quarta-feira, 5 de junho de 2024

110 antes de dormir



110


Penso mais. Não sou eu quem tenho animais:

animais é que me têm.


antes de dormir



À noite, quando deito, pronto, tenho perto uma garrafa d’água, o travesseiro no ponto, a coberta, o cobertor, o abajur aceso, os dentes escovados, a bexiga vazia.


Cuido, então, dos pensamentos. Desvio dos que me vêm à toa, volto a atenção pro ar que sai, pro ar que entra, inspiro, expiro, me perco. Vou e venho, saio e volto.


Se leio, escolho. Como tenho procurado escolher, toda hora, cada ato que faço, cada fala, cheiro, gosto, escuta, visão. Tudo novidade, também, pra mim. Um aprendizado, isto de escolher o que viver.


Escolho a leitura e nela viajo. Relaxo, vem o sono, vem os sonhos. Nem sempre assim. Às vezes, assado. Pesadelos, boca seca, sou atacado por gente, por bicho, me defendo, chuto, gemo, grito. Um susto pra quem está perto. Acordo, me recomponho, de novo tento. Adormeço. Esqueço.


O mundo muda de lugar, vejo o mundo de outro jeito, tudo em função do meu sentimento. Descubro e me surpreendo, em mim, o que sinto, a base de todo meu comportamento.


Relembro, meu sentimento vem, também do meu pensamento. E meu pensamento é despertado pelo que leio, vejo, toco, como, ouço... Se assim, obá. Ao cuidar de cada ato, cuido do que penso, do que sinto, do que vivo. É que, novidade a todo momento, só vivo mesmo o que percebo do que sinto.


Mas me acalma uma leitura que me toca.


*

Uma armadilha, um laço: faça o que digo, não o que faço.


*

Os que fazem fofoca são também responsáveis pelo que a fofoca provoca.


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Se bem um faz a si e mal faz a ninguém, que mal que tem?


*

Penso mais. Não sou eu quem tenho animais: animais é que me têm.


*

Com a amiga de um amigo, aprendi algo assim: só reconheço no outro o que tenho em mim.


*

Meu espelho não mente. Só vejo o que sinto.


*

Imagino. Se o suficiente impera, que faço sem desejos?


*

Paciente. Quem está impaciente? O médico, o doente, o cliente? E quem está doente? O impaciente, o paciente?


*

Cuidados. Como cuido do outro, se não cuido de mim?


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Quando contente, antecipo meu futuro, vivo o presente, sou hoje o que desejo. Aprendo viver hoje o que pro futuro desejo.


*

Aprendo viver neste mundo, do jeito que ele é. Aprendo viver como gosto. Evito conflitos, navego nas possibilidades.


*

Sim, sinal de saúde, rio de mim.


*

As práticas, as vivências me trazem experiência.


*

O que deveria ser, não é. Um desafio, bem viver, com prazer, o que de fato é.


*

Humor, se com bom, caminho certo. Se com mau, me alerto.


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Pra que mais, se menos me supre? Pra que minto, se essencial é o que sinto?


*

Li ontem um trecho de Freud que fala de mim, de você, sem nos conhecer.


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Que prazer! Boas novas, isto de ler sem fazer provas.


*

Devo guardar como lembrança: dentro do incêndio, só vejo chamas. Se fora, esperanças. O que desejo, a vista alcança.


*

No fundo, se confuso, complico, confundo, conflito, confronto.


*

De repente, me pego em pleno apego ao meu ego.







 

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