quinta-feira, 22 de agosto de 2024

53 falsas notícias




53


…repetidas, repetidas, repetidas, dão, ao falso, vida.


falsas notícias



Às vezes tenho vontade de dialogar com aquela pessoa que fala na tv. Mas ela não me ouve. Ela só fala e fala. Repete tanta coisa, que acabo acreditando no que me fala. Se não me cuido, acredito mais no que me fala a tv do que o que na realidade vivo.


Com o rádio já era assim. O locutor fala, todo mundo escuta. Não há diálogo. Uma pena. Com a revista, também. Com os jornais e mais.


Tenho escutado menos – e mais criticamente – tanto os locutores das rádios quanto os apresentadores das tvs. E passei a me escutar mais, a mais acreditar no que sinto e vivo. Tenho sido mais feliz.


Minha realidade é variada. E varia um tanto em função do que alimento. Se fico pensando – alimentando – só desgraças, minha realidade fica desgraçada. Se me cuido e escolho o que me alimenta – pensamentos, palavras, atos – minha realidade passa a ser o que escolho.


Tudo tem sido novo, pra mim como, imagino, para cada um. Nunca vivi o que agora vivo. E, como tudo que é novo é desconhecido, volta e meia estou com medo. Tenho medo do que desconheço. Tenho medo do novo.


Quando faço algo novo é um aprendizado. Tento, tropeço, erro, retento, acerto. A novidade, agora, tem sido a minha consciência do que vivo. É que descobri, novidade pra mim, que vivo somente o que percebo do que sinto. O que não percebo, não vivo. Meus sentimentos, intuo, expressam o que vivo. Devo, então, prestar atenção a meus sentimentos, percebê-los.


Quando presto atenção a meus sentimentos, e percebo o que sinto, vem a curiosidade de saber o que causa, as origens destes sentimentos.


Surpreso, confirmo. Pequenas escolhas que faço antecedem e provocam os sentimentos que me vêm. Estes mesmos sentimentos que, só quando percebo, vivo.


Assim, se ligo o noticiário da tv e da rádio, se leio as manchetes dos jornais e revistas, sinto indignação, raiva, tristeza, impotência. É uma contradição. Às vezes, a realidade ao meu redor me alegra. Mas me entristeço, me enraiveço, me indigno quando – através daqueles jornalistas e locutores e apresentadores de rádios e tvs – fico sabendo de maldades longínquas. Muitas vezes, misturadas, realidades e ficções.


A história sobre a realidade varia, de acordo com o contador. Se duas pessoas assistem ao mesmo fato, as histórias que contarão serão diferentes. Experimente. Também a História muda com o contador.


A História do Brasil, por exemplo, é narrada pelos chamados vencedores. Os contadores contam suas versões da História. Mas, de fato, não sei como morreram Getúlio, Juscelino, Jango, Castello Branco, Costa e Silva, Ulisses Guimarães, Tancredo, Eduardo Campos, Teori Zavaski, Marielle Franco. E não sei de outros que morreram e nem soube.


Também desconfio do que me contaram de outros fatos da nossa História.


A História dos Estados Unidos, não sei. Intuo, sinto, que quaisquer informações sobre guerras das quais eles participam me chegam através dos monólogos das tvs, rádios, revistas, jornais. E estes veículos, por exemplo, recebem informações, talvez padronizadas, das agências de notícias – internacionais, nacionais. Agências, que, por sua vez, quando relativas a invasões e guerras externas, talvez recebam informações originais de uma só fonte oficial do Estado norte-americano – o chamado Pentágono?


Sabemos, o soldado, como quem manda, é responsável pelo que o tiro provoca. O jornalista, como quem manda, também é responsável pelo que a falsa notícia, a fofoca, provoca.


Tudo tão, digamos, simples. E, ao mesmo tempo, tão complicado. Desconfio, não confio no que estes jornais, rádios, tvs, revistas me informam. São, a meu ver, tendenciosos. Representam interesses que não são meus nem de muitas outras pessoas.


Sinto, somos, os das gerações próximas à minha, os últimos neuróticos. Porque, se psicopata for aquele que faz mal a si mesmo e a outros… e não se sente mal por fazer o mal – não sente culpa – nestes nossos tempos atuais, saímos de cena, nós, os neuróticos, e entram em cena os psicopatas.


Resta a esperança de um fato novo que tudo mude. Um novo Cristo, por exemplo. Ou uma descoberta ou invenção mais forte que o fogo, a roda, o avião, que a internet, que os meios de comunicação. Ou, mistério, fato novo transcendental – uma linguagem dos sentimentos, por exemplo – algo provocador de emoções que despertem em cada um de nós nosso amor adormecido. E nos extasie.


Falsas notícias, repetidas, repetidas, repetidas, dão, ao falso, vida. Lembro, a guerra, arte da mentira, do engodo.


Já, a paz, arte do amor.





 

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