sábado, 13 de julho de 2024

79 beleza, estado de espírio





79


Se desatento, já era,

vivo o que não quero.


beleza, estado de espírito



Pouco tenho lido. Mas, pensado, sonhado, tenho muito. Sonho, pensamento, como o dinheiro pouco. Dinheiro pouco, tenho muito.

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A cabeça vaga. Beleza. Escrevo o que me vem à cabeça. Meu espírito vai onde meu corpo não alcança. Ali, onde sou lembrado, se presente uma brisa, um bem-estar, um aconchego, é esta parte de mim a expressar meus afetos.


Gratidão a quem, fraterno, me traz boas notícias do mundo. Sinto, cada vez mais, cabe a mim – como a cada um – de acordo com meu desejo e possibilidade, fazer o que está ao meu alcance. Escolha de cada um, esta construção de um mundo melhor.

Se prevalece a boa vontade, sinto, mais cedo ou mais tarde, os planos se realizam.


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Lucidez escrita numa coroa, no velório de quem parte: boa viagem. Até breve.


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Lá em casa, aprendo. Tudo volta pro mesmo lugar. Disciplinado, cozinho, limpo. Sujo, lavo. Discordo, consensuo. Agendo, desmarco ou vou. Tendência, pendência zero. Tudo volta ao mesmo lugar. Procuro, acho. Ligo, funciona. Quebrou, conserto. Goteira nova, nova telha. Limito os gastos ao que tenho agora. Devência zero, só prestação do dente.

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Evito toda hora perguntar, que você quer que eu queira, pra eu querer? Fruto da necessidade de ser amado, armo uma cilada, tento o tropeço, boto pedra no meu caminho, atrapalho eu mesmo minha vida. Se desatento, já era, vivo o que não quero.


Não só esta submissão – que você quer que eu queira, pra eu querer? Muitas vezes não me permito o prazer. Aquele, tipo faço o bem a mim, talvez a alguém também e mal a ninguém. Agora que atentei, tento e aprendo me permitir viver bem, sendo o mundo do jeito que agora é. Tropeço, destropeço. Tento, aprendo.


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Tudo aprendizado. Cada minuto que vivo nunca vivi antes. É novo. Tudo que vivo, aprendizado. O trato, por exemplo. Aquelas anotações que fazemos juntos, combinações tratadas. Incluem o trato do término, a ausência de pendengas. Se a gente termina, como é que fica, como é que faz.


Se temos algo em comum e desejamos construir uma relação, seja de amor ou parceria, me limito ao que temos em comum. Tomo cuidados com diferenças. Tenho me descoberto assim, incomum como qualquer um, fruto do que sou. Tudo aprendizado.

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Do que entendi do que ouvi, há dinheiro que a gente recupera. O tempo, não. Internalizei o que já intuía: meu tempo vale mais que dinheiro. Time is more than money. Tempo não é dinheiro.


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O que escrevo sou, sou no momento que permaneço. Meu sou corresponde a um estou. Só sou o que estou. Quando não estou, não sou. De tanto tentar e repetir, sinto ser e acredito. O que vivo me confirma.


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Outro dia ouvi, ao lhe apresentarem um problema, pergunta o que sugerem pra resolver. Coincide com o espelho que eu usava. Como uma imagem refletida, devolvia ao apresentador a questão que levantou. Quando eu sabia, desejava e podia, facilitava solução.


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Um dia depois do outro. Neste, um amigo brigou comigo. Passado um tempo, confessa, tinha brigado, antes, com a namorada. Assim, nervoso, descontou aqui, brigou comigo. A briga não era comigo.


Lembrei de brigas passadas. E quantas destas brigas danadas não eram comigo. Nada, quase nada.

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Respirar é preciso. Viver, impreciso. Viver bem, sem fazer mal a ninguém. Viver mais, sem tantos ais. Descobrir o prazer, o jeito de ser. Escolher agora a vida que vivo. Ter comigo o cuidado que tenho consigo.


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Cuidar bem do outro como cuido de mim.


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Ditadura, quando lembro, meu corpo se contrai. É medo. Medo de falar com desconhecidos, de ler livros proibidos, de sair sozinho. Só de lembrar, me entristeço.


Em 1965, logo que entrei na Universidade de Brasília, duzentos e tantos professores foram mandados embora. Tive amigos presos, conhecidos desaparecidos. O medo se instalou. E ficou por mais 20 anos. Até 1985 vivi, assim, contido, amedrontado.


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Submissão, "que você quer que eu queira para eu querer?"


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Alguém já disse: saúde é muito importante pra ficar só nas mãos dos médicos. Eu, também, sinto e acredito. Sou o maior responsável pela minha saúde.


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Beleza, estado de espírito.


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Meu espelho não mente. Só vejo o que sinto. E só vivo o que percebo do que sinto.









 

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