quinta-feira, 8 de maio de 2025

888 quase tudo dominado



quase tudo dominado Antes, muito antes, não me lembro, nem sei mais, talvez falasse a língua dos animais. E antes, perto do princípio, algo como o mais simples ser vivo. Passada larga, me transformo, viro partícula, energia, átomo, célula, pedra, planta, bicho. Chego a macaco. Viro gente como a gente. Uns mais, outros menos, afetados, evoluímos ao mesmo tempo. Alguns viraram humanos, outros meio desumanos. Sei que hoje, ainda, os afetos me afetam. De afeto em afeto, construo minha cultura. * Estou consciente quando estou atento. Ao que está fora, ao que está dentro. * Já no tempo das minhas tataravós, não lia, falava língua de índios. Jurema, Jandira, Jurandir, Jacyra, Maíra, Cainã, Pabi, Turiá e por aí ia. Depois, tempos depois, chegaram os portugueses e me acostumei, esqueci o que sabia. Logo-logo vieram cativos os negros e incorporei suas falas, seus costumes, misturei nossas culturas. Aqui e ali, espanhóis, franceses, holandeses, ingleses, as histórias se repetem. Má sorte, as invasões se tornaram comuns, sempre a lei do mais forte. E eu me adaptei, mistura de todos. * Agora, aqui, pequena cidade que estou, interior, passo pelas ruas e leio: black friday, coca-cola, shopping, yesterday, bluetooth, arezzo, netflix, blue-ray, pfizer, havan, americanas, medley. Net, rock in rio, spotify, bayer, internet, bobs, mcdonald, subway, hot dog ice cream, pizza, marshmellow, rice & beans, makita, wong, iaksoba. Volkswagen, chevrolet, citroen, fiat, ford, bagaggio, toyota, santander, phillips, american express, visa, mastercard, renault, sony, samsung, microsoft. Shell, esso, oil, ketchup, ovomaltine, i-phone, rede shop, uber, airbnb... * Abro os jornais, vejo na tv, as mesmas fontes de informação, comunicações dominadas, quase tudo sai da mesma fonte. American way of life. Vejo o filme, roteiro quase único, alguém persegue alguém que foge de alguém. Passeio pela internet e lá estão: twitter, facebook, blogspot, e-mail, youtube, instagram... De repente, pra mim como pra qualquer um, pelo celular, mensagens personalizadas. Os que coletam meus dados, minhas comunicações sabem sobre mim o que me esqueci. Sabem meu cpf, cep, inss, celular, identidade. Sabem quais minhas escolhas, meus gostos, simpatias. E, aqueles que sabem tanto de mim – do que desejo, gosto ou desgosto, do que como, leio, falo, ouço... – usam o que sabem de mim. Uns, em seus próprios benefícios. Em função do que sabem de mim, falam pra mim o que meus dados informam eu desejo ouvir. Pra mim, como pra cada um, vem informações relacionadas a meus próprios dados, a meu histórico. Sou afetado pelas informações que me chegam. Acredito mais nas informações que me chegam do que na própria realidade que vivo. Talvez, desatento, eu nem perceba o que sinto. Interferem em minha vida. Sinto, penso, ajo em função do que me informo, mesmo não sabendo se verdade ou mentira. Sou guiado sem saber. Falo do que me chega de quem não sei, falo do que não vivi, falo do que não sei. * Eu próprio duvido, imaginação ou memória. Aqui e agora, ou fico atento ou lá se vai minha liberdade. A realidade me confirma se verdade. * Chocado, me olho. Agora, sei mais do halloween que do caipora. Sei mais do faroeste que do Nordeste. Minhas lembranças de infância trazem heróis de lá de fora. Internalizei, entraram em minha cultura. Como hoje entram na geração presente e na futura. * Inda bem, tenho os olhos, janelas das almas. Ouço, cheiro, penso, sinto. Abro os olhos, olho pra fora, olho pra dentro. Aprendizagem de atenção profunda, tanto em mim quanto no mundo. Inda bem, pra mim mesmo não posso mentir. Tenho a consciência que me guia. Aquela que bem me orienta. Aquela que cada um tem. Luiz Fernando Sarmento www.luizsarmento.blogspot.com * Teresópolis Rio de Janeiro Brasil 19 de dezembro de 2019


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