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Talvez, lá no fundo,
os medos sejam as origens dos controles.
Lembro, me relembro, controlo quando desconfio.
2017
Há perguntas que faço a mim e só eu mesmo posso responder. Mesmo que ouça respostas me dadas por outros. Por exemplo, que faço da minha vida?
Aprendo, a cada vez que amplio: a respiração varia, outro o dia a dia. Percebo: a lei surge, o homem burla, a lei já era. Não adianta legislação, se má intenção impera.
Desconfio: em mim censura o que, em você, não se aventura. E, ao mesmo tempo, sei, estou rico. Sinto afeto em cada canto que brinco.
Mas, que bom, o que aprendo, fica. Mesmo que me esqueça.
Antes, em algum momento
Pedaço do mundo. Outra noite, encontrei uma moça a chorar de dor. Está com medo de caminhar sozinha. Relata que alguém tapou sua boca, tentou estuprá-la. Ao reagir, levou um paralelepípedo na cabeça, dói e dói. Quer ir ao pronto-socorro, quer fazer queixa à polícia. Não sabe escrever nem ler.
Caminhamos de quase Parque Guinle até o Largo do Machado. Só consegui escutar e oferecer o da condução. Inda nervosa, inda com medo, toma o ônibus pro hospital. Um tanto de sua tristeza e impotência ficam comigo. Negra, pobre, gorda, catarro e tosse, lágrimas, tristeza, raiva e rua como residência.
Relembro pra não me esquecer
Aquela do professor amigo – que você quer que eu queira pr’eu querer? – toda vez que me lembro dela, lembro de meus momentos de submissão. Hoje sei que é uma pergunta que só devo fazer ao espelho.
Do que entendi de Freud, sonho com o desejo realizado. Em Interpretação dos Sonhos, ele fala de que, quando à noite come azeitonas ou algo salgado, vem sede durante o sono e tende a sonhar tomando algo que supra a sede que de fato sente. Quando acorda, acorda com sede. Mas sonha suprindo a sede, realizando, no sonho, o desejo.
A comunicação se dá quando o outro compreende o que falo. Alguém já disse algo como “a comunicação se dá quando o outro entende”.
As coisas me têm, mesmo que eu tenha as coisas. Se tenho um carro, um trabalho para mantê-lo. Se dois, mais trabalho. Se tenho um computador, devo limpá-lo, espaná-lo. Ou trabalho eu ou quem eu trate para trabalhar por mim.
Ah, se eliminássemos os controles do mundo, quanto trabalho a menos, quantos recursos liberados. Talvez, lá no fundo, os medos sejam as origens dos controles. Lembro, me relembro, controlo quando desconfio.
Aqui escolhas constantes
entre prazer e dor. Treino esboço de sorriso, arrisco o palco que desejo. Tropeço, volto pro espelho, reclamo de mim mesmo. Como num bolero, dois pra frente, um pra trás. Não me lembro quem me lembra: seja o mundo que você quer.
Outros eus
No viver minha vida construo minha visão de mundo, que se transforma de acordo com o que vivencio. Tem gente que sente que o mundo lhe deve. Acumula. Tem gente que sente que deve ao mundo, se sacrifica. Tem gente que o mundo e o eu são um só. Compartilha com o outro que é eu. Ora é um, ora é outro. Como eu, às vezes, ora sou um, ora outros.

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