uma vida incomum como
qualquer um
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programa
de tv
Compreendo bem este lamento. Também demoro um
tempo pra mudar meu próprio comportamento.
O que ofereço, o que procuro,
no que me toca neste mundo? Gentileza gera gentileza. E, quando não gera, é
que o outro inda não sabe da beleza.
Minha fortuna, meu infortúnio. Meu prisioneiro,
minha prisão. O que possuo me possui. Quem se conhece jamais se esquece.
Quando quero trazer a criança que sou pra perto de
mim, faço com a boca assim: brrruuummmm, brruuummmmm, brrruuurmmmm... Quando
quero trazer o adolescente que sou pra perto de mim, bamboleio os quadris,
fecho os olhos e beijo.
Escolha de todo dia, escolha de toda hora, alegria
em viver, agora. Irresponsabilidade, saber e não ser.
Por outro lado,
imagino um programa
de tv. No palco, tudo muito simples. Pessoas em roda, vieram pela
oportunidade de compartilhar questões de todo dia. Falar, ouvir, sempre a
partir do que cada um viveu.
As frases, é
combinado, são na primeira pessoa, começam com Eu. A metodologia pode
ser, por exemplo, a da Terapia Comunitária. Como ela, há outras maneiras de
facilitar expressões mais profundas e estimular solidariedades. Isto acontece
todo dia e nós temos acesso.
Imagino outro. Outro
ambiente. O mercado municipal, em dia de movimento, por exemplo. Um palhaço faz
a pergunta que deve ser respondida em um minuto pelo passante. O que você
pode fazer para melhorar suas relações com sua família, ao seu redor, com o
mundo?
Esta pergunta – e
outras, diretas – estimulam respostas relacionadas a experiências pessoais. O
espectador, na medida em que se identifique com o relatado, tenderá a também se
questionar. E quando cai a ficha... muda a visão de mundo... e o mundo muda.
Dois câmeras atentos
a si e ao outro. Os sentimentos inesperados que afloram devem ser suportados, focados,
gravados. Para que os espectadores tenham também possibilidades de se
identificar com estes sentimentos. E, ao perceberem que não são só seus,
solidarizar-se com os que sentem. Nascem vínculos entre quem vê e sente e quem
originalmente vive e sente.
Toda semana, os
câmeras gravam, os espectadores interagem sentimentalmente. Ambos, além dos protagonistas,
podem se desenvolver a partir da consciência do que sentem, do que são.
E quando caem as
fichas – quando cada um se compreende um tanto, emocionalmente – espaços se
abrem para o entendimento de causas de comportamentos atuais. E, no tornar-se
consciente – a perda da inocência –, possibilidades de transformações.
Nenhuma velocidade
estonteante, são outras as sensações. O caminho é emocionante, pra quem se
permite, atento, sentir. Ao fim de cada encontro, cada um carrega consigo o que
sentiu, vivenciou. E, no cotidiano, sua memória emocional o acompanha, estimula
a consciência dos seus sentimentos, pensamentos, palavras, atos.
Programas de tv,
inteligentes emocionalmente, podem ser realizados. Dependem, um tanto, da boa
vontade daqueles que sonham, criam, produzem, veiculam. E de quem se movimenta
e estimula.
Pra
ler no banheiro
*
Um tanto de minha vida a me
desvencilhar deste inferno, deste falso fogo eterno.
*
Viver bem, meu fio, este o desafio.
* Pois
é! O amor, a fé, isto que não se explica, inexplicável fica.
*
Governa tão bem, que deseja e
facilita a todos se governem também. Antes
de governar a outros, governa a si e bem.
*
Certeza tenho agora: de nada tenho
certeza, nem memória.
*
Bondade: o mais importante é a boa vontade.
*
Empatia, alegria contagia.
*
Ei moço! Aprendo mais com o que sinto que com
o que ouço.
*
A idade avança, renasce minha criança.
Luiz
Fernando Sarmento
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