domingo, 23 de junho de 2024

94 ofertas e procuras



ofertas e procuras



Quando converso com amigos, e com quem me sinto à vontade, falamos de nós mesmos, dos desejos, dificuldades, afetos. Falamos dos nossos amores, dos filhos, dos netos, da família, lembramos outros amigos. E nos surpreendemos com semelhanças de percepções e sentimentos. Nestes momentos, nos aproximamos profundamente.


Somos, os mais próximos, o núcleo de nossa rede de apoio. Esta rede se expande quando nos integramos a confiáveis mais distantes, menos íntimos.


Chamo de rede esta inteligência coletiva, soma de sabedorias compartilhadas. Aqui, na rede, somos, mais que iguais, fraternos. Não há hierarquias. Quem deseja participa, de acordo com sua possibilidade.


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Quando converso com amigos, falo do que procuro, do que ofereço. É comum encontrar alguém que oferece o que procuro, alguém que procura o que ofereço. Ninguém saberia de nada, se nada eu falasse. Conversar com quem confio é terapêutico, me sinto melhor depois de cada encontro, de cada escuta, de cada fala.


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Redes assim funcionaram muito bem há pouco tempo. Em diversos bairros do Rio de Janeiro, moradores e pessoas interessadas em comunidades menos favorecidas se encontravam mensalmente com a intenção de realizar parcerias.


No início, éramos poucos, três ou quatro gatos pingados. Depois, crescemos. No último encontro que fui, noventa pessoas, em roda, trocavam informações objetivas sobre o que procuravam e o que ofereciam.


Ainda podem ser encontros simples. Sentados em roda, de jeito que cada participante visse a todos, combinam-se as regras. Cada um tem dois minutos para falar do que oferece e do que procura – em relação àquela comunidade ou em relação a um tema de interesse comum.


Enquanto um fala, todos escutam. Passados os dois minutos, batíamos palmas ou o facilitador avisava a quem falava, tempo esgotado, passa a bola.


Depois de todos falarem – e todos saberem – do que era procurado e ofertado por cada um, rodeávamos a mesa do café e cada um conversava livremente com quem quisesse. Ali era a hora de saber mais do outro, do que oferecia, do que procurava e, caso ambos desejassem, iniciar alguma parceria.


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Logo no início do encontro, era solicitado a cada um que escrevesse num papel o seu nome, telefone, e-mail e descrevesse sinteticamente sua oferta e sua procura. Estes dados, depois do encontro, eram organizados por um voluntário – digitados, tabelados – e enviados, pela internet, a todos os participantes.


Em cada encontro, as mais variadas ofertas e procuras. Desde o leite para bebês à criação de condições para o suprimento de necessidades coletivas de crianças, adultos, idosos. Hoje sabemos. Muitas parcerias se realizaram sem que tivéssemos, na época, tomado conhecimento.


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É fácil ter uma ideia de como se realizam encontros de redes. Gravamos alguns destas chamadas Redes Comunitárias. Os vídeos podem ser encontrados e vistos na coluna da direita do www.luizsarmento.blogspot.com. Todos estão também no YouTube.


Pra quem se interesse, sugiro, por exemplo, assistir ao vídeo 081 - Redes Comunitárias - Vila Aliança - Inteligência Coletiva . Ou ao 082 - Rede Comunitária de Cultura - Minas Gerais .

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Quando converso com quem me sinto à vontade, me animo, me alegro, me fortaleço. Posso falar do que ofereço e do que procuro, mas posso, também, expressar o que percebo da realidade, o que sinto, o que me digna e me indigna. Solidários, um mais um é mais que dois.


Relembro o ditado popular: quando a boca cala, o corpo fala, adoece. Mas, quando a boca fala, o corpo cala, sara.


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Desejo boa vida, aqui, agora. Sinto, como cada um, a realização do meu desejo depende também da minha dedicação. Minha boa vontade antecipa minha vida boa.


Converso, um tantão, comigo mesmo, aprendo me conhecer. Cada vez mais, gosto de mim. Relembro meu eu alegre, meu bom caminho, meus afetos, me espiritualizo. Preocupações de ontem, hoje quase piadas.


Também, por uma questão de sobrevivência, tenho me focado nas minhas potências, mesmo reconhecendo minhas impotências. Gosto do que me fortalece, adoeço com o que me enfraquece. E me alegro ao sentir que eu, como cada um de nós, posso ser governador, presidente, do meu amor, da minha mente.


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Mamãe faria cem anos em 27 de março de 2019. Agora, memórias esparsas. Alegria pra ela, recreio mesmo, era uma boa leitura, uma conversa amiga, uma serenata, uma mesa farta. Assunto não faltava, prazer em receber. A sala de visitas se abria, os de fora, os de casa se instalavam… e lá vinham casos quase sem fim. Se pedidos, jorrava conselhos.

Na minha época, mamãe era a matriarca. À frente do tempo, lúcida. Em casa, seus filhos, deveres e direitos semelhantes. Sua a última palavra, quando não a primeira, única. Ouvia, refletia, decidia.


Espalhou, durante a vida, conhecimentos, sentimentos, palavras, obras, sabedorias. Emoção certa era ficar perto de mamãe. Quem a conheceu, sentiu sua vitalidade, animação. Sua lembrança me faz bem.






 

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