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Devo guardar como lembrança:
dentro do incêndio, só vejo chamas.
Se fora, esperanças. O que desejo, a vista alcança.
alimentar alegrias
Volta e meia meu corpo me avisa pr’eu me cuidar. Bom menino, quando escuto meu corpo, relaxo sem culpa. Meu corpo é, às vezes, uma mãe…
Tenho me sentido no limbo. Sabe o que é limbo? No catecismo, quando perdi minha inocência, aprendi que o limbo é aquele lugar pra onde vão os anjinhos, as crianças que morrem sem batismo. Lá, do que entendo, é vazio, é um nada. Meu limbo atual é este não saber quem sou, onde estou, de onde vim, pr’onde vou, que desejo. Como não sei, permaneço…
Minhas realidades pouco a pouco se enevoam… e eu gosto. Não sei descrevê-las, tudo um tanto difuso. Sigo a intuição, quase o impulso, mesmo sabendo que não sei. Tá vendo? Brincadeira – imagino além de mim, outros. Os objetos têm perdido antigos sentidos de suprirem vazios.
Saem os objetos, ficam os vazios, pelo menos não me engano. E o melhor, tenho me sentido melhor. Paralelo, o pique corporal diminui, os desejos, a ansiedade também. Serei o santo que desejei ser quando perdi a inocência no catecismo?
Pois é, sinto que a vida é o que sinto. Volta e meia me pergunto o que está ao meu alcance... e me surpreendo com o que posso fazer por mim mesmo.
Esta foi mais uma vez em que perdi outra inocência: se não cuido de mim, quem cuidará? Quando tento olhar com os olhos de quem me cuidou ou cuida, minha mãe por exemplo, desconfio que o outro – ela – viveu também tantas questões pessoais que não conseguiu resolver… Quando assim, sinto compaixão por ela, me permito compaixão por mim mesmo. Se minha mãe foi não-perfeita – nem meu pai, meus modelos – como poderei eu ser?
Aí então me pergunto: o que está ao meu alcance fazer por mim? Viver contente? Rio, rio, rio... e não sei por que. Acho que estou no caminho certo.
Tudo muito novo, pra mim, isso de alimentar alegria. Rio de mim? E se rio do outro, no fundo rio de mim?
Pra ler no banheiro
Li ontem um trecho de Freud que fala de mim, de você, sem nos conhecer.
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Que prazer! Boas novas, isto de ler sem fazer provas.
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Devo guardar como lembrança: dentro do incêndio, só vejo chamas. Se fora, esperanças. O que desejo, a vista alcança.
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No fundo, se confuso, complico, confundo, conflito, confronto.
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De repente, me pego em pleno apego ao meu ego.
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Em cada caminho que faço, construo, omisso e em atos, cantinhos, buracos, regatos. Lá no fundo, sei o que me faz mal, o que me faz bem.
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Em cada alegria, vivo. Em cada tristeza, morro. Ao meu lado vivo, peço socorro. Enfim, sou remédio de mim. Agora sei, sou um homem incomum, como cada um.
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Escolho que morro a cada vez que me mato num ato que faço. Escolho que vivo, e consigo, a cada cuidado que tenho comigo.
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Quando agitado, namoro, me acalmo.
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Racionalizo tudo. A emoção emerge e prevalece.
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Movimento, se se institucionaliza, deixa de ser movimento. Paralisa.
Movimento paralisa, se se hierarquiza.
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Tão bom, não ter prazos. Nem pressões, nem atrasos.
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Qualquer emoção, minha rotina vira exceção.
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