sexta-feira, 28 de junho de 2024

90 meus preconceitos nascem de minhas ignorâncias



90


Tenho medo do que não conheço.

O saber me esclarece.


meus preconceitos

nascem

de minhas ignorâncias



Acordei cansado, insatisfeito, vontade de nada, sem saber o que fazer de mim. Lavei o rosto, furei o coco, tirei a água, raspei a carne, piquei a banana, bati, bebi, vim pra cá.


Céu nublado, frio, procuro anotações. Encontro vagas, tipo sinto, sou responsável pelo mal que, por desventura, faça. Meu sentimento me informa da minha realidade.


Desconfiáveis as informações que me chegam de fora. A espiritualidade me abre, mais que janelas, portais. Outras possibilidades pra mim, pra Humanidade.


A espiritualidade como sentimento. A linguagem dos sentimentos. A religião como freio, delimitação. A espiritualidade como essência dos sentimentos. O que vejo fora, tá cá dentro. Junto e misturado.


*

Sou medroso, quase desde que me lembro como gente. Nos anos setenta, confiante no meu terapeuta, respirava fundo e, de repente, um lapso, regredia, lá estava eu em posição fetal, a reviver meus medos antigos de almas de outro mundo, de mulas sem cabeça.


Recupero a memória. Eu, por volta dos dois anos, meio adormecido no colo de quem me embalava, na roda de conversa da porta de casa, ouvia histórias assim. Em algum momento era levado ao berço e lá deixado só. Vislumbrava fantasmas na penumbra do quarto. E, para fugir do medo enorme, fechava os olhos, apertava tanto e tanto que... distorci minha musculatura ocular. Ali, a origem da minha meia cegueira. Desvendada quando, no meu primeiro ano primário, a professora descobriu que eu era burro não, só não enxergava direito. Na infância e adolescência fui Luiz Ceguim.


Quando, adulto, em terapia reichiana, exercitei os olhos, afloraram os medos e as lembranças das causas destes medos. Cresci, me empinei, abri os olhos, me abri pro mundo, meu mundo clareou um tanto. Meu corpo carrega minha história. Outras memórias surgiram e surgem e me redescubro a cada incursão que faço em mim.


Os medos são constantes em minha vida. Quando não tenho consciência deles, me impeço viver o que sinto, expressar o que sinto. Tenho medos que respeito, avisos de perigo. Outros medos me atrapalham, como se todo prazer fosse pecado. E pecado, aprendi, traz castigo. E, de castigo, tenho medo. Especialmente daqueles castigos eternos, castigos do inferno.


*

Desafio, sinto, reaprender a viver, experimentar o prazer. Quando me amo, fico contente. E, acredito, rico mesmo é quem está contente. O que não me permito, a outros inibo. Hoje sei, tem razão o dito popular, quando minha boca cala, meu corpo fala – adoece. Mas, quando minha boca fala, meu corpo cala – sara.


Se atento, qualquer faísca de vontade de fazer o que me dá prazer – e mal não faz a ninguém – puxo minha coragem, faço.


Quanto mais estou solidário comigo, mais solidário com outros. Aprendo escutar, a mim, a outros. Meu preconceito nasce da minha ignorância. Tenho medo do que não conheço. O saber me esclarece.


*

Cientista de mim mesmo, descubro movimentos espontâneos em meu corpo. E sentimentos relacionados a estes movimentos. Este aprendizado tem me aproximado de mim. Em momento mais atento a reflexos corporais, me entrego e observo. Experimento conhecer meu corpo, minhas emoções. Mexo no meu corpo, me emociono, mexo em minha história. Meu corpo carrega minha história.


São como orações. Enlevo meu espírito. Inspiro, expiro. Amplio a inspiração, amplio a expiração. E aprendo me observar, escolher caminhos, pesquisar meu poder. Observo o que meu corpo me indica, me fala.


Se coceira ali, não coço, deixo a coceira crescer. E respiro e respiro, fujo, volto, presto atenção. Pode ser um tremor ali na coceira, pode ser um pequeno reflexo assim muscular. Deixo.


E respiro e respiro, atento. Vai e vem de pensamentos, sentimentos. Me entrego ao sentimento ou salto fora do pensamento, volto a atenção à respiração, às falas do meu corpo. Procuro me entregar àquela posição que me atrai.


Se chegam reflexos, me entrego, o corpo, aqui ali, balança, espasma. E navego pelos possíveis caminhos, sigo minha intuição, vou ali e vou cá. Eu neste aprendizado, tudo novo pra mim. Conhecer a mim mesmo é meu desejo. Pelo acaso, inesperado este meu viver. Habitualmente, tanto acontece e nem percebo.


*

Sinto, há vida depois da vida. Há outras formas de vida além das que conheço. Minha vida de todo dia toma sentido quando vislumbro e escolho um caminho bom per si. Fica sentimental o caminhar quando eu percebo as emoções que sinto. A espiritualidade sempre presente.


*

Escrevo aqui esta história quase como memória, intuindo que memória e história permanecerão no tempo. Como a luz de uma estrela distante – que aqui chega algum tempo depois – também a luz daqui emitida, semeada de imagens, chega lá na estrela distante, algum tempo passado. As imagens, os movimentos, viajam no tempo. A tal da memória akáshica?


Isto foi agora. Aquilo, outra hora.





 

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