domingo, 9 de junho de 2024

106 agora ou nunca




106


Mesmo aqueles desagradáveis afetos que no ontem viveu, hoje sabe sabedoria. Não pisa no mesmo buraco, escolhe.


agora ou nunca


Experimento viajar na cabeça de Chico, um novo amigo. Pura imaginação. Chico vê o mundo como uma comunidade. Uma comunidade que só é comunitária quando prevalece o espírito comunal. Chico quer incorporar tal espírito.


Chico sacou, tem a idade que sente. Hoje, ainda, toma conta de si. Mas, logologo, talvez cada vez mais, dependente de outras pessoas. Pensa no seu envelhecimento. Nesta viagem da imaginação, não sabe o destino. Também, quem sabe?


Chico está em transformação, se sente vivo, atento, especialmente, aos próprios sentimentos. Percebe, agora, que vê o mundo diferente, dependendo do que sente.


Nesta atenção constante – também ao próprio corpo – percebe alterações em sua respiração. Ora inspira fundo, mas mais quase não inspira. Agora, descobre, quanto mais profunda sua respiração, mais emergem emoções, mais se aprofunda nelas.


É como se sua atenção e respiração abrissem sua mente, ampliassem suas percepções.


Tem lido, quando vem uma faísca do desejar ler. Também, depois que ficou atento, Chico procura só fazer algo que saia melhor que quando entrou. Quando calcula, tudo calcula em tempos de vida. Em tempos de sua própria vida. Facilita o fato de, cada vez mais, estar atento ao agora.


*

Sua vida tem limite. Passado um tempo, irá embora. Não sabe pra onde, como não sabe aquele feto, nos maremotos em momentos do seu parto. O feto, Chico imagina, talvez esteja com um medo enorme, talvez pressuponha como morte sua saída daquela boa vida, dentro daquela barriga tranquila. Teve a sorte, aquele quase bebê, de crescer no ventre amigo daquela mãe amorosa.


Os maremotos se traduzem em ondas, a mãe encontra seu jeito, viaja o neném naquele túnel em movimento, a claridade, a cabeça sai, saem os ombros, sai. Surpresa, diferente ali do que imaginava. Não é morte, é outra vida. Mais sorte teve, chegou amparado por mãos amigas e, mal chegou, já repousa no colo de quem saiu.


Chico, pura empatia, revive em si o que vive o bebê. E sente o que o bebê sente. Chico, naquele momento, é o bebê.


Na linguagem dos sentimentos, se comunicam todos, ali – o bebê, as mãos amigas, a mãe. Sentimento de um só. Ubuntu. “Eu sou porque nós somos.”.


O mundo de Chico, o bebê, agora, é um paraíso. Afetuoso, quentinho, desejos supridos, ausentes as faltas. Espelha amor. Que bom ser bebê. Cada choro, uma mensagem específica. Choro assim significa “estou com fome”. Choro assado, gases, dor, colo…


Chico percebe que seu sentimento deflagra, ao redor, outros sentimentos. Equilíbrio dinâmico. Esta interdependência, estes vínculos nascem das semelhanças dos sentimentos. Cada um tem a possibilidade de reconhecer no outro o que sente em si – esta, uma nova linguagem, a dos sentimentos. Toma conta uma sensação de ser um só – sozinho ou junto, sozinho e junto.


Chico, mais velho, se se lembrar destes momentos, terá sentimentos semelhantes quando, atento, cultive a ausência de faltas e supra com a realização seus desejos despertos.


Mas isto é outra história.


*

Maduro, Chico conseguiu se libertar – um tanto, não tudo – de preconceitos. Aceita-se como é. Teve a luz de se sentir semelhante. Aquilo de ser como outros seres, de serem um.


Pulsa, como tudo que vive pulsa. Chico se alegra com a alegria do outro, se entristece quando outro ser se entristece. O que percebe em si percebe no outro, sente o outro e a si como um, mesmo sendo um cada um. Chico cuida do outro como de si mesmo.


Vive bem consigo mesmo, o Chico. Antes, inda imaturo, omitiu, mentiu pra outros. Mas, sacou logo, mentir pra si mesmo não sabia.


Estas sabedorias foram se instalando em Chico e ele usufruía delas. Só usufruía do que tinha conhecimento. Do que não sabia, não usufruía. Quanto melhor ao redor, melhor pro Chico. Sua alegria, nossa alegria.


Um capital do Chico é sua memória afetiva. Mesmo aqueles desagradáveis afetos que no ontem viveu, hoje sabe sabedoria. Não pisa no mesmo buraco, escolhe. Já a agradável memória, que glória, outra história. Cultiva despertar a lembrança de sua própria saudável criança. Alegre, se sente na infância.


Uma aventura, esta vida de Chico. Aprende viver do jeito que gosta. Escolhe, quando lembra, o que lhe faz se sentir bem. Chico tem a idade que sente. Vive o presente.









 

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