domingo, 2 de junho de 2024

113 mecutucuticutuco




113


Não é que eu não tenha tempo pro prazer.

É que escolho outras coisas pra fazer.


micutucaticutuco



Tenho me repetido, focado no meu umbigo, voltas sem fim ao redor de mim.


Talvez agora seja um tempo de pegar uma enxada. A cada enxadada, botar um tanto da raiva que só expresso em meus pesadelos. E, mexendo numa coisa tão antiga – cutucar a terra – me cutuco, me desperto. Nos sonhos, realizo meus desejos, Freud me escreveu.


É que é tudo interligado, sistêmico. Aqui, sai Freud, já sou eu. Mexo aqui, deflagra ali. Um equilíbrio dinâmico. Desequilibro aqui, o todo se reequilibra de outro jeito.


Assim, também, com meu comportamento, em relação a meus hábitos. Sou outro, diferente do que sou, a cada mexida que, em mim, me dou. Em cada movimento, corro um risco. Bicho experiente, arisco pelo tanto sofrido, arrisco.


Um beijo, sussurro, um toque, um olhar, uma fantasia, um passo, tudo muda de lugar. E só disto sei quando atento ao momento. Uma respiração, então, amplia meu mundinho prum mundão.


Talvez seja meu momento de me entregar ao acaso. Pronto pra dar o salto, pronto pra espreguiçar. O que for, será. Tipo deixar a vida me levar.


Desejos se repetem. Agora, por exemplo, só recordo, nada de novo digo. Alguém, mais antigo, sacou, “carpem die”. Há pouco, outro, relaxando, musicou, “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Antes, lá longe, “laissez-faire”. E, Beatles, “let it be”.


Faço assim, me permito ser quem desejo ser – parecido com aquele bem-estar da fetal entrega – ou luto contra o que mais profundo sinto e brigo com o mundo, tento transformar o outro, antes mesmo de me transformar.


E, agora, meu bem, tomo tento e me assumo responsável por estar como estou, pelo quem sou. Grilos em férias, aprendo, me protejo, cuido de mim como cuido de quem amo.


Acima e abaixo, imaginação e realidade. Comigo tem sido assim. Imagino, sonho. Quando me dedico, desperto, realizo.


*

Meu Deus, pura empatia, se alegra com minha alegria.


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Não é que eu não tenha tempo pro prazer. É que escolho outras coisas pra fazer.


*

Que alívio. Minhas escolhas determinam o que vivo.


*

Conflito ou paz. Qualquer um é responsável pelo que faz. Como aquele que manda, como aquele que fofoca, o soldado que dá o tiro é também responsável pelo que o tiro provoca.


*

Sinto, sonho tantas metas. Só não tenho a hora certa.


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O dito de um amigo, me ensinou uma amiga – pura submissão:

o que você quer que eu queira, pra eu querer?


*

Que bom poder decidir, aqui, só, comigo, o que sou, o que desejo: ser meu próprio amigo.


*

Mentir pra mim, não minto. Sou o que penso, falo, vejo, o que ouço, faço, sinto.


*

Muito do que penso verdade – novela, show, ficção – vem do que me disseram: notícias, informação. Verdades mesmo não eram. Meio falso, meio vão. Cortinas, desvios, quimeras, meios d'incomunicação.


*

Se deixo vagar minha mente. Bem, se bem devagar. Esqueço, desleixo, vago no ar.


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Mais do que falo, mais do que penso, sou o que sou, sou é imenso.


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Ah! Se cada policial fosse assim como um gari que cuida de mim.


*

Desejo de presente um presidente, público servidor: antes de governar a outros, governa a si e bem. A outros governa porque lhes quer bem.


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Não há como fugir de si: cada escolha é própria de quem cada escolha faz.


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Laissez-faire, let it be, deixa a vida me levar: o mesmo desejo, aqui e lá.


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Platão tinha razão: amo o que não tenho, desejo o que me falta. Aristóteles, também – me dou bem se amo o que sou, amo o que tenho, inda que nada tenha.


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Abstraio o tempo. Pulo meu muro, antecipo o futuro, vivo agora o que agora desejo. Mas hoje foi ontem: hoje tento separar minhas neuroses das de outros. Não posso, não quero, não devo viver outra vida que não a minha.


*

Viajo em meus pensamentos. Vagueio em mim, tento me encontrar. Um turbilhão. Ninguém saberá o que não digo. Nem saberei o que não disse quem eu procuro. Mais um dia assim, eu longe de mim.


*

Meu desejo seja o destino de sua procura.


*

Outra história, a caça enlaça o caçador. É o amor.






 

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