quarta-feira, 24 de julho de 2024

70 a vida breve




70


Tenho tratado cada um como gosto ser tratado. Aprendi lá em casa. Reaprendo com cada amigo que convivo.


a vida breve



Escrevo, hoje, o que hoje estou vivendo. Parece ontem.


Se tenho semelhantes desejos, pareço com quem escolho, com quem elejo. Inda bem, meu Deus se alegra com minha alegria. Inda mais, talvez porque o que pra mim desejo, desejo pra cada uma, pra cada um, pra todos nós: uma vida boa, que me faça bem, a outros também. E mal não faça a ninguém.


Pois é. Admiro quem, como o Jesus que me contaram, ama ao próximo como a si mesmo. Quem adota a paz como princípio. A paz das palavras, dos atos, das obras. Tendo gente assim como Jesus como referência, admiro quem acolhe aquele que é diferente de si, seja mulher, homem, negro, pobre, crente, homossexual e mais.


Em Montes Claros, anos 60, eu adolescente, me lembro. Os discriminados, mas não só, eram o evangélico, o homossexual, o comunista, o negro. Alguém se lembra? Talvez a História se repita.


Sinto, quase sei, mentiras – repetidas, repetidas, repetidas – atrapalham nossas vidas. Há muito, naquele tempo, desliguei a tv e falta não me fez. Tenho acreditado mais na realidade do que no que a tv me conta. A tv tem sido competente na ficção. Nossas novelas correm o mundo. Mas, esta mesma tv, tem misturado, em seus noticiários, ficção e realidade. Talvez em defesa de seus próprios interesses. Ah! Quanto tempo demorei pra perder um tanto da minha inocência.


Voltei a ver TV, mas escolho o que vejo.


Dou duas boiadas pra não entrar numa briga. E só luto a favor. Não me permito lutar contra. Mas, agora, por exemplo, me permito escrever o que sinto em relação a meios de comunicação que, ao misturar verdades, mas repetir e repetir mentiras, dão, ao falso, vida.


*

Hoje, de um lado, vivo alegria. Posso escolher. E, a cada momento, escolho. Usufruo a liberdade de poder ser quem sou. Escolho o que penso, o que converso, escrevo, o que como, o que sinto, o que vivo. Mais que sou, me sinto livre.


Mas, confesso, tenho limitado meu mundo. E, contradição, me expando. Sei, em mim, que só vivo, mesmo, o que percebo do que sinto. Cientista de mim mesmo, descubro que meus pensamentos, palavras e atos interferem no que sinto. Talvez, também, por isto, a cada momento, confesso, quando consciente e saudável, escolho o que sinto melhor. Melhor pra mim e pra todos.


Isto me tem feito bem. Durmo tranquilo, a saúde boa, a cabeça leve. Minha liberdade se limita com a liberdade de cada um. Tenho tratado cada um como gosto ser tratado. Aprendi lá em casa. Reaprendo com cada amigo que convivo.


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Acredito que pareço com quem elejo. E que cada um escolhe, elege, aquele com quem melhor se identifica.


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Quem apanha é quem mais se lembra. Difusa memória, a minha. Vivi nos tempos escuros, obscuros, da ditadura, feiura pura. Salvo engano, por exemplo, 1965, eu morava na Oca, na Universidade de Brasília. Fui – fomos todos – acordados pelos invasores tipo três da matina. Uma quadra de esportes, nós, ali, cercados, desnorteados. Depois, um soldado a cada metro, rodeando o Campus da UnB. Nós, que lá estudávamos, sofríamos física, moral e emocionalmente. Puro medo. Lá se vão mais de 50 anos. E, agora há pouco, este ovo de serpente a desabrochar novamente.


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Olho no espelho, me respondo em silêncio: depois de tanto tempo vivido – 72 anos – quando penso em quem melhor cuidou das pessoas menos favorecidas, como governante, me lembro de quem?


Já, quando penso em quem mais tolheu minha liberdade, quem mais desprotegeu os menos favorecidos, de quem me lembro?


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Minha alma, sinto, tem a ver com minha consciência. Tudo, em mim, muito próximo – alma, consciência, coração. Ando seguindo meu coração. Desejo permanecer livre, falar e agir como melhor me sentir, limitado pela liberdade do outro, que desejo tanto quanto a minha.


Minha intuição – aquilo que sei e nem sei que sei – me leva a escolher aquele com quem me pareço. Isto me alegra. Além de meus filhos, meus netos, amigos, amigas, amigues terão melhores oportunidades os menos favorecidos. Escolho quem, acredito, governará para o bem de todos.


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A vida, aqui, é breve. Amor, lida, alegria. Sem dor, leve, leve. Escolhas de todo dia. Mentir pra mim mesmo, não posso. Cabe a mim fazer o que esteja ao meu alcance.


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Vejo no outro o que está em mim. Vejo lá o que acontece aqui. Se semelhantes desejos, me assemelho a quem elejo. E que se eleja o que, para todos, melhor seja. É meu desejo.


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Uma alegria: temos, cada um – mesmo incomuns como qualquer um – um tanto em comum. Outra alegria, este sentir: há vida depois da vida.


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Pareço, um tanto, com quem elejo.






 

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