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O desejo engravida o sonho.
O sonho realiza o desejo.
dependência e morte
Vegano
come só vegetais. Arroz, feijão, grãos… Mandioca, abóbora,
inhame, cenoura, beterraba, raízes...
Couve, brócolis, salsa, cebolinha, rúcula, alface, aipo, alho-poró, folhas...
Mamão, manga, abacaxi, melancia, jaca, maracujá, jaboticaba, uva, umbu, jatobá, açaí, melão, banana, laranja, mexerica, limão, coco, frutas...
Amêndoas,
castanhas... E pequi... Que mais esqueci?
Temperos, pra
quem gosta de temperos. Pimentas, curry, açafrão, manjericão,
gengibre, alho, cebola, coentro... Um mundo, o mundo dos vegetais. E
ainda os minerais, sais e mais… Assim entendi.
Vegano
não come animais. Nem o que os animais produzem, leite, ovos... Nem
os derivados do que os animais produzem. Necas de manteiga, queijo,
mel, coalhada, banhas... Não come, também, tudo que leva algo
disto. Por exemplo, que leve leite, manteiga ou ovos: bolos, pães de
queijo, quiches, biscoitos...
Simplificando, vegano só
come vegetais, não come animais nem nada que contenha derivados de
animais. Assim entendi.
*
Estou vegano, nestes meus
tempos atuais. O funcionamento do meu corpo mudou. A digestão
funciona como nunca antes funcionou. Minha disposição se ampliou.
Durmo tranquila e profundamente. Já não esquento a cabeça. Mais
leves os pensamentos, suaves os sentimentos. E adeus medicamentos.
Tenho sido o que alimento.
*
O
que me estimulou a mudança – do comer de um tudo pro selecionar o
que boto aqui dentro de onde mora meu espírito – foi o medo,
inicialmente. Depois foram os resultados da mudança da alimentação.
O medo foi de ficar doente e dependente.
Quando soube, há
tempos, que minhas veias estavam se entupindo e que, se entupissem
integralmente, eu morreria ou teria graves sequelas, levei um choque.
Procurei saber as causas. Do que entendi, tipo gorduras estavam se
acumulando nas veias e provocavam estes entupimentos.
*
Contei.
Fui a treze médicos, diferentes especialidades. Todos me orientaram
para a cirurgia. Assisti no youtube uma cirurgia, me amedrontei.
Conversei
com um jornalista conhecido. Ele me contou da sua própria cirurgia e
me mostrou uma matéria longa que escreveu na época, dez anos já
passados. Experiência forte, marcante. Falou, a operação deu
certo, continuava bem do coração. Mas, agora, descobriu, estavam se
entupindo artérias nas batatas da perna. Teria que se operar
novamente, lá embaixo.
Estas informações me
esclareceram, a coisa é sistêmica. A artéria que passa cá em
cima, no coração, passa lá embaixo, nas batatas das pernas.
Lembrei dos encanamentos lá de casa. Providenciei o conserto do
entupimento no banheiro, mas não do entupimento na cozinha.
Gravei meu medo. Postei na internet, tenho medo de operar, desejo outro caminho. Uma amiga, que não via há muito, me telefona e sugere um médico seu amigo. Cardiologista, cirurgião, homeopata, professor de medicina, experiente, mais de trinta anos na estrada.
Consultei.
Ele me examinou, analisou os resultados dos exames e foi categórico.
É grave a situação. Pra evitar a operação, há que mudar
radicalmente a alimentação, o jeito de viver. Confiei. Ele
praticava o estilo de vida que me propunha.
Entendi que
eu teria que cuidar das causas, pra evitar novos entupimentos nas
minhas veias. E as causas, aprendi, estão relacionadas ao que como.
Decisão rápida, morte ou sequelas à vista. Dependência ou morte. Dependência e morte.
Decidi
viver. E bem. Hoje, confesso, adoro o que como. E como muito. Não
pesa, me faz bem. Como só vegetais e sem gorduras. Óleo, nenhum. Em
vez de óleo, água. Aprendi, aprendo. Cozinho minha comida. Mas,
eita comida gostosa. E ficou mais fácil lavar os pratos, quase não
uso sabão.
*
Paralelo
a tudo, já há alguns anos, me cuido e sou cuidado por uma médica
homeopata. Ela, talvez, saiba mais de mim que eu próprio. Atenta, me
escuta, me estuda, me orienta. É, comigo, corresponsável pelo meu
dinâmico equilíbrio. Uma amiga.
*
Aproveitei a
onda, armei um tripé. Alimento, respiração, movimento. E expresso
meus sentimentos. Nunca tive uma vida tão boa como a que, agora,
tenho.
Descubro que mais me emociono quanto mais respiro.
Aprendo, amplio a inspiração, prolongo a expiração. Aprendizado
difícil, pra mim, que respirei curto desde que me entendo como
gente.
Quanto aos movimentos, tenho me aproximado do meu
corpo. Volta e meia lembro daqueles exercícios que fazia na Praça
de Esportes de Montes Claros. Movimentos de braços, pernas, quadris,
pescoço. Beabá. E da pouca ioga que pratiquei. Lembro, também, das
caminhadas da infância. Ando o tanto que me animo.
Quando
a boca cala, o corpo fala – adoece. Mas, quando a boca fala, o
corpo cala – sara. Este dito popular me guia. Expresso meus
sentimentos nas conversas com amigos, com quem posso ser eu mesmo.
Nas rodas de terapia comunitária, que tem umas regras básicas: lá
só se pode falar de si mesmo. E não se dá conselho. É que,
aprendi, quando dou algum conselho é como se eu soubesse mais do
outro que ele próprio.
*
Simples
assim. Escolhas. Atento a cada momento, devo escolher o que como, o
que boto pra dentro. Sinto, devo, também, escolher o que leio, o que
vejo, o que ouço. O que cheiro, o que toco, o que falo. O que penso,
que sinto.
Tudo novidade, como uma primeira vez. Resulta,
amadureço, rejuvenesço. Estou vegano na veia, me sinto
superpotente. Adio doenças e morte. Valorizo as alegrias. Sinto, só
vivo, mesmo, o que percebo do que sinto. Tanto me repito que acredito
e vivo.
*
O passado, presente. O futuro, de repente.
Rico mesmo é quem está contente.
*
O desejo engravida o sonho. O sonho realiza o desejo.
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