terça-feira, 6 de agosto de 2024

59 pedaços de mim



59


Que semeio hoje, que rego, que cuido,

pra que hoje seja bom

e amanhã permaneça?


pedaços de mim



Intuição. Isto que sei e nem sei que sei.

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Tempos mortos. Isto que sinto e não percebo e não vivo.

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Tao Te King. Parabéns pra quem trabalha muito, mas rico mesmo é quem vive contente.

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Oswald de Andrade. Prova dos nove é a alegria.

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Aqui, lá, acolá. Let it be. Laisser faire. Deixa a vida me levar.

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Pra alimentar alegria, rio primeiro de mim.

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Complexidade. Isto e aquilo, em vez de isto ou aquilo.


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Redes. Na construção de novas realidades, então combinamos assim: cuido, com você, um tanto de você. Você, comigo, um tanto de mim.


Em vez de você ou eu, agora eu e você e outros. Nós. Mais do que soma, multiplicação. Parece simples e é.


Assim, em redes, como em movimentos, sem hierarquias. Cada um informa o que oferta e o que procura. Quando todos souberem das ofertas e procuras… As pessoas se aproximam, confianças são estabelecidas, parcerias realizadas, vínculos aprofundados. A rede, o movimento acontece, fruto das comunicações voltadas para interesses comuns.


Na autonomia, cada um de acordo com seu desejo, possibilidade e movimento.

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Redes. Cada um escuta todos, cada um fala pra todos. Combinados os tempos, um a um sintetiza, fala do que oferece, fala do que procura.


Quando cada um sabe de todos, e todos de cada um, pega bem um recreio, um café.


No café, no recreio, um se aproxima de outros, outros chegam perto de um. Se desejos despertados, pululam informações, ideias, intenções. O movimento emerge.


Outro e outro se interessa, se aproxima. Interesses comuns misturam conhecimentos, desejos, ideias, planos, projetos. Brotam vínculos, permeiam afetos. Experimentam, transformam intenções em gestos.

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Quanto melhor, melhor. Se me desequilibro, desequilibra ao redor.

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Passo a passo. Faço o futuro do que sou no presente. Meu presente é fruto do meu passado. Meu passado é presente.

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Ler sem provas fazer, que prazer…

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O futuro, meu desconhecido. A cada futuro que adentro, encontro o novo. Sou o que hoje sou neste momento, experimentador. Tento, tropeço, aprendo.

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Tão bom não ter prazos, nem pressões nem atrasos.

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Quando interajo, gente, a ilha que sou vira continente.

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Dentro do incêndio, só vejo chamas. Quando fora, saídas, esperanças.

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Pulsa que pulsa. Um é tudo. O todo, nada.

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Pedra pr’eu tropeçar, volta e meia, eu mesmo boto pedras no meu caminho.

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Quando tento não ser eu, anulo em mim parte de mim.

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Os sonhos meus não são só meus. Tenho em mim sonhos de outros.

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De repente me pego em pleno apego ao meu ego.

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Vencido pela emoção, esqueço a razão. Na realidade, uma ponta de medo, uma faísca de raiva, inesperadas, ameaçam minha serenidade.

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Dúvidas. Cuidarei de mim aos 80? Saberei ainda andar, tomar banho, cozinhar, lavar minha roupa, pagar as contas? Em que depende de mim, agora, meu futuro? Que semeio hoje, que rego, que cuido, pra que hoje seja bom e amanhã permaneça?

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Brancos alvos. Algumas setas certas, algumas metas vagas, algumas medidas simples. A cabeça vagueia, se apruma, se adapta, o mundo e eu fazemos sentido. As intuições me guiam, entre variáveis mutantes.

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Exceções quebram rotinas. Qualquer emoção, minha rotina vira exceção. Um furto, um hóspede, uma obra, uma queda, uma sorte, um azar. Um impasse, um ciúme, um medo, um tesão, uma dor, uma questão, uma raiva, alegria, paixão. Qualquer emoção, minha rotina vira exceção.

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Tempo. A todo momento escolhas. Dor ou prazer, medo ou amor. Neste rumo que tomo, nos caminhos que faço, construo em cada ato, buracos, cantinhos, regatos.

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Imagino. Mesmo na barriga, eu, como feto, tinha lá meus prazeres e dores. Dores a gerar medos, prazeres a fazer amores. Se mamãe estava nervosa, a barriga contraída, eu, dentro, me retraia, me defendia, quietinho. Mas se mamãe estava alegre, mente e corpo relaxados, pra mim era uma festa, um espaço sem fim.

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Marcas na alma. Tenho culpas por medo. Medos me geram culpas. Quando lembro dos 10 mandamentos e dos 7 pecados capitais, fico com medo de prazeres, emoções que me provocariam castigos.


Estes medos vieram com o catecismo. Precisei de tempo e tempo pra chegar perto deles, tão entranhados em mim. Ah, que raiva – mágoa? – tenho de meus catequizadores.Talvez pensando fazer um bem, me fizeram tamanho mal.

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A morte, também uma escolha. Morro um pouco, a cada momento em que escolho o cigarro, a coca, a cola, a coca cola, o malconservado, o alimento errado, o pensamento chato, o sentimento dor, a palavra amarga, o ato impensado, o filme amedrontador, o áudio que me pauta.


Também a vida, uma escolha. Lá no fundo, eu sei o que me faz mal, o que me faz bem.







 

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