quarta-feira, 15 de maio de 2024

122 quanta vida não vivi





122


...se cuido da doença, desaparece o sintoma.

Se cuido do doente, desaparece a doença.


quanta vida não vivi



Não posso mentir pra mim mesmo. Posso ser diferente do que sou. Também, um tanto, sou o que escolho ser. Mas só sei ser eu. Não sei ser outros.


Se dou um abraço, sou eu que dou o abraço, sou eu o que abraça. Se dou um tiro, se faço fofoca, sou eu que dou o tiro, sou eu quem provoca, sou eu quem atiro. Se faço um carinho, sou eu que acaricio. Sou responsável pelo que faço, pelo que sou.


Se faço parte de um sistema, de um esquema, de uma organização, de um serviço público, sou responsável pelo que, ali, faço. Contribuo para os resultados do trabalho da equipe com quem trabalho. Sejam quais forem os resultados, ali tem um tanto da minha colaboração.


Este, um meu poder. Escolher. Posso escolher se colaboro ou não. Simples assim. Democracia inclui eu poder escolher. Sou responsável pelas minhas escolhas. Não posso mentir pra mim mesmo.


*

Também, não posso viver a vida do outro. Às vezes, empatia, sinto um tanto do que outro sente. Sofro com seu sofrimento, me alegro com sua alegria.


Sucesso, sinto, vem de parecenças. Se ouço uma música e me emociono, fico fã de quem toca, canta, me toca. Se alguém trata bem alguém e eu me emociono, fico fã. Ô maravilha de minha preservada natureza, me identifico, sou fã da beleza.


*

Nem vejo tanto, mais acredito em minha intuição. Filhotes de cachorros, como outros jovens animais, brincam entre si, se embolam, lambem, pegam, limitados pelo limite que cada um impõe. Assim não, com nós humanos. Antes e além do limite que cada criança impõe, na brincadeira talvez esteja, por exemplo, a fronteira internalizada da sexualidade culturalmente proibida. Aqui, é o adulto, com sua cultura, que determina o que pode e o que não pode, meio do jeito que este mesmo adulto aprendeu, na sociedade em que vive e viveu.


Há, nunca vi, só soube, culturas onde meninos têm seus prepúcios ritualmente cortados. E outras, onde meninas têm seus clitóris mexidos. E mais outras e outras, onde são dados castigos pelo livre brincar com seus genitais, com seus sexos, suas sexualidades. Castigos ainda neste mundo – uma surra, um olhar brabo… – além de castigos prometidos para depois da morte. Desde criança, sexo é proibido. Sexo se liga a castigo. Pra uns, menos. Pra outros, mais. Eu, até hoje, desperto, em mim, medos de castigos, culpas que me limitam.


Imagino, sexualidade. Animal castrado, animal dominado. Também assim com a humanidade. Quem castra, domina.


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Alegria tem sido assim. De repente, guinada inesperada. Se não presto atenção, vai embora, a danada.


Sorte, bom destino aquele de quem a sexualidade é protegida. Permanece mais livremente a alegria pelo espontâneo sentir, pelo aleatório bem viver.


*

Lennon, terna razão, all we need is love. Love is all we need. Somos muitos, os que também praticamos o bem pra todos. Meu interior é infinito, como infinito o universo. Sem fronteiras entre nós. Começa, em mim, com a respiração. Sou parte de onde estou, quando presto atenção.


Como a comida que como se transforma em mim dentro de mim. Sou o que como. E gasto em comida o que não gasto em remédios. Minha comida, minha saúde.


Também a homeopatia tem me facilitado a vida. A próstata, por exemplo, tranquilamente equilibrada desde que uso o Sabal Serrulata, orientado por minha homeopata. Homeopáticos, há anos, têm sido os únicos remédios que tomo. Exceção, arrisco, tomo sildenafila quando meu desejo é grande e o corpo não acompanha. Um tanto, aqui, misturo passado e presente. Por um belo período, passado, só homeopáticos, eu só vegano. Mas, no presente de agora, uso, desconfiando, alopáticos. E como, volta e meia, o que me alegra no momento… e depois me faz mal.


Mas, agora sei: se cuido da doença, desaparece o sintoma. Se cuido do doente, desaparece a doença. Em mim, tem sido assim, me gosto mais quando tenho cuidado de mim. Um pecado meu, isto de saber e não ser.


Sou sistêmico. Se mexo na respiração, na alimentação – ou se me mexo – tudo, em mim, se reequilibra de outro jeito. Também o mesmo efeito, tudo muda em mim – muda minha visão de mundo – se experimento, escolho meus pensamentos, se alimento meus sentimentos.


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Quanta vida viva não vivi. Por medo, preconceito, preguiça, desleixo, ignorância. Um poeta já disse “perdi minha vida por educação”.


Viajo. Meu interior é sem beira, como o universo entre nós, sem fronteiras.


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Quando urino na terra, meu mijo vira terra, vira água, vira planta. Quando como a planta, a planta vira sangue, vira eu. Eu viro planta, a planta vira eu. Eu viro água, terra, ar, energia. O real é mais do que vejo, percebo. Meu mundinho, só vivo o que percebo do que sinto.


Eu, água, planta, terra, bicho, sangue, ar, tudo pulsa. Se pulsa, vive. Se interajo, faço parte do todo que se move.


Tudo que procuro leva ao infinito. E mais, leva ao que desconheço, leva ao mistério. Só prestar atenção na respiração é, pra mim, desconhecido. Nos momentos que presto, meu estado se altera, eu todo mais presente, diferente.


E se não coço o que me formiga e permito o formigamento virar reflexo, os movimentos espontâneos inesperados, reflexos, dançam. Como que vagueio.


Saúdo o sol, as plantas, os bichos, a natureza, sigo a natureza. Animo o ânimo, a ânima. Acalmo-me animado.


Tenho estado no que faço. Levanto, sento, caminho, vou ao banheiro, preparo comida, lavo roupa, escrevo, converso. Atento à respiração, faço um café, diagramo bruto o bruto texto, tomo água, arrumo a cama, tudo tem se realizado naturalmente. A favor, não me permito determinar prazo que não precise. Metas sem prazo. Isto me facilita poder escolher.


Fico alegre, se me permito aprender a fazer o que, naquela hora, o desejo pede. Tenho me guiado pelo desejo. O cultivo, sempre presente, do bem-estar, além do meu, de quem não eu. Vidas boas pra todos universos.


Tenho metas, algumas. Prevalece a ausência de prazos. Adeus, um tanto, ansiedade.


Tudo aprendizado. Estou, mais do que sou. Estou diferente do que estive.


Gêmeos. Lento na ação, rápido no pensamento, esperanças no coração, sou um a cada momento. Tonto, meio bobão, preso a cada lamento, alegro, choro, em vão, sou um a cada momento. Mergulho na criação, pego carona no vento. Ora razão, emoção, sou um a cada momento. “Este cara sou eu.”.


Vario. Respiro e escolho. Quando escolho bem, ô beleza. Tão afetuosos estes cuidados, tão boas estas ondas de afeto. Estes dias têm sido assim. Chuva fina intercala dias solares. A calma envolve a alma.







 

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