terça-feira, 22 de outubro de 2024

14 pronto




14


Mudaram meus desejos atuais quando me toquei que muitas das minhas necessidades recentes de poder – e dinheiro e objetos – estavam relacionadas a afetos que desejei e não tive na minha infância.

pronto



2017.

Tudo, ao mesmo tempo, agora. Ô coisa boa, perder a hora quando namora. Por outro lado, defino o que penso e sinto a cada escolha que faço, em cada botão que ligo, em cada canal que fico. Pois é. Vida breve, escolhas leves: se pesadas, ô vida errada.


E depois? Pro futuro, planejo o que hoje desejo. Mas antes, bem antes, desde o feto, todo afeto, um sucesso. Estive nove meses em meu quarto, crescendo sozinho. Luzes, o parto. Eu, novo, zerinho.


E aprendo, sei: pra quem, desde criança, cria necessidades, difícil pode ser a mudança quanto maior a idade. É que, quando pequenino, um tanto se define o destino. Também, por isto, tão bão, sem pressa nem pressão.


E vivam as carícias. Se trisca fica. Se toca, rola. Se pica, delícia. A idade? Estado de espírito.


Anos antes.

Insight. O mundo muda quando cai a ficha. Quando o que compreendo me toca emocionalmente, minha vida ganha novo sentido. Mudaram meus desejos atuais quando me toquei que muitas das minhas necessidades recentes de poder – e dinheiro e objetos – estavam relacionadas a afetos que desejei e não tive na minha infância. Tenho me sentido melhor quando hoje procuro suprir diretamente os afetos que hoje desejo.


Primeiro, aprendi do que vi, ouvi, tateei, cheirei, botei na boca e senti. Desde criança transformei-me no que me foi apresentado como modelo. Estou fundamentalmente impregnado de informações que, no correr da vida, recebi tanto da escola, igreja, família quanto dos meios de comunicações, dos que estão ao meu redor.


Eu mesmo colaboro para a manutenção da moral atual, quando nos atos e encontros de toda hora transmito meus preconceitos aos meus filhos, amigos, vizinhos, colegas de trabalho.


Enfim: o homem que sou hoje é fruto do que antes senti, aprendi. O homem que serei amanhã deverá ser fruto do que hoje aprendo e sinto. O que percebi em mim, percebo em outros. Maputo, 1981, foi quando isto ficou claro pra mim. Desde então faz parte de minha visão de mundo.


Livre pensar, levitação de tempo e espaço. Ausência de nada, presença de tudo. Pulsação, inspiração, expiração. O fio invisível que me abre o fluxo.


Limbo. Eu, 65, de repente mudança de referências. Me desculpo, confundo, misturo vida e trabalho, constante busca, antecipação – experimento, já, agora, o que desejo pro futuro. Utilizo indicadores: tranquilo, bem humorado me sinto no caminho certo. Se não, que realizo para novo equilíbrio? Algo clareia: aprender a viver – tranquilo, humorado – com o que está ao meu alcance?


Ficção. A busca-em-ação, a buscação é descoberta, experimentação, sim e não. Olho pra trás, domina a memória enevoada. Quando emergem lembranças, as felizes sobressaem. Tudo muito variado, umas vezes assim, outras incorporado.


E eu, aqui, em qualquer momento, impregnado de mim. Confuso e lúcido. Em conversa cifrada comigo mesmo, num misto de coragem e medo. Meu universo pulsa, sou todo volume e não sou, sou centro e partícula. Tudo ao mesmo tempo, agora. Juntos, a prática de realizar: sonhar, lembrar, uma história, um plano passo a passo, o fazer passo-a-passo, o me tornar o que desejo ser.


Enquanto isto.

Tostão. De novo, quando leio, entendo do meu jeito. E arrisco. O jogador, pensante, filosofa. Lembra da solidariedade e da impossível liberdade total sonhada por Sócrates, o do Platão. A utopia como referência, alimentação do desejo. Inalcançável. A lembrança de Tostão me anima, faz bem. Sonho, sem me limitar ao possível.


Narciso. Olho no espelho e me surpreendo, tão jovem e com estas marcas… E é, sou eu. Tão novo pra ser velho.




 

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