, aprendi, aprendo. Cuido de mim, cada vez me amo mais, me respeito, me oriento. Sou, assim, resultado do que vivi e das escolhas que agora faço.


Sinto, o que sou é fruto do que vivo e vivi. Belo presente. Escuto e me escuto e danço e lembro.


Sol, mato, riacho, mar, tempo e afetos, caminhos abertos, simples amor… pensamentos aleatórios, assim, sem mais nem menos. Deixo. Chegam e vão.


Vario. Luto com meus desejos. Almejo: amor livre como decorrência natural da essência do meu amor. Ser eu mesmo, sem culpa, sem medo. A entrega ao sentimento original. Autocompaixão?


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário