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Os que fazem fofoca são também responsáveis
pelo que a fofoca provoca.
piripaco
Anos atrás. Um dia. Sinto o lábio superior, à direita, como que levemente anestesiado. Mesmo estranho, não esquento. Uma e outra vez, o olho direito embaça, lacrimeja.
Dois ou três dias assim, estou num almoço amigo, uma amiga me fala que um lado do meu rosto está diferente do outro. Os presentes se ligam. Cláudia insiste, vamos à emergência do hospital São Lucas. Sala de espera cheia, receio de AVC ou algo assim, priorizam meu atendimento.
A médica me examina em pé, solicita ali mesmo exames. Já sentado, uma auxiliar retira meu sangue, instala o pinga-pinga do soro. Próximo passo, tomografia.
É tarde de domingo, movimento crescente na emergência. Um dedo quebrado, o excepcional em crise, um letárgico em cadeira de rodas, outro que já chega morto, uma idosa à procura de escuta, todos em busca de cuidados e afetos, os nove boxes cheios, os espaços de espera também.
A médica me diagnostica, talvez paralisia parcial periférica. Causas ainda indefinidas. Receita o que considera necessário, me orienta para um neurologista. Anoitece, saio confortado com o atendimento, me senti cuidado.
Na segunda, no lusco-fusco da madrugada relembro e faço, como exercícios, movimentos com os olhos e músculos. Telefono pros bem próximos, tranquilizo, me emociono, agradeço acompanhamentos, disposições e disponibilidades.
Já com os resultados da tomografia e do sangue, neurologista. Sangue bom – todos os indicadores de acordo com as referências. Resultados normais, reflexos também. Aventa causas possíveis. Meu plano de saúde facilita, o médico solicita outros exames. Chegou a noite. Tomo um açaí na lanchonete, vou pra casa.
Terça, enquanto marco exames, me fortaleço. Auto-hemoterapia, 5 milímetros retirados do meu braço e aplicados imediatamente na nádega. Jun, acupuntor amigo, pesquisa oriente e ocidente, traz informações, também aventa causas, me faz perguntas. Faz sentido: um choque térmico talvez tenha sido provocado por aquele vento forte do ventilador novo que mantive ligado ao meu lado direito enquanto utilizo em casa o computador.
Jun define uns poucos pontos, aplica. Na terceira agulha durmo profundamente. Acordo uma hora depois, sonolento, vou com ele à portaria, regresso direto pra cama.
Quarta, cedinho, experimento... e já consigo fazer o que antes não conseguia. O olho direito abre e fecha, sozinho, ao meu comando. O sorriso agora menos torto. Terceiro e último dia da minha licença, escondo minha agenda e, um tanto culpado, aprendo relaxar.
Alguma certeza, mais que os remédios receitados e – lidas as bulas – criticamente não acolhidos, redescubro, meu melhor remédio sou eu. Quero saúde, me cuido.
Quinta e sexta pela manhã, a bioenergética facial agora diária, a saudação ao sol – ioga singela. Pra movimentar a área da boca, mastigo chicletes como nunca desde terça. A alimentação permanece saudável. Água – que tomo pouco diariamente – agora um litro e meio.
Eu, que me orgulho de não ter comprimidos em casa – nem mercúrio cromo – procurei semana passada um gastroenterologista, atraído pelas orientações que deu ao meu filho mais novo e em busca de mais informações sobre minha já incorporada prisão de ventre (associo: mau-humor, enfezado, fezes).
Dr. Hélio me falou da água, das fibras. Pressão 11x7, batimentos 60. Tudo bem pros meus quase 63 anos. Quando soube que fumei brabo dos 10 aos 50, sugeriu exames: raios-x, sangue, ultrassonografia prostática.
Os resultados dizem que está tudo certinho. Também tenho me cuidado, especialmente com o que aprendi com mamãe, Ana, Regina e Romel. Alimentação leve, bebidas – álcool, refrigerantes – só eventualmente. Todo dia, ou quase, 15 minutos de ioga, respiração mais funda, movimentos bioenergéticos, alguns quarteirões a pé. Mas se subo escadas, arfo: sequelas da Souza Cruz, a que fabrica morte por meio de cigarros.
Falo pra mim: moral da história, a vida é curta, curta a vida. Tento curtir. Maior obstáculo, as culpas sem sentido.
Este texto acima escrevi em 2009. Já as sacações abaixo, frutos de minha visão de mundo d’agora, 2017.
Pra ler no banheiro
Uma armadilha, um laço: faça o que digo, não o que faço.
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Os que fazem fofoca são também responsáveis pelo que a fofoca provoca.
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Se bem um faz a si e mal faz a ninguém, que mal que tem?
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Penso mais. Não sou eu quem tenho animais: animais é que me têm.
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Com a amiga de um amigo, aprendi algo assim: só reconheço no outro o que tenho em mim.
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As práticas, as vivências, me trazem experiência.
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O que deveria ser, não é. Um desafio, bem viver, com prazer, o que de fato é.
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Humor, se com bom, caminho certo. Se com mau, me alerto.
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Pra que mais, se menos me supre? Pra que minto, se essencial é o que sinto?
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