domingo, 16 de junho de 2024

100 vida bonita




Carrego o que sou pra todos lugares que vou.


vida bonita



Cada fase da vida me parece eterna. Mas não é. Agora mesmo, me faltam ideias. Ao mesmo tempo, coisas boas acontecendo. Tem a Zaz, inesperada, espontânea, tão à vontade que fico também. Já eternos, tem o Chico Buarque e o Chico César, o Caetano, o Gil, o Erasmo, o Alceu, a Rita Lee. Tem o Zé Celso, Gonzagão, Gonzaguinha, o Milton, o Beto, os Novos Baianos, o Criolo, o Nei, o Tom, o Toquinho, a Gal, a Bethânia, o Roberto, o Belchior, o Geraldo, o Vinícius... Tanta gente a mexer com minhas emoções… Como se fossem amigos antigos.


A música, o amor, linguagens universais que me traduzem os Beatles, os rocks, os que profundos mexem comigo. E brotam novos artistas, novas músicas, outros ritmos, palavras que tocam. E as esperanças, tipo crianças inocentes, como sabem tanto se nem viveram tanto assim? E os mais próximos, nem tão famosos, falam línguas de minha infância.


Novo, tem. Mas, eu perdido em meu umbigo, envolvido com este amontoado de pensamentos piratas no mar de minha cabeça. Pulam, pululam e nem sei mais o que fazer. Apelo pra rotina, aquela mesma de todo dia, tirar a coberta de cima, espreguiçar, estender os lençóis, urinar, lavar o rosto, vestir o à mão, tomar limão, bater as frutas, esquentar o pão de beijo, tomar, comer, botar na composteira o que jaz resto, me ligar ao sol, sentar aqui e deixar rolar, mesmo nada tendo a declarar.


Motivos pra bem viver, não faltam.


Liniker, outro dia, mexeu comigo. Como mexeram o Cristiano, a Júnia palhaços a espalhar cultura, o Frei Chico, com seu amor independente, a Clau com suas parturientes. Lá no interior, a Cida, a cultivar a vida. A Dade, o Aroldo. E Stella, em sua livre guinada. Ló, Lina, Pedro, Felipe, Bento, Bia, a inocência, o desabrochar. Outro mistério, acontece ali o que acontece aqui. Em todo lugar. Crianças como cadernos novos, páginas em branco.


E tantos de nós, desconhecidos, a cuidar de si, do ao redor, do mundo.


O Colo da Montanha, o Alecrim, as escolas livres. Os que amam os ofícios que professam. Os professores quando aprendizes. Os poetas, os executivos que plantam alegrias. E as solidariedades de toda hora. O sol, a chuva, a brisa, estrelas, os sapos, os gatos, formigas. As folhas, os chás, saladas, os grãos, os caldos, as moças, os moços. Os passarinhos, cachoeiras, flores, regatos, matos, trilhas, picadas, estradas. E o ar que entra e sai, na medida que colho e sopro. Gente que gosta de gente.


Passeio na nuvem virtual e lá estão. Outras culturas que não sabia. Constante escolha, trabalho de separar o trigo do joio. Nosso planeta, Merli, Rita, Dez por cento, Cukoo, After life, Borgen... E se vivêssemos todos juntos, Lazzaro Felice, Heal – O poder da mente, Salvados, A noite de 12 anos, Meyerowitz – família não se escolhe, Roma, A confissão, A rainha da Espanha, O método Kominsky, Wanderlust, Os amantes do Café Flore, Quando sinto que já sei, A fabulosa história de Amélie Poulain, O pequeno Nicolau, A culpa é do Fidel, Assumindo a direção, Perfume de mulher, Tokio Stories. Borgen... Um mundo de filmes. Ficções e realidades que não acabam. Isto só no Netflix.


O Youtube é inesperado. EQM – Experiências de quase morte me emocionam, vidas depois das vidas, obá. Jout Jout, Dráuzio, Sidarta, Krenak, Duvivier, Porchat, Lula… como se fossem aqui na sala. E músicas, músicas, músicas. Documentários além da minha imaginação.


E os livros. Um monte, na cabeceira. Leio e sonho. A vida secreta das plantas, Salvando seu coração, Amor e sobrevivência, Vira volta, Sapiens, Homo Deus, 21 lições para o século 21, Quando a boca fala, Comer para não morrer, Escuta Zé Ninguém, A função do orgasmo, A arte da guerra, Do In, Arroz de palma, A menina do sobrado, Leminsky, Quintana, Manoel de Barros…


Além dos livros, dos filmes, das músicas, as inesperadas realidades. Vou ao Vale do Jequitinhonha e lá está minha primeira infância. Os cheiros, os sons, as vistas, os sotaques, gente que nem o âmago meu. Volto ao Rio, inesperado, pouco entendo. Na Bahia, outros cheiros, outros jeitos, descanso. Já em Teresópolis, brotam vidas. Fui a Portugal, pessoas como as pessoas que encontro aqui, outro o clima, gastas terras.


Músicas, filmes, livros, viagens, mensagens, massagens, conversas são boas quando saio melhor que entrei.


Carrego o que sou pra todos lugares que vou. Comigo, sempre, minha visão de mundo, meu jeito de ser. Vejo o que sinto. Sem querer, querendo, viajo pelo meu umbigo.


Vivi meus primeiros quatro anos e meio em Salinas. O que lá vivi ocupa espaços profundos em mim. Outras marcas, novos sentimentos, ganhei em Montes Claros, nos treze anos lá vivendo. Das boas lembranças, os carinhos de quem me acolheu, os calores, sabores, paisagens, os catopês, as festas juninas, as brincadeiras na rua, os mercados, as feiras com seus cheiros, os primeiros beijos.


Como criança que pede pra repetir estórias, nas viagens procuro o que já vivi. Eterna tentativa de repetir, em mim, o bem sentir.


Fico alerta quando tristezas me ameaçam. Se for choro, choro. Se chororô, fujo. Mudo, tomo um banho frio, abraço gente que gosto, acaricio algo vivo, uma planta, uma pedra, um bicho. Abraço, descubro, é justo. Ao mesmo tempo que dou, recebo. Mas se vivos não encontro, tento livros. Ou – quase o tempo todo atento, arrisco – procuro motivos pra alegrias, escolho o que me faça bem nos Facebook, e-mails, Netflix, Youtube, nos virtuais da vida.


É que a vida, agradeço a Gonzaguinha, “…é bonita, é bonita e é bonita”.






 

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