quinta-feira, 20 de junho de 2024

97 pecado, medo, tristeza e alegria




97


Anos da minha vida, terapias e terapias, conversas e conversas, suores e lágrimas, tristezas e alegrias, em busca da aceitação de ser quem eu sou.


pecado, medo, tristeza e alegria



Rara oportunidade de mudança de vida. Fujo, não quero saber. Tudo, fora de mim, precisa mudar. Errados o legislativo, o executivo, o noticiário. Errado o vizinho, o inimigo, o judiciário. Errado, o mundo. Vejo tudo criticamente. Critico, já, internamente, tudo que é, de mim, diferente. Mesmo que eu não fale, critico.


Sofro com o que o mundo é. O mundo não corresponde às expectativas minhas. O que ouço, o que vejo, o que vivo não é o que desejo. Deprimo, me encolho, me sinto impotente. Nada é o que deveria ser. Nem eu.


E, assim, passa o tempo, perco a vida. Só vejo o que me incomoda, me torno amargo, mal-humorado, descrente, doente. Sofro com o que o mundo é. Sofro com o que sou. Impotente, me sinto impotente.


Presentes, o passado, o futuro, além do presente. Navego, tento entender a mim e ao mundo. São riscos. Arrisco.


*

Quem disse? “Se matássemos todos maus do mundo, sobraríamos só nós, os assassinos”. Pelo jeito, este, um mau caminho.


*

Cada vez mais, menos medo. Manter só os necessários, aqueles que me alertam pros perigos reais?


*

Minha alegria, escondida, bota a cabeça pra fora quando me descubro potente. Siba, o artista nordestino, canta, “A cada passo que dou, o mundo muda de lugar.” Este equilíbrio em que estou se rearranja de outro jeito quando mudo algo em mim. Agora, lembro Cacilda Becker, “só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder. Só luto a favor.”.


Agora, “democracia pratico aqui em casa”, com meus amigos, vizinhos, colegas. Agora, só como o que me faz bem, só leio o que me enleva, só converso sobre o que me acresce. Meu sangue circula diferente com este banho frio. Caio, n’água, me desperto.


Meus pensamentos são outros quando a brincadeira me alcança, quando brinco como criança. Meus sentimentos me agradam quando ouço passarinhos, enfio a mão na terra, ando descalço, abraço uma árvore, ouço aquela música, balanço o corpo, danço. Vixe, tudo muda de lugar quando mudo algo em mim. Parece que sou sistêmico. Mexo algo aqui, muda, reequilibra tudo ali, lá, acolá.


*

Nunca o mundo foi como desejo. Fora aqueles momentos, em que o mundo era o mesmo, mas eu estava alegre. E, outra descoberta, quando estou alegre, muda minha visão do mundo, vejo tudo diferente. Parece bobagem, me lembro, quando estou alegre, vejo alegria por todo lado. Como quando estou chato, vejo chato toda hora. Desconfio, se acho tudo errado, talvez errado esteja eu.


*

Não sei direito quando mudei de comportamento. Vagamente, adolescente, percebi que o mundo funcionava um tanto como meu espelho. Aprendi fazer gracinhas.


Difusas, também, outras memórias. Aprendi a soltar minhas raivas no travesseiro. Sozinho, ajoelho na cama e, mesmo, inicialmente, me sentindo ridículo, teatralizo, simulo a raiva que sinto. E bato forte no travesseiro. Grito, xingo, soco até cansar. Pela cabeça, em disparada, as lembranças mais variadas, inesperadas. Não sei descrever, sou outro depois da catarse, mudam as sensações do meu corpo, os sentimentos mudam. Uma arte, me cuidar.


Saio do meu mundinho quando escuto um amigo e sinto o seu sentimento. A tal da empatia, sofro com seu lamento, me alegro com sua alegria. Cresço quando minha visão se amplia.


O medo, a culpa me acompanham desde aquele catecismo, não me esqueço, inda tenho raiva de quem desrespeitou minha inocência. Pecados que desconhecia, veniais, mortais, não sabia distinguir. As proibições, não posso sentir raiva, nem tesão, nem prazerosos desejos. E os castigos, até então desconhecidos. Aquele fogo forte, crescente, eterno, fogo do inferno.


Anos da minha vida, terapias e terapias, conversas e conversas, suores e lágrimas, tristezas e alegrias, em busca da aceitação de ser quem eu sou.


Hoje, meus pecados são outros. Peco se faço mal a alguém, se exploro um semelhante, se acumulo o que não preciso, se critico o bem que não me permito.


Peco se acredito, sem mais nem menos, no que me é dito por qualquer um. Peco se faço comigo o que não me faz bem. Peco se trato outros como inimigos, se faço a outros o que pra mim não desejo. Peco se desrespeito a beleza da natureza – vegetais, minerais, animais e mais. Peco se não me cuido.


*

Tenho raiva, também, de quem, hoje, não me faz bem. De quem cria e alimenta notícias falsas – seja quem faz fofoca, seja rádio, jornal, revista, televisão, internet. Tenho raiva de quem considero mau.


Mas, confesso, quando deixo a raiva me invadir, sinto, não me faz bem, a raiva fica em mim. É meu, também, o sentimento que tenho. Aprendo, faço mal a mim mesmo se alimento minha raiva. Raiva é um mau negócio. Não quero alimentá-la.


*

Muitas vezes, internamente, julgo errado. É que me incomoda tudo que é de mim diferente. Aprendizado de toda hora, distinguir. Quanto melhor me conheço, cresço.


*

Vida depois da vida. Agora, o que já sentia pelo que vivi, tenho certeza. Ainda mais quando assisto depoimentos de quem já viveu EQM – Experiências de Quase Morte.


O sair do corpo, o se ver, o ver luzes, o túnel, o silêncio vivo, a compreensão sem fala, a serenidade, a alegria, epifania, o esquecer, o só ser, o desejar estar, permanecer, ficar. Estão lá, os variados depoimentos, no canal “Afinal, o que somos nós”. www.afinaloquesomosnos.com.br.




 


 

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