terça-feira, 2 de julho de 2024

88 dependência e morte




88


O desejo engravida o sonho.

O sonho realiza o desejo.


dependência e morte



Vegano come só vegetais. Arroz, feijão, grãos… Mandioca, abóbora, inhame, cenoura, beterraba, raízes...


Couve, brócolis, salsa, cebolinha, rúcula, alface, aipo, alho-poró, folhas...


Mamão, manga, abacaxi, melancia, jaca, maracujá, jaboticaba, uva, umbu, jatobá, açaí, melão, banana, laranja, mexerica, limão, coco, frutas...


Amêndoas, castanhas... E pequi... Que mais esqueci?

Temperos, pra quem gosta de temperos. Pimentas, curry, açafrão, manjericão, gengibre, alho, cebola, coentro... Um mundo, o mundo dos vegetais. E ainda os minerais, sais e mais… Assim entendi.

Vegano não come animais. Nem o que os animais produzem, leite, ovos... Nem os derivados do que os animais produzem. Necas de manteiga, queijo, mel, coalhada, banhas... Não come, também, tudo que leva algo disto. Por exemplo, que leve leite, manteiga ou ovos: bolos, pães de queijo, quiches, biscoitos...

Simplificando, vegano só come vegetais, não come animais nem nada que contenha derivados de animais. Assim entendi.

*
Estou vegano, nestes meus tempos atuais. O funcionamento do meu corpo mudou. A digestão funciona como nunca antes funcionou. Minha disposição se ampliou. Durmo tranquila e profundamente. Já não esquento a cabeça. Mais leves os pensamentos, suaves os sentimentos. E adeus medicamentos. Tenho sido o que alimento.


*
O que me estimulou a mudança – do comer de um tudo pro selecionar o que boto aqui dentro de onde mora meu espírito – foi o medo, inicialmente. Depois foram os resultados da mudança da alimentação. O medo foi de ficar doente e dependente.

Quando soube, há tempos, que minhas veias estavam se entupindo e que, se entupissem integralmente, eu morreria ou teria graves sequelas, levei um choque. Procurei saber as causas. Do que entendi, tipo gorduras estavam se acumulando nas veias e provocavam estes entupimentos.

*
Contei. Fui a treze médicos, diferentes especialidades. Todos me orientaram para a cirurgia. Assisti no youtube uma cirurgia, me amedrontei.


Conversei com um jornalista conhecido. Ele me contou da sua própria cirurgia e me mostrou uma matéria longa que escreveu na época, dez anos já passados. Experiência forte, marcante. Falou, a operação deu certo, continuava bem do coração. Mas, agora, descobriu, estavam se entupindo artérias nas batatas da perna. Teria que se operar novamente, lá embaixo.

Estas informações me esclareceram, a coisa é sistêmica. A artéria que passa cá em cima, no coração, passa lá embaixo, nas batatas das pernas. Lembrei dos encanamentos lá de casa. Providenciei o conserto do entupimento no banheiro, mas não do entupimento na cozinha.


Gravei meu medo. Postei na internet, tenho medo de operar, desejo outro caminho. Uma amiga, que não via há muito, me telefona e sugere um médico seu amigo. Cardiologista, cirurgião, homeopata, professor de medicina, experiente, mais de trinta anos na estrada.


Consultei. Ele me examinou, analisou os resultados dos exames e foi categórico. É grave a situação. Pra evitar a operação, há que mudar radicalmente a alimentação, o jeito de viver. Confiei. Ele praticava o estilo de vida que me propunha.

Entendi que eu teria que cuidar das causas, pra evitar novos entupimentos nas minhas veias. E as causas, aprendi, estão relacionadas ao que como.


Decisão rápida, morte ou sequelas à vista. Dependência ou morte. Dependência e morte.


Decidi viver. E bem. Hoje, confesso, adoro o que como. E como muito. Não pesa, me faz bem. Como só vegetais e sem gorduras. Óleo, nenhum. Em vez de óleo, água. Aprendi, aprendo. Cozinho minha comida. Mas, eita comida gostosa. E ficou mais fácil lavar os pratos, quase não uso sabão.

*

Paralelo a tudo, já há alguns anos, me cuido e sou cuidado por uma médica homeopata. Ela, talvez, saiba mais de mim que eu próprio. Atenta, me escuta, me estuda, me orienta. É, comigo, corresponsável pelo meu dinâmico equilíbrio. Uma amiga.

*
Aproveitei a onda, armei um tripé. Alimento, respiração, movimento. E expresso meus sentimentos. Nunca tive uma vida tão boa como a que, agora, tenho.

Descubro que mais me emociono quanto mais respiro. Aprendo, amplio a inspiração, prolongo a expiração. Aprendizado difícil, pra mim, que respirei curto desde que me entendo como gente.

Quanto aos movimentos, tenho me aproximado do meu corpo. Volta e meia lembro daqueles exercícios que fazia na Praça de Esportes de Montes Claros. Movimentos de braços, pernas, quadris, pescoço. Beabá. E da pouca ioga que pratiquei. Lembro, também, das caminhadas da infância. Ando o tanto que me animo.

Quando a boca cala, o corpo fala – adoece. Mas, quando a boca fala, o corpo cala – sara. Este dito popular me guia. Expresso meus sentimentos nas conversas com amigos, com quem posso ser eu mesmo. Nas rodas de terapia comunitária, que tem umas regras básicas: lá só se pode falar de si mesmo. E não se dá conselho. É que, aprendi, quando dou algum conselho é como se eu soubesse mais do outro que ele próprio.

*
Simples assim. Escolhas. Atento a cada momento, devo escolher o que como, o que boto pra dentro. Sinto, devo, também, escolher o que leio, o que vejo, o que ouço. O que cheiro, o que toco, o que falo. O que penso, que sinto.

Tudo novidade, como uma primeira vez. Resulta, amadureço, rejuvenesço. Estou vegano na veia, me sinto superpotente. Adio doenças e morte. Valorizo as alegrias. Sinto, só vivo, mesmo, o que percebo do que sinto. Tanto me repito que acredito e vivo.

*
O passado, presente. O futuro, de repente. Rico mesmo é quem está contente.


*

O desejo engravida o sonho. O sonho realiza o desejo.









 

Nenhum comentário:

Postar um comentário