quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Proibição de emoções - uma vida incomum como qualquer um 25




uma vida incomum como qualquer um 25

Proibição de emoções

Acredito no ser humano recém-embrionado como totalmente original, sem nenhum comportamento de origem moral. As regras que vai absorvendo têm suas fontes em seus modelos, que são as pessoas ao seu redor, a vida ao seu redor.

Acredito ainda que a cada regra pode corresponder uma limitação de atuação do novo ser. E esta atuação deformada, pressionada de fora - ou esta atuação suprimida - gera sentimentos, emoções. Que podem ser de raiva, medo... Estas emoções, por sua vez, necessitam ser expressas.

Assim, muitas vezes, quando são expressas estas emoções e sentimentos -
percebidos socialmente como coisa ruim - acontece de serem proibidas por outros seres humanos com quem convive este novo ser. E, em função destas proibições, o novo ser tende a se sentir incomodado, ridículo, inseguro.

A partir de então, para evitar estas desagradáveis sentimentos reativos, o novo ser aprende a evitar as emoções originais, geradoras de atuações de repressões externas. O novo ser evita as emoções originais, internaliza a repressão.

Como evita as emoções? Alterando a respiração natural, enrijecendo a parte do corpo que for necessária enrijecer para que a emoção seja suprimida. Até que a repetição constante deste enrijecimento torne a parte do corpo cronicamente enrijecida – quando da sensualidade do requebro, por exemplo, parando de requebrar, endurecendo a musculatura pélvica. Para sossego dos pais (viado meu filho não vai ser!), da igreja (alma em estado de graça, assexuado, sem pecados, passivo e submisso...), do quartel (homem tem que ser duro), dos que exploram (operários escravos).

Recuperar o jogo dos quadris, outras sensações, sentimentos e emoções, implica numa recuperação da mobilidade da parte do corpo enrijecida.

Trabalhar o corpo, a cabeça, recuperar a flexibilidade perdida tem sido difícil, às vezes quase impossível. Acredito – pelas vivências sinto - que recuperar emoções, sentir emoções pode ser inicialmente doloroso. Em seguida, atraente, gostoso, gratificante.

E quando as emoções gostosas pintam, as ações são mais produtivas. Soluções mais claras, humor mais leve, comportamentos mais racionais. E quando do avesso, da contenção de emoções, restam mesquinharia, burrice, mau humor invadindo a vida.

Agir, alterar comportamentos já rotineiros, recuperar as próprias emoções, acredito ser a base para a tentativa de trabalhar pela autonomia de outros seres humanos, emocionáveis como nós.

Certeza absoluta, nenhuma: o que aqui tento relatar tem a intenção de passar informações a pessoas que detêm o poder de refletir. São anotações pessoais, frutos da observação constante: acredito que possam representar verdades.

O texto acima, escrevi em 1981, em Maputo, Moçambique, quando lá atuava como cooperante no Instituto Nacional de Cinema. As sacações, abaixo, escrevi nos últimos anos, à medida que me vinham ao coração.


Pra ler no banheiro


* Falsas notícias, repetidas, repetidas, repetidas... dão, ao falso, vida.

* Sexualidade castrada, a liberdade mina. Quem castra, domina.

* Tanto abraço contido, tanto beijo escondido, tanto manto me encobre, que faço, que faço? Me disfarço, sério, escondo meus mistérios? Ou rio de mim, me faço palhaço?

* Autocrítica, antes da crítica.

* Satisfeito, aceito, sou homem. E, como outro qualquer, também, um tanto mulher.

* As meninas que se beijam, em plena felicidade, mexem com minha sexualidade. Se bem fazem a si, e mal fazem a ninguém, que mal que tem?

* Reflito, confesso, um tanto me meço, evito conflito.

* A sete palmos, quando sob o mármore, calmo, calmo, calmo, espero, virarei árvore. Já quando pó, eu só, sem dó, alimento a planta que me suplanta.

* Tanto escolheram que não me viram. Perderam. Tanto pré-concebi que não te vi. Perdi.

* Idade terna, eterna idade. Leveza no ser, pura beleza. Espiritualidade.

* A vida que vivo – pensamentos, sentimentos, falas, meus atos – de fato, decorrem de escolhas que faço.

* No caminho da felicidade, vale a boa vontade.



Luiz Fernando Sarmento




















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