sábado, 22 de junho de 2024

95 mundos invisíveis



95


Meu corpo carrega minha história,

guardo em mim o que senti, vivi.


mundos invisíveis



Desconfio que minto, imagino. Por um fio, o sonho vira escrito. Não sei se verdade ou fantasia o que escrevo.


Pode ser que todos sejamos um, parte de um, todos um. Esta energia que nos une, comum a todos nós – animais, vegetais, minerais e mais – imagino, agora, presente em nossos corpos, sentimentos, pensamentos. Pelo jeito, tudo pulsa, pulsa, pulsa. Tudo vive.


*

As pessoas minhas próximas, mesmo que longe, estão aqui comigo, em cada momento que de cada uma me lembro. Se me amedronto, me perco de mim. Se me permito, vivo. Se pulo meus preconceitos e falo com as plantas e fico atento, recebo de volta tipos diferentes de sentimentos. Como um espelho, o que emito bem, bem me chega.


*

Um ânimo, estes outros mundos, estas janelas que se abrem, estas portas e portais, estes universos, novidades pra mim, antigos como antes dos tempos.


Se respiro e amplio, se fico atento e me entrego, no meu corpo, arrepios. Às vezes, simples formigamentos. Formigamentos se transformam em reflexos, movimentos espontâneos. E, se me permito, meu corpo balança, dança. Se mais me entrego, ativo, vivo, meu corpo descansa no colo deste todo que também é eu. Tem coisa que não entendo, tem coisa que nem via e nem sabia. Só existe o mundo que percebo. Este meu mundinho.


Se me permito, imagino. Se me permito, experimento. Sou eu e sou o outro, somos um. Presto atenção na gata e a gata me fala. Se falo doce, doce me trata. Se fico na minha, fica na dela.


Uma alegria maior quando percebo noutros o que percebo em mim. Quando leio Wilhelm Reich, lá está a energia que sinto. Esmiuçada, testada, experimentada, checada por aparelhos que comprovam a céticos o que outros vivenciam e sentem.


Que bom, que bom. Meus estados se alteram, outras emoções interferem nas minhas. Se desatento, vivo o que não me gusta. Mas, a fria água do banho me provoca outro equilíbrio, o sangue corre diferente. Naquele momento, embaixo d’água fria, esqueço de tudo e grito. Meu corpo já não é o mesmo que antes, meus sentimentos se alteram. Uma forma de oração, esta de interagir com a natureza, de saber das pedras, dos ventos, das águas, dos bichos, das sementes, de mim.


Alterações de respiração me alteram o estado. Com medo, susto a respiração. Respiro profundo quando choro ou me alegro. Outro dia, inesperado, ali no centro espírita onde Dr. Fritz chega, lá nos sabarás, de repente, uma força me sobe das estranhas, um choro de alegria que nunca antes chorei. O mundo muda com meu olhar, mesmo permanecendo o mesmo o mundo.


Antes, muito antes, naqueles tempos de paz e amor, nas holandas, estado alterado, o chão se movia, tudo pulsava e eu percebi o que antes não percebia. Vi, eu fora do meu corpo, meu corpo misturado a outro, como um só.


Depois, outro dia, outro lugar, outras companhias, percepções ampliadas, pulsei. Ora ponto, ora infinito, ausências de tempo e espaço, eternidade presente. Cheguei um, sai outro. Perderam os sentidos o dinheiro, as roupas, os controles.


Meu corpo carrega minha história, guardo em mim o que senti, vivi. E, desperto, de novo, cutuca minha memória, o que vivi, quando mexo no meu corpo.


Em todos estes estados, em comum, a paz presente. Como noutro dia, recente, lá nos lumiares, as batidas dos tambores, ao lado de afetos despertos – e mais o que, não sei, os cantos, as sensações, os sentimentos – me vieram reflexos e me entreguei. Reflexos viraram movimentos, movimentos viraram dança, vi o que antes não via, a energia que, de cada outro corpo, fluía.


São estados, descubro, que dependem de meus desejos, de minhas intenções, de minhas entregas. Sabedoria nova, novidade, cada vez que sinto, vivo, sei.


Outras vezes, me esqueço quem sou. E me perco e desejo o que não tenho, como se o objeto que desejo pudesse suprir o que profundamente desejo ser. Mas não supre. O consumo me faz um banana, me engana.


E, ô coisa boa, quando atento, escolho ser quem sou. Esta, também, a minha questão; ser ou não ser.


*

Cuidados comigo. Vida breve, escolhas leves. Se pesadas, ô vida errada. Uma vida incomum, como qualquer um. Vida boa, escolha de cada um. Que me importa o que me falta, se o que tenho me supre, se, já sei, uma vida simples tem sido uma vida boa. Dou glórias a meu deus, este que sou eu, este que é minha criança, que à vida mansa me lança. Aleluia. Saravá. Namastê. A melhor escolha, o que for melhor, pra mim, pra você.


*

Papai nasceu em 1910. Herdei dele um tanto. Volta e meia, vejo papai em mim quando gargalho, ronco, encho um garfo, carrego embrulho, conservo a moça ao lado de dentro da calçada. Quem o conheceu se lembrará da sua cordialidade, do seu bom humor.


Alegre lembrança, aquele jogo de bolinha de gude no seu umbigo. E a cacunda amiga, na volta sonolenta de festas de junho. No cabelo penteado, a brilhantina, o óleo que pulava pro travesseiro. Pai presente, amigo fiel, prestativo, bom caráter, honesto nas palavras, nos tratos, nas contas. De seus defeitos, se tinha, não me lembro. Bonachão, amoroso papai, boas lembranças.










 

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