terça-feira, 18 de junho de 2024

99 outros brasis


 

Há alguns anos, escrevi...

99


A realidade ao meu redor tem sido muito melhor que o noticiado. Acho que muitos de nós não descobrimos ainda.


outros brasis



Tenho gostado muito, cada vez mais, de viver. Aprendo cultivar a leveza, mesmo bruto como também sou. Do limão, limonada. Entendi aquele dito, crise é oportunidade. Pra mim, tem sido. Pessoalmente, estas mudanças em mim, que sinto pra melhor, têm mais acontecido depois que soube que minha saúde estava periclitando, morte súbita anunciada. Não gostei, antes não tinha percebido aquele cansaço de toda hora, fruto das artérias se entupindo.


Radicalizei e, rapidamente, tudo mudou. Humor, especialmente. Mas não só. Percebo, agora, a quase ausência daqueles cansaços. E mais. Deito, fecho os olhos, durmo feito anjo. É verdade que ronco muito, mais até do que papai roncava. Verdade, também, que, volta e meia, pesadelos me visitam e chuto e grito. A boca seca, à noite, me pede água e eu dou. Misterioso mundo. Mais ainda, este, dos sonhos. Folheei, li, e não compreendi, a Interpretação dos Sonhos, do Freud. Mas, de uma coisa tenho certeza, tudo que realizo começa em sonho.


Acordo que nem uma flor, de bom humor, pronto pra arrumar a cama, bater uma vitamina, tomar um café, fazer uma saudação ao sol, exercícios leves. E, já ligado, tenho me entregue ao que meu mundo pede.


A cada três, quatro dias, cozinho o feijão, o arroz. E as raízes, mandioca, baroa, inhame, batata, cenoura. Experimento temperos, descubro o curry, o alho, a cebola, o açafrão, o pouco sal, o coentro, o alecrim, o manjericão…


Escrevo, se inspiração e vontade se juntam. Caminho, leio, faço aquelas pequenas tarefas que o bem viver me pede. Eventualmente, facilito uma roda de conversa, tipo terapia comunitária. Gosto muito, esta linguagem dos sentimentos que nos aproxima. Esporadicamente, facilito a formação de redes entre pessoas que descobrem interesses comuns. Mais frequente, converso, troco aprendizados e sabedorias com quem convivo.


Em resumo, escolho, todo dia, o que faço. Gasto um tanto do meu tempo – e meu tempo é minha vida – compartilhando informações que recebo e sinto boas. Quando lerdo, pra me animar, entro debaixo d’água fria, saio outro.


Meu corpo anda alegre. Também, trato dele a pão de ló. Só entra no meu corpo o que me faz bem. Confesso, de vez em quando peco – estas faltas de cuidados comigo – e recebo o castigo. Peco cada vez menos. É que me animam os resultados da minha boa alimentação.


Enfezado, a palavra, redescubro, deve significar cheio de fezes. Agora, não. Necas de enfezamento, de mau humor, não tenho mais prisão de ventre. E como pra caramba. Bato um pratão, arroz, feijão e mais. Gosto muito de batata assada, de uma mandioca desmanchando, de uma cenoura crua, de alface, couve, rúcula, brócolis, ora pro nobis, quiabo, jiló… E de abóbora, semente e tudo. Como e como e como fico leve. O alho, a cebola, refogo com um pouco d’água no lugar do óleo, da gordura. Enfim, meus alimentos, reinvento e tento.


Tenho gostado muito, pela manhã, misturar e bater água de coco com o próprio coco, banana, abacate, mamão, as frutas da estação. Ô beleza. Fujo de farinha. Já aprendi, nem sei direito o que acontece dentro de mim, mas é fogo. Se como farinha, peido. Até brinco, só solto pum perto de quem me sinto à vontade. Assim, quase como uma declaração de amor. De vez em quando, escapa, amo quem não conheço.


Tenho tomado água como nunca antes tomei. E, agora sei, a água que tomo facilita minhas idas ao banheiro. O humor tem sido meu indicador. Se com bom humor, estou no bom caminho. Se mal-humorado, errado. Tenho me sentido potente, claro. Meu corpo funciona, até os dentes, as gengivas, andam calmos. Enfim, cada vez mais, tenho gostado de viver.


Parece complicada a vida simples. É certo, dá algum trabalho, escolher a todo momento o que como, o que leio, o que faço, o que falo, com quem ando. Mas tem sido tão bom viver assim. Aproveito.


Agora tento aprender escolher meus pensamentos. Ô dificuldade, me ligo na respiração, na entrada e na saída do ar… e, ôpa!, o pensamento voa. Um vai e vem de pensamentos, eu a tentar focar na respiração. Outro dia, me falaram que isto talvez seja, um tanto, meditação.


Pra resumir isto tudo: mudei minha alimentação, minha vida mudou. Aproveitei e, também, só tenho deixado em mim o que me faz bem. Escolho a toda hora o que fazer de mim nestes agoras.


*

Hoje, acho que sei, tudo um tanto sistêmico. Se mexo na respiração – ou se mexo na alimentação ou se me mexo – tudo, em mim, se reequilibra de outro jeito.


*

Uma alegria, saber de outros brasis que dão certo. Tem gente como a gente que cuida de si e cuida de outros, que cuida de outros como de si mesmo. Brasil afora, um tanto de gente a fazer o bem, a alimentar a criança que carrega em si mesmo.


Quanto mais sei do que de bom acontece, melhor. Boas notícias alimentam minha alma, me acalmam. Sinto, às vezes, gestos simples definem vidas. Uma criança bem cuidada, um adulto de bem com a vida. Uma solidariedade retorna naquele bem-estar que, tantas vezes, não sabia de onde vinha.


A realidade ao meu redor tem sido muito melhor que o noticiado. Acho que muitos de nós não descobrimos ainda. Mas, pessoas – e jornais, tvs, rádios, revistas, facebooks, whatsapps... – melhor cada uma fica, se focar em notícias que bem sirvam a quem recebe. Aí, sim, um serviço público. O público cresce e agradece.


Somos muitos, os que contribuímos para nosso próprio bem e para o bem de todos.





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