quinta-feira, 18 de julho de 2024

75 desabafo datado



75


...os afetos guiam o mundo, a economia é decorrência.


desabafo datado




Outro dia, senti – antes de votar é bom saber… Um medo enorme toma conta de mim, quando vejo o candidato brigão instigar conflito com a Venezuela. Guerra significa mortes, sofrimentos.


Está lá, em vídeo, o discurso odioso: … “E o general Mourão já falou: a próxima missão de paz do Brasil será na Venezuela”.


Sabemos, “missão de paz” com armas e soldados talvez seja um jeito de dizer “missão de guerra”.


O vídeo está na internet:

https://www.youtube.com/watch?v=FBCI3voPql8


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Imagino jovens a matar jovens. Primeiro, nas frentes de batalha, os desempregados, os pobres, os negros. Depois, qualquer um, filho de qualquer um, amigo de qualquer um, conhecido ou desconhecido. Quer queiram, quer não, jovens a matar e a morrer.


Eu próprio, mesmo impotente, me sentirei também responsável por esta guerra se voto e elejo quem declara guerra.


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Meu medo despertou com as possíveis violências. Minha tristeza, hoje, vem do sentimento de impotência diante do meu medo. Já a alegria talvez venha da possível, e autocultivada, serenidade que tome conta de cada um de nós


Que não venha a guerra. Que a consciência, a alegria, que a compaixão invada o coração de quem votaria no falso forte que prega a morte.


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Medo, tristeza, alegria.


De 2.000 a 2011 trabalhei no Sesc Rio, na Assessoria de Projetos Comunitários. Visitei e, mesmo pouco, convivi com muitas comunidades menos favorecidas.


Houve momentos críticos em que, numa escola de uma favela – em reunião comunitária, a bem servirmos a todos – corríamos de um lado pra outro, fugindo de balas errantes que vinham de lado e de cima, nós como potenciais alvos de helicópteros.


Houve momentos felizes, ao conviver com a solidariedade viva, uns e outros a compartilhar entre si bens, serviços e conhecimentos. Os afetos, antes do lucro financeiro. Redescobri: os afetos guiam o mundo, a economia é decorrência.


E, mais alegria ainda, no correr dos anos, ao ver pobres, negros, favelados a frequentar faculdades, a andar de cabeças erguidas, a cultivar outras modas, outras artes, outras vidas.


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Neste período de tão bons fazimentos, houve erros tão fortes quanto erros que vigoraram por anos e anos. Houve gente com boa vontade, que se guiava pelo bem-fazer. Houve gente que roubava, mal geria, mal fazia.


Mas, talvez outro erro, a educação não foi a prioridade. A prioridade, talvez, tenha sido o consumo. E, sabemos, para quem, desde criança, cria necessidades, difícil pode ser a mudança quanto maior a idade.


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Mais, muito mais, venho esquecendo das boas transformações que aconteceram nos anos 2.000. As liberdades – de ser, estar, pensar, sentir, permanecer, mudar, ficar – nunca, antes, tão profundamente vividas. O semeamento de universidades, o fortalecimento de instituições fiscalizadoras, o pagamento de dívidas externas, os novos empregos, o respeito ao próximo, os cuidados com as crianças, com todos nós – pobres, médios, ricos…


Daí minha esperança no professor que, ministro da Educação, implantou universidades por todo Brasil.


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Agora, de repente, como gerado de um ovo de serpente, surge um falso salvador. Que, na sua própria vida, nunca nos mostrou algo de bom. Falso moralista, estimula o conflito: liberação das armas, discriminação de mulheres, negros, homossexuais, má orientação às crianças... e por aí vai. Violento na fala e no ser.


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Trump, Duterte, campanhas eleitorais semelhantes à campanha eleitoral que o falso salvador realiza no Brasil: falsas notícias, repetidas, repetidas, repetidas, desnorteiam nossas vidas.


Trump, eleito nos Estados Unidos. Duterte, eleito nas Filipinas, onde, hoje – jornais estrangeiros informam, só pesquisar – esquadrões da morte e policiais matam milhares de cidadãos que consideram diferentes de si mesmo.


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Meu medo já não é só da briga que o brigão candidato nos propõe. Agora, também, tenho medo de todo aquele que a ele se assemelhe. Sinto, em mim como em outros, pareço com quem elejo.


Ô esperança, ô alegria, que a compaixão invada o coração de quem votaria no falso forte que prega a morte. Que cada um de nós cuide de outras e outros como cuida de si


E também sinto, como qualquer um, sou corresponsável por sentimentos, mortes que meu voto provoque.


Mas, me oriento pelo meu Deus – aquele que se alegra com nossa alegria: escolho o que cultiva bons dias.


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Esperanças, que cada um volte, por um momento, à sua própria infância, relembre suas lembranças, examine sua própria consciência. Que, em cada um de nós, prevaleçam a paz, o amor.


E que, em cada um, aconteça as mudanças que cada um de nós deseja.





 

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