uma vida incomum como qualquer um 14
pronto
2017.
Tudo, ao
mesmo tempo, agora. Ô coisa boa, perder a hora quando namora. Por outro lado,
defino o que penso e sinto a cada escolha que faço, em cada botão que ligo, em
cada canal que fico. Pois é. Vida breve, escolhas leves: se pesadas, ô vida
errada.
E depois?
Pro futuro, planejo o que hoje desejo. Mas antes, bem antes, desde o feto, todo afeto, um
sucesso. Estive nove meses em meu quarto, crescendo sozinho. Luzes, o parto. Eu, novo,
zerinho.
E aprendo, sei: pra quem, desde criança, cria
necessidades, difícil pode ser a mudança quanto maior a idade. É que, quando pequenino, um tanto se
define o destino. Também, por isto, tão bão, sem pressa nem pressão.
E vivam as carícias.
Se trisca fica. Se toca, rola. Se pica, delícia. A idade? Estado de espírito.
Anos antes.
Insight. O mundo muda quando cai a ficha. Quando o que compreendo me toca
emocionalmente, minha vida ganha novo sentido. Mudaram meus desejos atuais
quando me toquei que muitas das minhas necessidades recentes de poder – e
dinheiro e objetos – estavam relacionadas a afetos que desejei e não tive na
minha infância. Tenho me sentido melhor quando hoje procuro suprir diretamente os
afetos que hoje desejo.
Primeiro, aprendi do que vi, ouvi, tateei, cheirei, botei na boca e senti. Desde
criança transformei-me no que me foi apresentado como modelo. Estou
fundamentalmente impregnado de informações que, no correr da vida, recebi tanto
da escola, igreja, família quanto dos meios de comunicações e dos que estão ao
meu redor.
Eu mesmo colaboro
para a manutenção da moral atual, quando nos atos e encontros de toda hora
transmito meus preconceitos aos meus filhos, amigos, vizinhos, colegas de
trabalho.
Enfim: o homem que
sou hoje é fruto do que antes senti, aprendi. O homem que serei amanhã deverá
ser fruto do que hoje aprendo e sinto. O que percebi em mim, percebo em outros.
Maputo, 1981, foi quando isto ficou claro pra mim. Desde então faz parte de
minha visão de mundo.
Livre pensar, levitação de tempo e espaço. Ausência de nada, presença
de tudo. Pulsação, inspiração, expiração. O fio invisível que me abre o fluxo.
Limbo. Eu, 65, de repente mudança de referências. Me desculpo, confundo, misturo
vida e trabalho, constante busca, antecipação – experimento, já, agora, o que
desejo pro futuro. Utilizo indicadores: tranquilo, bem humorado me sinto no
caminho certo. Se não, que realizo para novo equilíbrio? Algo clareia: aprender
a viver – tranquilo, humorado – com o que está ao meu alcance?
Ficção. A busca-em-ação, a buscação é descoberta, experimentação, sim e não. Olho
pra trás, domina a memória enevoada. Quando emergem lembranças, as felizes
sobressaem. Tudo muito variado, umas vezes assim, outra incorporado.
E eu, aqui,
em qualquer momento, impregnado de mim. Confuso e lúcido. Em conversa cifrada
comigo mesmo, num misto de coragem e medo. Meu universo pulsa, sou todo volume
e não sou, sou centro e partícula. Tudo ao mesmo tempo, agora. Juntos, a
prática de realizar: sonhar, lembrar, uma história, um plano passo a passo, o fazer
passo-a-passo, o me tornar o que me desejo ser.
Enquanto isto.
Tostão. De novo, quando leio, entendo do meu jeito. E arrisco. O jogador,
pensante, filosofa. Lembra da solidariedade e da impossível liberdade total sonhada
por Sócrates, o do Platão. A utopia como referência, alimentação do desejo.
Inalcançável. A lembrança de Tostão me anima, faz bem. Sonho, sem me limitar ao
possível.
Narciso. Olho no espelho e me surpreendo, tão jovem e com estas marcas... E é, sou
eu. Tão novo pra ser velho.
Luiz
Fernando Sarmento
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