terça-feira, 11 de junho de 2024

104 alegria contamina




104


Sinto, há vida depois da vida.

Tudo que sinto indica.


alegria contamina


Se economizasse recursos, dinheiro tentaria não guardar. Desvaloriza. A inflação come o que os bancos não repõem. Com o mesmo dinheiro, há um ano, compraria 10 quilos de feijão. Agora, talvez não compre 8, mesmo o dinheiro estando na caderneta. Raciocínio daquele momento.


Se guardasse recursos, guardaria em coisa útil, coisa viva. Se feijão não estragasse, pouparia em feijão. Se suficiente, compraria um terreno, uma casa. Investiria na minha vida boa, faria parceria com quem amo, com quem confio, imprimiria livros, realizaria sonhos, me solidarizaria, me guiaria pelos princípios da contabilidade cósmica, aquela que, mesmo sem eu entender, regula os universos, devolve a mim, de um e outro jeito, o bem que faço. Saber e não ser? O que me faço quando sei e não sou?


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Por outro lado, confio mesmo é em quem comigo troca afetos. Médico bom, pra mim, por exemplo, aquele que me escuta, me respeita, me cuida como bem cuida de si.


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Naquele ano, há exatamente quantos anos não sei, sei que semanalmente, fui publicado pelo Jornal de Notícias de Montes Claros. Este era o artigo 104. Uma alegria. Estou grato.


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Amadureço neste agora de anos passados. Hoje, ainda, tomo conta de mim. Mas, logologo, talvez cada vez mais, dependente de outras pessoas que não eu.


Devo pensar no meu envelhecimento. Naquela fase, quase ausente ainda que vivo.


Ao meu redor, são poucos os já dependentes. Imagino, pressinto o sofrimento de quem cuida, além do sofrimento de quem é cuidado. Vejo tanta gente se desequilibrando ao cuidar de seus dependentes.


Vejo, também, velhos sadios, autônomos, cuidadosos consigo mesmo, vivos em vida. Quero bem viver assim, cuidar de mim mesmo, dar o mínimo de trabalho aos mais próximos. Mas não tenho me cuidado o suficiente.


Que posso fazer, agora, pra manter minha independência?


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Estes escritos têm misturados seus tempos.


Por outro lado, imagino, sonho. Sinto, tudo começa com o sonho. Imagino eu, mais velho, independente, a viver como gosto.


Tenho me respeitado, mudei recente meus hábitos de vida. Decidi me cuidar, já. Alimentos, por exemplo, sei, o que como se transforma em mim. Sei, também, parte do meu corpo que não use, atrofia. Minhas emoções afloram com minhas respirações. Aprendo. Cuido do alimento, da respiração, do movimento. Dos pensamentos, dos sentimentos.


Pratico aquelas pequenas tarefas que me fazem independente. Arrumo minha cama, faço minha comida vegana sem óleos – se possível, orgânica. De acordo com o desejo do momento, leio, meio que medito, escrevo, meio que danço, faço uma cortesia, colaboro, fumo, fico meio lerdo, bobeio, lucido.


Aprendo escolher pensamentos, cultivar sentimentos que me alegram. De tanto me repetir, acredito: meu Deus se alegra com minha alegria. Esta a minha oração. Aproximo da minha espiritualidade.


Sinto, há vida depois da vida. Tudo que sinto indica. Isto me anima, me conforta.


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A homeopata amiga facilita meu equilíbrio. Tomo glóbulos homeopáticos. A homeopatia cuida do doente. Equilibrado, me cuido, não acolho doenças.


Neste período, medicamentos alopáticos, não tenho usado. Exceção eventual, arrisco sildenafila quando o desejo pede e meu corpo não acompanha.


Tudo do mais simples e melhor: alimento, respiração, movimento, pensamento, sentimento. Procuro não falhar nos meus atos. Mas atos falhos me lembram quem sou naquele momento.


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Rio melhor quando rio de mim mesmo, satisfeito com esta minha coragem repentina de ser eu mesmo.


Sinto urgência de bem viver. Os dias passam assim, eu vestido de menino, pés no chão, calção, ao sol quando o corpo pede sol. Acolho uma conversa, aprendo a arte da escuta.


Sinto, muda o mundo quando muda meu olhar, meu jeito de ser. Minha culpa se enfraquece quando percebo sua fragilidade. Quanto melhor me sinto, me permito e vivo, melhor vejo o mundo.


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Perguntas expõem perguntadores. O conteúdo tem a ver com quem pergunta?


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Algumas metas, eu tenho, mas fujo de prazos. Prazos me angustiam. Quero bem viver, sem angústias.


Quero uma vida saudável, simples como me agrada. Um espaço. Um quarto. Coletivos, uma sala, um quintal, um banheiro, cozinha. Outros quartos, se outros, como eu, moram nesta mesmo casa. Ganchos pra redes, chuveiros fora e dentro. Um pomar, uma horta, um cajado. Se uma fonte d’água, se estrada perto, internet, vizinhos solidários, é bom.


Aprendo abrir mão do que não uso. Quando simplifico, me animo ao intuir que qualquer um pode fazer o que se proponha fazer – em função de seu próprio desejo, sua dedicação, sua realidade.


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Muitas vezes, sou não-pessoa, aquela não percebida. Como, muitas vezes, a faxineira, o garçom, o taxista, o pedinte, o diferente.


Sinto, é dinâmico meu equilíbrio. E sistêmico. Qualquer movimento em mim, me reequilibro de outro jeito. Já não sou o mesmo.


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Tropeço, me permito errar, é natural. Tudo que faço é pela primeira vez, é novidade. Tudo aprendizado. Quando repito, tento, de novo erro, aprendo com o erro, com o acerto.


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Dançar me anima, um banho frio depois de um quente, também. E aprendo fazer o pão de beijo, pão de queijo sem queijo. Talvez acrescente alguma cannabis – que, antes, refogaria – e vire um belo remédio, bom pra meu livre pensar, livre sentir, leve alegrar.


Descobri o spotify e o headphone bluetooth. Fiz uma lista de rocks que gosto… e danço todo dia. Tem sido meu exercício predileto. Quem me vê, de longe, talvez pense: maluca beleza. É que tenho estado mais feliz. E me alegro ao lembrar que “alguém só reconhece em mim algo que tenha em si.”.


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Hoje sei. Cada ato que faço, um ato político, interfiro no mundo, como aquele passarinho que leva gotas d’água pra colaborar no apagar de incêndio.


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Confesso, tenho alguma dificuldade em diferenciar fantasia de realidade. Sei que em alguns momentos sou o que desejo ser. Noutros, desejo e não sou. Quando me lembro, sofro por saber e não ser.


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Desejo vidas boas para nós todos, cada um do seu jeito, de acordo com seu desejo, dedicação, possibilidade. O limite de cada um, a fronteira, o bem-estar do outro. Minha irmã, Lina, me lembra: alegria contamina.





 

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