13
Descobri, maduro,
não sou eu que tenho as coisas,
são as coisas que me têm.
mais ou menos um dia
2016
Um tanto, um pouco coleciono o que me vem claro ao coração. Um turbilhão. Bom, me sinto dono de mim mesmo. E compartilho sacações, talvez, com outros corações.
*
Meu Deus, pura empatia, se alegra com minha alegria.
*
Não é que eu não tenha tempo pro prazer. É que escolho outras coisas pra fazer, ser, estar, permanecer, ficar...
*
Que alívio. Minhas escolhas determinam o que vivo.
*
Racionalizo tudo. A emoção emerge e prevalece.
*
E me permito tantas metas… Só não tenho a hora certa.
*
A criança que vive em mim implora: viva sim, viva agora.
*
Será sempre assim, inesperado, o fim?
Posses
Tudo muito bem, tudo muito certo. Reconheço, tanto eu desatento ao tempo… Descobri, maduro, não sou eu que tenho as coisas, são as coisas que me têm.
O carro que não tenho me obrigaria cuidá-lo, guardá-lo, emplacá-lo, mantê-lo. O animal que não tive me pediria atenção, cuidados. O dinheiro requer guarda, controle. O que mantenho nas prateleiras, no guarda-roupas, me pede limpeza, arrumação. Tudo me pede tempo. Se não pede, toma.
Hoje, ainda, como não tenho meu tempo, corro. Na minha infância não soube de faltas até o momento em que, na cidade maior, vi a vitrine. Desejei o que não tinha. E por muitas vezes me angustiei por não me suprir das novas necessidades criadas. Só agora compreendi que o que aparentemente possuo é que me possui. Minhas posses me aprisionam.
Foi bom tê-las – estas coisas que me têm – e agora deixá-las a uma e a outra. Por mim, hoje, só conversaria, escreveria, filmaria, espreguiçaria, deixaria a saudável inesperada vida me levar. Muito do que me impede é minha carência, que me faz querer ser reconhecido, admirado, mesmo eu sabendo que – se minha autoestima depender do olhar de outros – posso eu próprio não me reconhecer. Como diz o Adalberto, o que você quer que eu queira, pra eu querer?
Misturas
Cultura, o que é? Antonio Faundez lembra Paulo Freire e se identifica com o que ele dizia, descobrir uma cultura é aceitar outra cultura, tolerá-la. E afirma que a cultura é mais do que manifestação artística ou intelectual através do pensamento. Sua manifestação mais profunda está nos gestos simples do cotidiano, como os diferentes jeitos de comer, dar a mão, relacionar-se com o outro.
Eu próprio, quando leio Faundez, o escuto impregnado de minha própria cultura. Já não é mais Faundez puro. Somos agora misturados, inclusive a Paulo Freire.
Winnicott dedicou a vida à pediatria e à psicanálise, especialmente a infantil. Fez, nos últimos anos de vida, palestras para os públicos mais diversos. Tudo Começa em Casa é o título do livro póstumo que contém algumas destas palestras. Cada capítulo se encerra em si mesmo. Sua leitura tem me facilitado a vida, um tanto pela melhor compreensão de mim mesmo, outro tanto pela compreensão do outro, mamãe inclusive. E meus lados mãe, pai, filho.

Nenhum comentário:
Postar um comentário