sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Emoções de todo dia - uma vida incomum como qualquer um 26

    





uma vida incomum como qualquer um 26

Emoções de todo dia

Ativo a memória. Há alguns anos... À tarde, Jun e o filho, Mitsuhito, chegam alguns minutos depois das três. Apresento superficialmente as câmeras gravadoras e lá vamos de táxi em direção à casa de atendimento comunitário aos pés do Turano, no Rio Comprido.

Mitsu prepara sua câmera fotográfica, Jun a dvcam, eu a também pequena hdv. Converso com duas estudantes de psicologia. E com nossa anfitriã, que todo dia ativa a casa. Chegam algumas senhoras moradoras da comunidade... Depois Alex e Sandra, responsáveis neste dia pela Terapia Comunitária. Somos em torno de dez pessoas.

Entre os problemas, a votação maior definiu o escolhido. Uma senhora, em lágrimas, relata seu sofrimento com as vidas de seus dois filhos. Um, na ilegalidade, foi morto pela polícia. O mais novo, preso por motivos semelhantes, não retornou à prisão quando foi liberado para visitar sua família. Permanece ilegal. Enquanto preso, a mãe, mesmo passando constrangimento, o visitava o tanto permitido. Ela sofre também por não ser reconhecida e valorizada pelo filho vivo.

Ao final, como tenho vivido em sessões de terapia comunitária, os abraços, olhares e conversas traduzem os sentimentos, a solidariedade. A mãe sofredora se declara confortada, mais animada. Vamos em paz.

No dia seguinte. Na minha formação, uma vez por mês participo de uma intervisão, sábado inteiro. Pela manhã, muitas vezes, um convidado fala sobre algo novo para nós.

Anteontem conheci um tanto de Equipe Reflexiva, uma ideia e prática original de Thomas Andersen. Do que entendi, enquanto uma família é atendida por um terapeuta, outros terapeutas observam em silêncio e refletem. Os dois grupos trocam de posições, se a família deseja. Os que observavam falam entre si das suas percepções, enquanto a família agora lhes presta atenção. Finalmente os membros da família fazem seus comentários. É um processo reflexivo.

À tarde, roda de terapia comunitária. Alguém apresenta sua dificuldade quanto à presença de público nas rodas que realiza. Outra fala da sua dificuldade no relacionamento com a filha adolescente. Esta última foi o tema escolhido, houve um  maior número de pessoas que, por se identificarem com ele, nele votaram.

A mãe detalha, responde a perguntas, se emociona. Fala da sensação de perda do amor materno, da vontade de matar, intercala choro e desabafo.

Depois, em silêncio, escuta experiências compartilhadas por uma ou outra mãe presentes. Duas filhas contam, sob outro ângulo, o que viveram de semelhante. Por duas vezes, dor de barriga, a mãe na berlinda vai ao banheiro. O corpo fala. Volta, escuta, compreende um tanto, sorri entre lágrimas, se acalma. Na roda de despedida, músicas e o que levo daqui.

Olhares complementam as palavras. Os gestos expressam afetos. Mais próximos do que antes, nos despedimos com abraços.

O texto acima, escrevi por volta de 2008. Abaixo, como tenho sentido o mundo nestes novos tempos.

Pra ler no banheiro



* Beijo, como abraço, é bão. Ao mesmo tempo que dou, recebo, enlaço, refaço.

* Em mim um breu, se também eu fico refém de sentimentos, pensamentos, fazimentos que não são meus.

* Um interno conflito, hoje presente, verdade. Finito limitado ao infinito. Livre para o amor livre, preso à própria liberdade.

* Empatia contagia. A alegria ali me alegra aqui.

* Em cada ruga, uma história difusa. Em inocentes, marcas ausentes.

* A grade que me protege, a mesma que me aprisiona.

* Bobagem, bobeira. A massagem nasceu da coceira.

* Coisas do coração. Não sei dizer não, nem sei dizer sim. Sim não sei a mim. Não a quem pidão.

* Conflito ou paz. Qualquer um é responsável pelo que faz. Como aquele que manda, aquele que fofoca, o soldado que dá o tiro é também responsável pelo que o tiro provoca.

Luiz Fernando Sarmento








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