sábado, 27 de julho de 2024

68 ser ou não ser


 

68


Quando não presto atenção, quando não tomo cuidado, lenta ou apressadamente, morro.


ser ou não ser



Incomum, como qualquer homem comum, sou o que estou. Às vezes, sou um massagista. À medida que dou, ganho. Fortaleço quem recebe e me fortaleço, me sinto melhor quando termino que no começo.


Massagem é ganha-ganha. E olha, massagem não é bobagem – bobeira – massagem nasce, também, da coceira.


Outras vezes, sou terapeuta, quando escuto quem necessita ser escutado. Facilito conversas profundas, aprendo com a experiência do outro, quando o outro fala de si, do que vive e sente.


Mas já fui escritor, economista, operário, modelo, artesão, burocrata, estudante, estagiário, professor, videomaker, produtor, comerciante, comerciário. Sou, como qualquer um, muitos. Sou, volta e meia, o outro lado, o massageado, o escutado, o aluno, o ensinador. Cientista de mim mesmo, ora sou eu, ora sou outro.


Meus desejos variam, como ventos em seus momentos. Agora mesmo, não sei direito o que desejo, não sei direito quem sou. Mas, sei, quero viver mais, com saúde e bom humor.


Tenho mantido esta decisão a cada tempo que cuido do que alimento, da minha respiração, do meu movimento. Quando não presto atenção, quando não tomo cuidado, lenta ou apressadamente, morro. Como, durante tantos anos, morri em cada tragada, em cada comida safada, em cada perda de tempo. Mesmo agora, a toda hora, oportunidades de enfiar o pé na jaca, chutar tudo pro alto, me matar sem quase perceber.


*

Por outro lado, estimula o meu querer – este querer viver melhor e mais – as respostas do meu corpo a meus desejos, as alegrias da minh’alma lavada a cada cuidado que tenho com a pessoa amada.


E tropeço. E me pego a pensar o que não me faz bem, nem a mim nem a ninguém. A sentir aqueles sentimentos chatos que, por exemplo, a má informação me desperta. Já desconfio. Fico alerta. A tv me pira. Quando, em meio à verdade, me traz ficção disfarçada, traz mentira. Se só penso em desgraças, fico ligado no que não dá certo. As tentações são muitas, mas, ainda bem, provei do mel do bem-bom, o bem-estar tem vencido.


Tropeço, quase caio, me aprumo. Seleciono o que escuto, vejo – a conversa, o rádio, o jornal, a tv. Corrijo o rumo, reaprendo ver. Cultivo o que há de bom em mim. Descubro e vivo: quanto melhor me cuido, melhor ao meu redor.


Agora, de novo, estou assim, a bem cuidar de mim. E confirmo o dito do poeta nordestino: a cada passo que dou, o mundo muda de lugar.


*

Tudo isto – o que penso, o que sinto, o que faço, cheiro, como, toco, falo – tudo isto é o que sou. E, um amigo já disse, só reconheço no outro o que tenho em mim.


Epa! Obá! Sou parecido com quem escolho para me governar?






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