sexta-feira, 12 de julho de 2024

80 umbigo





80


Escrevi quando ainda vegano. 

Pena, agora não mais.


umbigo



Compartilho o que me faz bem. Tenho mantido saudável minha alimentação. Vegana e sem óleos. Basicamente, arroz integral, feijão, inhame, mandioca, batatas, beterraba, cenoura…


Tudo muito bem temperado, alho, cebola, tomate, louro, cúrcuma, gengibre, curry, missô, shoyu, gersal, malagueta, alecrim… E verduras, couve, alface, coentro, salsa, brócolis, ora pro nobis…


Pela manhã, em jejum, limão na água. Pouco depois, mistura de frutas, banana, água de coco, carne do coco, mamão, laranja… Cafezinho, 3 ou 4 vezes por dia. À noite, se comida, leve.


*

Faço o que gosto. Os trabalhos de todo dia, nem sinto como trabalho. Dificuldade tem sido a disciplina com exercícios. Tenho feito saudação ao sol algumas manhãs, uma caminhada pequena, um banho. Outro dia, perna de pau, brinquei de novo um futebol infantojuvenil.


Paralelo, um pouco de cada, meditar, olhar pro nada, escrever, ler, cozinhar, conversar, namorar, corresponder, zapear, voltar tudo pro mesmo lugar. E aprendo ouvir o que meu corpo anda falando. De vez em quando, mensagens inesperadas, tipo farinha não, se afasta dos biscoitos, se movimente, se liga na digestão, prestenção no coração.


Esta a rotina, que descubro nova toda hora, diferente da anterior, se repetida não percebo. Estou que gosto. A prioridade tem sido a afetividade. Aprendo ser cordial comigo mesmo, não me encher o saco. E tenho ficado mais cordial com os outros. Isto, um tanto de acordo com meus desejos e possibilidades.


Tudo aprendizado. Ando atento, é tudo novidade, nada tem se repetido, mesmo cíclico. Desatento, quebrei um vidro.


*

Morrer talvez seja uma escolha. Sinto em mim, quando consciente do ato que faço. Morro a cada besteira que como, a cada conversa maldita, a cada pensamento malvado, a cada sentimento pesado. Morrem meus sentimentos, morro emocionalmente, morre meu corpo.


*

Não sei onde fica meu fígado. Acho bom sinal. Está cumprindo, discretamente, sua função. Não sei também dos rins, da vesícula, pâncreas, baço…


E nada sei sobre câncer. Só imagino. Sinto que meu corpo fala, percebo em mim, acredito no meu corpo. Este meu sentir, esta minha crença vem do que vivencio. Minha fé vem da minha vivência. O que vivo, sinto e percebo, acredito.


Câncer, não sei o que é. Imagino seja o corpo falando, dizendo algo que eu teria demorado perceber. Em mim, quando percebo alguma fala do meu corpo, tento entender o que me está sendo comunicado. E, quando desejo bem viver, mudo meus costumes, meus comportamentos.


Quanto a outros distúrbios, há comunicados fáceis. Se minha barriga cresce, incha – e me tranca o intestino e me provoca puns – como quando como pão e bebo água, já sei. Pão e água, juntos, não devo, se me quero saudável. Se sinto repetida azia quando como algo farináceo – epa, biscoitos, bolos – e, vixe, junto, tomo algo ácido, tipo laranja, caldo de cana, maracujá, abacaxi… já sei, não devo.


*

Se meu coração bate de um jeito que desconfio, estou aprendendo, altero, acalmo, aprofundo a respiração. E, se descubro, desvio afazeres que contribuem para estes batimentos de que desconfio. Tudo aprendizado.


Quero viver bem e longo. Já, mais, desde vinte e quatro de agosto de dois mil e dezesseis, mudei radical o que como. Hoje, como desde então, pequenos prazeres inenarráveis, mergulho nos vegetais. Frutas, raízes, verduras, legumes, grãos. Aprendo a fazê-los saborosos ao meu paladar.


Estou vegano. Só como vegetais. Animais, nada. Nem derivados. O cardiologista amigo me lembrou dos cavalos, bois, girafas, elefantes… São fortes, comem só vegetais.


E, quando tive entupimentos extraordinários, inesperados, em artérias coronárias, quis saber das causas. Soube da participação pesada das gorduras.


Enfim, interrompi gorduras. Todas. Nem gorduras vegetais. Não mais azeite, abacate, coco. Além das de origem animal – ovos, leite, manteiga e por aí vai.


Os livros de Dean Ornish – Salvando meu coração, Amor & sobrevivência – me animam. O livro de Michael Greger – Comer para não morrer – me confirma.


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Ah! Os temperos! Desvendo e uso e me delicio. Novidade, o paladar. Novidades, a disposição física, a respiração, o clareamento mental, a dinâmica psicocorporal do equilíbrio emocional. Em decorrência, me sinto bem, sou outro, diferente do que fui. Mas, confesso, tem sido difícil suportar estas alegrias.


Por dois anos, segui à risca. Zero gordura, zero animal, zero risco.


Passados dois anos, agora que me sinto melhor, degusto o coco, o abacate. Já, algumas vezes, comi biscoitos, pães de queijo e senti seu peso. Meu corpo me fala. Tento permanecer atento. Me estimula saber que só posso cuidar de outros se antes cuido de mim.


Passados sete anos, já não vegano neste momento, sinto o corpo reclamar, me canso com facilidade.

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E mais. Escrevi quando ainda vegano. 

Pena, agora não mais.

*

Não sou o santo que já desejei ser. Como desafio, descubro e me permito outros prazeres. Tanto repito que acredito. E vivo.


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Meu mundo, meu umbigo, se amplia no encontro amigo.







 

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